Dada Maravilha Dadá Maravilha foi o primeiro técnico a comandar um time do DF na Copa do Brasil Dadá Maravilha foi o primeiro técnico a comandar um time do DF na Copa do Brasil

Banguela convexa, carrossel côncavo e triunfo sobre o Corinthians: a passagem do tricampeão mundial Dadá Maravilha pelo futebol candango como técnico do Tiradentes

Publicado em Esporte

Protagonista da convocação mais polêmica de Mário Jorge Lobo Zagallo para a Copa do Mundo de 1970, no México, Dario José dos Santos, o Dadá Maravilha, é um dos tricampeões que aventurou-se na profissão de técnico depois da aposentadoria. Aos 43 anos, topou o desafio de comandar o extinto Tiradentes para ajudar a desenvolver o futebol do Distrito Federal e virou mais um caso folclórico na capital do país.

Dadá não tinha moral com João Saldanha. Ganhou espaço na gestão de Zagallo. O então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, teria sugerido a convocação do centroavante do Atlético-MG. Dadá não jogou um minuto sequer na Copa, para desespero dos mexicanos que assistiam aos jogos dos reservas no dia seguinte à partidas do “Dream Team”. “Nós (reservas) jogávamos contra aqueles times lá do México, eu fazia muitos gols, o povo ficava maravilhado e perguntava por que eu não era titular. Eu respondia que havia uma hierarquia, que no ataque jogavam simplesmente Pelé e Tostão. Tinha que respeitar”, lembra Dadá, em entrevista por telefone ao blog para recordar outro momento da carreira.

Em 1989, Dadá mudou-se para Brasília. Assumiu o Tiradentes. Morou num hotel e conseguiu uma proeza: derrotou o Corinthians na partida de volta das oitavas de final da Copa do Brasil. Na ida, o time candango em 1988 havia sido goleado por 5 x 0. No velho Mané Garrincha, superou o Timão graças ao gol de Beto Guarapari. O time paulista usou vários titulares, entre eles, Ronaldo, Wilson Mano, Marcelo Djian, Márcio, Neto e Viola.

 

 

Folclórico por natureza, Dadá tentou roubar a cena no jogo de ida com ideias revolucionárias. “Hoje, estou usando a banguela convexa porque estou jogando com o Corinthians, em São Paulo, mas, quando o Corinthians jogar em Brasília, vou usar o carrossel côncavo, totalmente ofensivo”, disse na véspera do confronto de ida, no Pacaembu. Para completar, fez trocadilho com o nome do treinador do Corinthians. “Vim para tocar fogo na palhinha”, ironizou.

Trinta e um anos depois, Dadá diverte-se com a situação. “Não aguentamos a pressão no primeiro jogo, mas aquilo ali foi uma loucura no jogo de volta, a gente ganhar do Corinthians. O time foi longe. Fiquei satisfeito porque o pessoal do Tiradentes era muito bacana e o povo de Brasília muito educado”, afirmou, emocionado com a lembrança.

 

“Não aguentamos a pressão no primeiro jogo, mas aquilo ali foi uma loucura no jogo de volta, a gente ganhar do Corinthians. O time foi longe. Fiquei satisfeito porque o pessoal do Tiradentes era muito bacana e o povo de Brasília muito educado”

Dadá Maravilha, em entrevista ao blog, sobre a vitória contra o Corinthians como técnico do Tiradentes

 

Sob o comando de Dadá, o Tiradentes havia eliminado o Atlético-GO na primeira fase usando os conceitos “malucos” do treinador. Venceu por 1 x 0 em Brasília na base do carrossel côncavo, e segurou 0 x 0 usando a banguela convexa, no Serra Dourada, em Goiânia. Se eliminasse o Corinthians, bateria de frente com o Flamengo nas quartas de final.

Aos 74 anos, Dadá Maravilha lembra poucas histórias da passagem pelo Tiradentes, mas lembrou os nomes de alguns jogadores da época, como o goleiro Deo de Carvalho, um dos heróis do triunfo histórico sobre o Corinthians. “O Dadá, na verdade, veio aqui para contar história. Nunca vi ter tanta história na vida”, ri Deo de Carvalho. “A gente havia sido campeão candango em 1988 com Jorge Medina e depois Ruben Delgado, que era um uruguaio. Em 1989, a diretoria fez o que sempre gostava, que era contratar técnico com nome no Brasil. Aí, veio o Dadá Maravilha”, lembra.

Deo de Carvalho lembra de outros dois esquemas malucos adotados por Dadá na derrota por 5 x 0 para o Corinthians. “No primeiro tempo ele disse que jogaríamos no sistema rala coco. Seguramos 0 x 0. No segundo, ele fez umas mudanças lá e disse que atuaríamos no estilo Mike Tyson (pugilista em alta na época)”, recorda. O Tiradentes sofreu cinco gols na etapa final.

 

“Ele (Dadá Maravilha) até jogou em alguns amistosos. Era técnico e jogador ao mesmo tempo. Entrou em campo contra o Uberlândia, Anápolis, Mineiros, Ele era uma figura com suas ideias revolucionárias”

Deo de Carvalho, goleiro titular de Dadá Maravilha no Tiradentes

 

O Tiradentes não conseguiu conquistar o bicampeonato candango, mas faturou com excursões pelo Centro-Oeste tendo Dadá Maravilha como atração. “Ele até jogou em alguns amistosos. Era técnico e jogador ao mesmo tempo. Entrou em campo contra o Uberlândia, Anápolis, Mineiros, Ele era uma figura com suas ideias revolucionárias”, recorda Deo.

 

Centroavante do Tiradentes à época, Moura certamente era o mais pressionado pelo décimo maior artilheiro da história do Brasileirão. Dadá foi o goleador do Nacional em 1971, 1972 e 1976. “Ele sempre nos treinamentos colocava algumas situações que eram até engraçadas, folclóricas, mas tinha muito conhecimento. Tinha alguma jogadas que ele mesmo ia para dentro do campo, pedia para a gente cruzar e mostrava o posicionamento.Tem uma frase que sempre guardei. Ele dizia, principalmente, para mim, que era atacante, que, quando eu entrasse da área, era para ficar tranquilo, porque quem precisava se preocupar era o zagueiro. Segundo ele, dentro da área, a constituição nos protege. Se tocar na gente é pênalti”, ri.

 

“Tem uma frase que sempre guardei. Ele dizia, principalmente, para mim, que era atacante, que, quando eu entrasse da área, era para ficar tranquilo, porque quem precisava se preocupar era o zagueiro. Segundo ele, dentro da área, a constituição nos protege. Se tocar na gente é pênalti”

Moura, centroavante do Tiradentes na passagem do técnico Dadá Maravilha pelo DF

 

Moura também aprimorou as finalizações de cabeça. “Queixo no ombro, queixo no peito, a virada para cabecear. Foram situações que marcaram muito. Ele ajudou na minha saída de Brasília. Ele foi o cara que me indicou para sair de Brasília quando estava próximo de encerrar a carreira para eu continuar trabalhando no próprio Tiradentes. Eu estava programado para trabalhar na polícia, mas aquela partida contra o Corinthians foi muito importante. Ficou marcado. Sou muito grato  por tudo que ele ensinou.

Neste domingo, Dadá Maravilha fará uma live na conta pessoal no Instagram (dadamaravilha926) para falar sobre os 50 anos do tricampeonato mundial. “Eu estou numa emoção muito grande pelo fato de o povo considerar essa Seleção a mais maravilhosa que já viram. Houve muito patriotismo. Nós saímos desacreditas e demos show. Cada jogador foi um maestro. Vou fazer uma live. Estou preparado para um bombardeio”, brincou.

 

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