Catar não dá ponto sem nó: cerimônia de abertura avisa que o país quer os Jogos Olímpicos

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Foi disparada a melhor cerimônia de abertura de Copa do Mundo neste século. A primeira edição do torneio no Oriente Médio deixou Japão e Coreia do Sul (2002), Alemanha (2006), África do Sul (2010), Brasil (2014) e Rússia (2018) por baixo. É óbvio, jorra dinheiro no Catar. Por isso mesmo, o país aproveitou o evento da Fifa e o holofote dos 211 países filiados à entidade máxima do futebol para mandar um recado claro ao Comitê Olímpico Internacional (COI): ao transformar o principal torneio de futebol em uma espécie de Disney, com todos as 32 seleções no mesmo lugar ao mesmo tempo se exibindo para os torcedores em um raio de 70km, o anfitrião manifesta o deseja de receber, em breve, uma edição dos Jogos Olímpicos de Verão.

O investimento foi pesado. A presença do ator estadunidense Morgan Freeman consolidou o tom cinematográfico solicitado pelo Catar. A retirada do fundo do baú das mascotes e dos temas de edições passadas comoveu até mesmo corações de pedra no estádio. A canção Waka Waka, da colombiana Shakira, arrancou suspiros. Memórias do Mundial de 2010, na África do Sul, quando o romance dela com o zagueiro Piqué era um mar de rosas.

A cerimônia de abertura saiu melhor do que a encomenda porque foi contratada do profissional certo. A Itália não se classificou para a Copa do Mundo pela segunda edição consecutiva, mas foi muito bem representada pelo diretor da cerimônia, Marco Balich, proprietário da Balich Wonder Studio. O primeiro evento do empreendedor foi simplesmente um concerto da banda Pink Floyd, em 1989. O espetáculo arrancou lágrimas da mãe dele.

Quando digo que o Catar cobiça os Jogos Olímpicos, Balich fortalece este argumento. Ele tem trabalhado em eventos do COI. Produziu aberturas das versões de verão e inverno. Um dos truques da equipe dele é imersão na cultura local. O espetáculo no Al Bayt Stadium, uma arena erguida no meio do deserto de Al Khor, conciliou modernidade e singeleza ao falar do Catar.

“A exigência mental, emocional e cultural foi muito grande. É a primeira vez que um Mundial de futebol tem uma cerimônia de abertura de verdade. Até então, havia um cantor, bandeiras e pronto. Dessa vez será como a dos Jogos Olímpicos”, prometeu na véspera aqui em Doha.

Balich traduziu exatamente o que desejava o Comitê Supremo da Copa do Mundo. A narração do conteúdo explicou o que o Catar propõe ao mundo: passou a ideia de um país que pretende ser um elo entre o Oriente e o Ocidente. Um tanto contraditório levando-se em conta as polêmicas humanitárias anteriores ao início da competição e as leis do país.

“As críticas são justas, mas é uma oportunidade para que o Catar olhe para o futuro. Desejam mostrar ao mundo que o país é uma plataforma de paz entre Oriente e Ocidente. O futebol une ricos e pobres. Essa é a ideia durante os 30 minutos de cerimônia”, disse Balich.

Saudado pelo público de 60 mil pessoas, a mascote La’eeb abriu alas para o discurso do Emir do Catar, Tamin bin Hamad Al Thani, uma espécie de combate aos ataques feitos ao país. “Recebemos a todos de braços abertos na Copa do Mundo 2022. Nós trabalhamos e fizemos mutos esforços para garantir o sucesso desta edição. Investimos para o bem de toda a humanidade. Durante 28 dias, vamos acompanhar essa festa de futebol nesse espaço de diálogo e civilização. As pessoas, por mais que sejam de culturas, nacionalidades e orientações diferentes, vão se reunir aqui no Catar. Que beleza juntar essas diferenças todas. Desejo a todas as seleções muito sucesso. Para todos vocês meus desejos de felicidades. Bem-vindos a Doha”.

A Copa começou. Divirta-se.

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Marcos Paulo Lima

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