Brasil está aprendendo a se virar sem Neymar: essa é a boa notícia das vitórias sobre Venezuela e Uruguai

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É óbvio que Neymar tem lugar em qualquer time ou seleção do mundo, mas a coleção de lesões e problemas extracampo adverte que é preciso cada vez mais aprender a jogar sem o craque de 28 anos. O Paris Saint-Germain e o Brasil sofreram horrores para aprender a lição.

O futebol moderno dá menos moral para aquele jogador que carregava o time nas costas ao título. O Maradona (1986), Romário (1994) ou Ronaldo (2002) da vida. Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018) conquistaram a Copa do Mundo sem depender de um fora de série. Tinham times ajustados, futebol coletivo. O Bayern de Munique também deu esse recado ao faturar a Liga dos Campeões da Europa na temporada passada desbancando o Barcelona, de Lionel Messi, na semifinal; e o PSG, de Neymar e Mbappé, na decisão.

A Seleção sofreu a pior derrota da história ao jogar sem Neymar na semifinal da Copa de 2014. Penou na Copa América 2015, quando a Conmebol tirou o jogador do torneio na segunda rodada da fase de grupos. Deu vexame sem ele na edição centenária de 2016, nos Estados Unidos. Dunga até caiu. Tite suou frio com a possibilidade de não ter o camisa 10 na Copa da Rússia, em 2018. Forçou a barra e viu, em campo, um jogador aquém da reconhecida capacidade técnica.

O novo Brasil de Tite não arranca suspiros como no início do trabalho do treinador, em 2016, mas tem virtudes: uma delas é aprender a se virar sem Neymar. Ganhou a Copa América 2019 sem o único fora de série. Passou com estabilidade pela Venezuela, na sexta-feira passada, e derrotou o Uruguai nesta terça-feira, no Estádio Centenário, em Montevidéu.

Podemos discordar dos métodos e conceitos de um Tite mais pragmático depois do baque na derrota por 2 x 1 para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia. Porém, é preciso reconhecer que, finalmente, há uma ideia na cabeça para fazer a Seleção jogar sem Neymar. É menos brilhante, menos envolvente, com menos talento para quebrar linhas, mas começa a funcionar como time desde a Copa América do ano passado. Mais do que isso: alguns jogadores começam a dividir responsabilidade. São notáveis a evolução e o amadurecimento dos jovens.

Seleção Brasileira pós-Copa da Rússia

Com Neymar

  • 77% de aproveitamento
  • 13 jogos, 9 vitórias, 3 empates, 1 derrota

Sem Neymar

  • 77% de aproveitamento
  • 13 jogos, 9 vitórias, 3 empates, 1 derrota

Gosto, por exemplo, do ataque inglês formado por Gabriel Jesus (Manchester City), Roberto Firmino (Liverpool) e Richarlison (Everton). Impressiona a dedicação de Jesus para jogar pelo time. Ele é goleador, mas aderiu à ideia de atuar pelos lados, como deseja Tite. Volta e meia atua assim com Guardiola. Mesmo sacrificado, Jesus mostra atributos de atacante moderno. Tem facilidade para jogar na área, aberto na direita ou na esquerda.

A personalidade de Richarlison é animadora. É obcecado pelo gol, apaixonado pela Seleção e aplicadíssimo na recomposição defensiva. Houve um lance na vitória contra o Uruguai em que ele estava dando combate na defesa como se fosse um lateral-esquerdo, auxiliando Renan Lodi, que chegou tomando conta do pedaço para suceder Marcelo e Filipe Luís. Neymar não era tão comprometido em auxiliar Marcelo e/ou Filipe Luís na Copa da Rússia. Por sinal, a Bélgica abriu 2 x 0 no primeiro tempo investindo justamente nas costas de Neymar e Marcelo.

Ok, Neymar deu assistências contra a Bolívia, foi decisivo na virada contra o Peru ao fazer três gols, mas até ele precisa entender cada vez mais que faz parte de uma estrutura que está sendo montada para funcionar sem ele quando for necessário. A necessidade de recomposição obrigará o craque a jogar cada vez mais como camisa 10 – e menos aberto na ponta-esquerda.

A vida sem Neymar, e até mesmo Philippe Coutinho, outro intocável de Tite, abre disputas interessantes na Seleção. Richarlison ocupou o setor contra o Uruguai, porém, tem concorrentes de peso. Everton “Cebolinha”, por exemplo. Vinicius Junior, que sequer foi testado nesta data Fifa. Tite não descarta, por exemplo, a velocidade de Bruno Henrique. Éverton Ribeiro também criou um trevo na cabeça de Tite em relação ao lado direito. O setor ocupado por Gabriel Jesus pode ter Éverton “Cebolinha” ou, quem sabe, o jovem Rodrygo, que esteve com a Seleção Sub-23 nos jogos contra Coreia do Sul e Egito.

Sim, falta bater de frente com uma seleção europeia. Uma Espanha da vida, que humilhou a Alemanha por 6 x 0 nesta terça. França, para mim a melhor de todas no momento, Bélgica, Inglaterra, Portugal, Itália, Holanda. Enquanto a agenda das potências do Velho Continente não permite, Tite precisa se contentar em arrumar a casa por aqui mesmo, no nosso mundinho.

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Marcos Paulo Lima

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