São Paulo — Há várias razões para a indiferença da torcida no relacionamento com a Seleção durante a vitória desta sexta-feira por 3 x 0 sobre a Bolívia na abertura da Copa América. Vou focar em uma delas: a falta de identificação com os jogadores convocados por Tite.
Pela primeira vez desde 2007, a Seleção debutou na Copa América com 11 jogadores empregados na Europa: Alisson (Liverpool); Daniel Alves (PSG), Marquinhos (PSG), Thiago Silva (PSG) e Filipe Luís (Atlético de Madrid); Casemiro (Real Madrid), Fernandinho (Manchester City) e Philippe Coutinho (Barcelona); David Neres (Ajax), Roberto Firmino (Liverpool) e Richarlison (Everton).
O silêncio foi “ensurdecedor” no momento em que o locutor do Morumbi divulgada a escalação. Parecia que a plateia estava sendo apresentada aos torcedores naquele instante. Gritos e aplausos somente para os jogadores com passagem por um dos três grandes de São Paulo, casos de Marquinhos, Casemiro e David Neres. E para os reservas Cássio, Fagner e Gabriel Jesus.
Na última Copa América em casa foi bem diferente. O time escolhido para começar a partida contra a Venezuela em 1989, em Salvador, tinha seis jogadores em atividade no Brasil: Taffarel (Internacional), Mauro Galvão (Botafogo), André Cruz (Ponte Preta), Mazinho e Geovani (Vasco) e Bebeto (Flamengo). Os “gringos” da turma eram Ricardo Gomes (Benfica), Tita (Pescara), Valdo (Benfica), Branco (Porto) e Romário (PSV). Dos 22 convocados por Sebastião Lazaroni naquele ano, 13 atuavam no Brasil e nove no exterior. Eram outros tempos…
Estrear com 11 “estrangeiros” em Puerto Ordaz, na Venezuela, não causa danos. Foi assim na derrota por 2 x 0 para o México em 27 de junho de 2007. Dunga escalou o time com: Doni (Roma); Maicon (Internazionale), Alex Costa (PSV), Juan (Bayer Leverkusen) e Gilberto (Hertha Berlim); Gilberto Silva (Arsenal), Mineiro (Hertha Berlim), Elano (Shakhtar Donetsk) e Diego (Werder Bremen); Vágner Love (CSKA) e Robinho (Real Madrid).
Os jogadores que atuam no Brasil foram lembrados, valorizados por Mano Menezes na Copa América da Argentina. Em 3 de julho de 2011, Mano Menezes mandou a campo Paulo Henrique Ganso e Neymar, ambos do Santos. Elano (Santos), Fred (Fluminense) e Lucas Moura (São Paulo) entraram no segundo tempo, em La Plata.
Na escalação da estreia contra o Peru na Copa América 2015, no Chile, dois jogadores atuavam no Brasil: o goleiro Jefferson (Botafogo) e o volante Elias (Corinthians). Na edição centenária de 2016, nos Estados Unidos, também eram dois “brasileiros” em campo na estreia — Alisson (Internacional) e Elias (Corinthians). Lucas Lima e Gabriel Barbosa, ambos do Santos, entraram no decorrer da partida disputada no Rose Bowl, em Pasadena.
Por mais que seja possível pegar o controle remoto e assistir a qualquer campeonato internacional do mundo da bola, a identidade, a proximidade, o vínculo afetivo, emocional com o jogador que veste a camisa de um clube brasileiro resiste. O Morumbi mandou o recado. Cabe ao futebol brasileiro interpretá-lo. Dois gols da vitória sobre a Bolívia foram de Philippe Coutinho, do Barcelona. Mas Everton “Cebolinha”, do Grêmio, deixou o dele e lembrou que ainda há, sim, um pouquinho de talento em solo tupiniquim.
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