CBIFOT171120203092 Tabárez e Tite : uruguaio enfrentou o Brasil nove vezes e jamais venceu. Foto: Matilde Campodonico/AFP Tabárez e Tite : uruguaio enfrentou o Brasil nove vezes e jamais venceu. Foto: Matilde Campodonico/AFP

No cargo há 15 anos, técnico do Uruguai viu Brasil ter cinco nesse período e jamais venceu a Seleção

Publicado em Esporte

A Confederação Brasileira de Futebol recebeu elogios por manter o técnico Tite depois da eliminação nas quartas de final contra a Bélgica, mas quem merece aplausos de pé é a Associação Uruguaia de Futebol (AUF).

Oscar Washington Tabárez comanda a esquadra celeste, adversária do Brasil nesta quinta-feira, na Arena da Amazônia pelas Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022. Lá se vão 15 anos. Para se ter uma ideia, nesse período, a Seleção teve cinco treinadores: Dunga, Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari, Dunga novamente e Tite — o responsável por escalar o time, hoje, em Manaus. Acha muito? A Argentina está no oitavo técnico. A Itália, no sétimo!

A manutenção de Tabárez no cargo quebra teorias e preconceitos. Uma delas, a de que técnico vive de resultados. O Uruguai conquistou apenas um título sob a batuta dele: a Copa América de 2011, na Argentina. Superou o Paraguai na final e quebrou tabu de 16 anos. A última conquista havia sido em casa, na edição de 1995 do torneio continental. Em 2010, levou o país às semifinais da Copa da África do Sul. Caiu nas oitavas em 2014 contra a Colômbia e nas quartas em 2018 no duelo com a França.

Se treinador vive de resultado, o retrospecto contra o Brasil seria suficiente para ele ter sido demitido. Tabárez enfrentou a Seleção nove vezes somando a primeira e a segunda passagem pelo cargo e não venceu o arquirrival: sete derrotas e dois empates.

Dois resultados foram desmoralizantes, ou seja, dignos de demissão. Em 2007, perdeu por 4 x 0 para Dunga, no Estádio Centenário, em Montevidéu. Há quatro anos, tomou virada de 4 x 1 novamente em casa, em um confronto com Tite. Os dois duelos foram oficiais, pelas Eliminatórias da Copa. Ele também duelou com o Brasil na Copa América de 1989. Perdeu o título por 1 x 0, no Maracanã. Ou seja, o maestro uruguaio jamais derrotou a Seleção.

 

Óscar Tabárez contra o Brasil: primeira e segunda passagem

  • 16/06/1989 – Brasil 1 x 0 Uruguai (Copa América, Sebastião Lazaroni)
    10/07/2007 – Brasil 2 x 2 Uruguai (Copa América, Dunga)
    21/11/2007 – Brasil 2 x 1 Uruguai (Eliminatórias, Dunga)
    06/06/2009 – Uruguai 0 x 4 Brasil (Eliminatórias, Dunga)
    26/06/2013 – Brasil 2 x 1 Uruguai (Copa das Confederações, Luiz Felipe Scolari)
    25/03/2016 – Brasil 2 x 2 Uruguai (Eliminatórias, Dunga)
    24/03/2017 – Uruguai 1 x 4 Brasil (Eliminatórias, Tite)
    16/11/2018 – Brasil 1 x 0 Uruguai (Amistoso, Tite)
    17/11/2020 – Uruguai 0 x 2 Brasil (Eliminatórias, Tite)
  • Só não enfrentou Mano Menezes

 

Outro parâmetro estabelecido para a manutenção de um técnico é a idade. Tabárez tem 74. Nem por isso pode ser chamado de desatualizado. O Uruguai não é mais nem menos moderno do que, por exemplo, o Brasil de Tite, rival de hoje. É tão competitivo quanto. Por sinal, a seleção celeste terminou a Copa na frente da Seleção em 2018 — em quinto lugar.

Nem mesmo a doença fez a Associação Uruguaia de Futebol abrir mão de Óscar Washington Tabárez. O técnico sofre de uma enfermidade neurológica diagnosticada há dois anos. A síndrome de Guillain-Barré afeta os nervos periféricos dele. Mas isso não o impede de trabalhar. Comanda treinos e jogos apoiado em muletas.

Entre as seleções campeãs do mundo, somente a França tem o mesmo técnico há tanto tempo. Didider Deschamps assumiu em 2012. Completará 10 anos no cargo em 2022. Durante a caminhada, amargou o vice na Euro-2016 e a eliminação nas oitavas contra a Suíça na edição deste ano do torneio continental. Deu a volta por cima rapidamente ao conquistar a Liga das Nações no último domingo contra a Espanha.

Tite comanda a Seleção há cinco anos. Questionado por este jornalista se tem paciência para ficar mais 10 anos e chegar a 15, como o mestro Óscar Washington Tabárez, ou se a Copa do Qatar-2022 será o fim da missão, o gaúcho de Caxias do Sul desconversou e até filosofou. “Eu estou me lembrando de um poeta gaúcho. Ele falava que a grande caminhada é sempre olhar para o próximo passo. Tenho orgulho muito grande de estar como técnico da seleção hoje. E viver hoje. E fazer o melhor trabalho possível. Eu quero ter essa paz comigo mesmo. Então, é sempre ao próximo passo que eu vou estar atento”, respondeu ao blog na entrevista coletiva da última quarta-feira.

 

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