De Carlos a Carlo: CBF não ficava refém de uma ideia desde a força-tarefa para ter Parreira em 2003

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O presidente da CBF quer delegar a prancheta da Seleção Brasileira a um técnico estrangeiro. O preferido declarado por Ednaldo Rodrigues é o italiano Carlo Ancelotti. A novela para tê-lo se arrasta. Começa a ficar desgastante e perigosa. Lembra uma ideia fixa na cabeça de Ricardo Teixeira. Em 2002, Luiz Felipe Scolari deixou o cargo depois da festa do penta no Castelão, em Fortaleza. O mandatário cismou que o sucessor deveria ser Carlos Alberto Parreira. À época, o treinador do tetra havia conquistado a Copa do Brasil contra o Brasiliense e decidido o título do Campeonato Brasileiro pelo Corinthians no duelo com o Santos de Émerson Leão. Parreira era muito querido pela Fiel.

A Seleção ficou sem técnico de agosto a dezembro de 2002. Felipão ainda comandou o Brasil no jogo das faixas contra o Paraguai. Na Data Fifa seguinte, Mário Jorge Lobo Zagallo escalou a Seleção interinamente em um amistoso festivo com a Coreia do Sul. Paralelamente, Ricardo Teixeira ganhava tempo para agir nos bastidores e traçar uma estratégia capaz de convencer Parreira. Qualquer semelhança com o presente…

A CBF estava refém de uma ideia. O treinador seria Parreira ou Parreira. A tática foi usar Zagallo e outros membros da comissão técnica do tetra para bombardear o então comandante do Corinthians de telefonemas. Sensibilizado pelo Velho Lobo, por Américo Faria e Moraci Sant’anna, ele finalmente cedeu e trocou a zona de conforto no Timão pelo estresse da prancheta verde-amarela.

Da saída oficial de Felipão, em 21 de agosto de 2002, ao anúncio da volta de Carlos Alberto Parreira, em 8 de janeiro de 2003, passarem-se 140 dias de espera pela contratação do novo técnico. Obcecado por Carlo Ancelotti, Ednaldo Rodrigues acumula 110 dias de espera, indecisão a contar da eliminação nos pênaltis contra a Croácia nas quartas de final da Copa do Catar. Tite reafirmou  depois do jogo, na sala de conferência do Estádio da Educação, que o ciclo dele acabava ali. Na verdade, reiterou o que havia anunciado em entrevista ao colega Marcelo Barreto, em fevereiro do ano passado, no Redação SporTV.

O respeito da CBF ao contrato de Carlo Ancelotti com o Real Madrid é louvável, porém nada impede a entidade de interagir com o presidente Florentino Pérez e avisá-lo cordialmente que o Brasil gostaria de sondar o italiano. Aliás, o cartola do Real Madrid não é referência em protocolos e burocracias. Em 2018, arrancou o técnico Julen Lopetegui da concentração da Espanha na véspera do início da Copa da Rússia e o contratou para assumir o Real Madrid. À época, a reviravolta abalou o mundo da bola.

Ao contrário de Florentino Pérez, Ednaldo tenta ser minimamente correto. Respeitoso. Mas a corda esticou demais. A CBF ou o emissário da entidade precisa saber se Carlo Ancelotti aceita negociar ou não — e em quais condições. Se ele travar ou fraquejar, é preciso fazer a fila andar urgentemente. O Brasil não tem projeto. Perdeu tempo precioso nesta Data Fifa. Os dias de treinos em Tânger antes da derrota para Marrocos deixaram evidente que os jogadores entraram no clima de Ancelotti. Esperam por ele nos amistosos do meio do ano — os últimos antes do início das Eliminatórias para Copa de 2026.

A obsessão de Ricardo Teixeira pela volta de Carlos Alberto Parreira depois do penta deu certo graças a uma operação de guerra. Ele conseguiu o que desejava apelando ao lado emocional, recorrendo a Zagallo, Américo Faria, Moraci e outros. Ednaldo Rodrigues aparenta usar ex-jogadores dos técnicos pretendidos por ele como iscas. Ednaldo repetirá o xeque-mate de Teixeira e realizará o sonho de consumo de tirar Carlo Ancelotti do Real Madrid? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…

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Marcos Paulo Lima

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