Brasil 5 x 0 Bolívia: da gratidão de Tite ao sacrifício tático de Cebolinha na reinvenção da Seleção

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Sim, a Bolívia é frágil. Problema da Bolívia, não do Brasil. Até quem é forte precisa ter estratégia para comprovar o favoritismo na prática. A Seleção respeitou a seriedade da estreia nas Eliminatórias para a Copa 2022. Goleou por 5 x 0. Poderia ter sido de 10, mas isso pouco importa. Só faz diferença para efeitos de critério de desempate. O sistema de disputa é pontos corridos, mas, ao contrário do Brasileirão não vale troféu. O prêmio ao fim das 18 rodadas são quatro vagas diretas ao Mundial do Qatar. Portanto, pouco importa avançar em primeiro ou quarto. Vergonha, mesmo, é concluir a corrida em quinto e encarar repescagem.

O Brasil cumpriu o protocolo. Venceu e lidera. Discordo do argumento de que é impossível tirar conclusões desse jogo. Com um pouco de boa vontade, dá, sim. Uma delas diz respeito a uma palavrinha chave na era Tite: gratidão. O técnico costuma valorizar os jogadores comprometidos com suas ideias, aplicados aos conceitos dele. Isso é bonito. Gesto humano.

Tite continua mostrando gratidão ao chamar Everton Cebolinha — substituto de Neymar na conquista da Copa América 2019. Merecidíssimo. Mas, para mim, erra ao tentar achar espaço para ele a qualquer custo no time titular, ou seja, sacrificá-lo na extrema direita.

Cebolinha arrebentou no Grêmio e na Seleção atuando aberto pela esquerda. Contra a Bolívia, estava fora da zona de conforto ao jogar extrema direita. Não deu liga com Danilo. Tite acerta ao ser grato convocando Everton Cebolinha. Exagera na dose ao colocá-lo fora de posição. No fim das contas, a opção foi ruim para o jogador e prejudicial às ações ofensivas do time. Tanto que Cebolinha foi substituído no segundo tempo pelo atacante Rodrygo.

Você pode enxergar a escalação da Seleção em um 4-2-3-1 ou 4-3-3. A movimentação durante a partida, no entanto, é de 3-2-5: Weverton; Danilo, Marquinhos e Thiago Silva; Casemiro e Douglas Luiz; Everton Cebolinha, Philippe Coutinho, Neymar, Renan Lodi e Roberto Firmino. Movimentação constante passa a ser o trunfo entre as linhas dos adversários.

Posso estar enganado, mas Tite não pensa em Everton Cebolinha nem em Rodrygo nesta posição. Em tese, Gabriel Jesus jogará aberto pela direita. Ao que parece, Tite tem um plano: atacar com cinco jogadores: Jesus, Coutinho, Neymar, Firmino e mais um. Esse “mais um” pode ser o lateral-esquerdo Renan Lodi ou algum volante. Neste caso, Douglas Luiz. Esse plano é uma alternativa para superar, principalmente, as tradicionais retrancas sul-americanas.

Os sucessos do Flamengo de Jorge Jesus no ano passado e, agora, do Atlético-MG de Jorge Sampaoli, têm impacto na comissão técnica da Seleção. O torcedor não é bobo. Percebe que há algo diferente sendo protagonizado pelo português e o argentino em solo brasileiro. O estilo de Tite é diferente de Jesus em Sampaoli, mas há uma intersecção entre eles: a cobrança por intensidade, a gana por ter a bola, a necessidade de finalizar, sufocar, oprimir o adversário. Tite quis isso o tempo inteiro na goleada sobre a Bolívia, mas o Brasil abusou de errar gols.

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Marcos Paulo Lima

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