O Brasil jamais teve um técnico campeão da Uefa Champions League, mas não falta vontade de aprender e, quem sabe, até de quebrar o tabu mais à frente. Figura discreta, o estudioso ex-zagueiro Cláudio Caçapa, de 44 anos, é um dos três auxiliares do treinador Rudi Garcia no Lyon. Do banco, ele ajudou o time francês a eliminar o Manchester City nas quartas de final da Champions League. O desafio desta quarta vai muito além: superar o favorito Bayern de Munique nas semifinais e avançar e decidir o título contra o arquirrival Paris Saint-Germain, no domingo.
Há uma curiosidade no retrospecto de Cláudio Caçapa contra o clube alemão. Quando esteve em campo com a camisa do Lyon, o brasileiro jamais perdeu para o Bayern de Munique. Foi assim na vitória por 3 x 0 no Stade de Gerland na segunda fase de grupos da temporada de 2000/2001. Na edição de 2003/2004, o Lyon derrotou o time bávaro no Olímpico, em Munique.
Mais do que análises táticas, Cláudio Caçapa tem muita história pra contar, no mínimo aos brasileiros do elenco do Lyon: Rafael, Marçal, Thiago Mendes, Jean Lucas, Bruno Guimarães e, principalmente, o zagueiro Marcelo, precisam ouvir os relatos de superação de Caçapa no Lyon.
Cláudio Caçapa colecionou 11 títulos pelo Lyon. Sete deles no Campeonato Francês. Marcou época no clube. Há cinco anos, assumiu o papel de assistente. Começou nas divisões de base e aprendeu com três técnicos diferentes no time principal: os franceses Bruno Genésio, Sylvinho e Rudi Garcia. Nesse período, tirou as licenças B, A e Pró na Uefa para, em breve, seguir carreira solo. A preferência dele é por começar no Lyon, mas ele não descarta outras possibilidades.
11 títulos conquistou Cláudio Caçapa com a camisa do Lyon. O mineirinho de Lavras começou no Atlético-MG e teve passagem por Cruzeiro, Newcastle e Seleção Brasileira. É assistente técnico do clube francês há cinco anos
O assistente é muito querido pelo presidente Jean-Michel Aulas. É subordinado ao amigo e diretor esportivo Juninho Pernambucano. Tem mostrado competência. Ajudou Rudi Garcia a entender por que Pep Guardiola espelhou o sistema tático do Lyon (3-5-2) nas quartas de final. Em vez de adotar o 4-3-3 ou 4-2-3-1 como de costume, o catalão configurou o Manchester City com três zagueiros. Guardiola cometeu gravíssimo erro de avaliação e perdeu a partida por um motivo simples: o Lyon não improvisa o formato 3-5-2. É ensaiado. Simplesmente o domina.
No Lyon, Cláudio Caçapa aprendeu a organizar o time taticamente de trás pra frente. Era o responsável por instruir os zagueiros. Mais à frente, passou a trabalhar a linha defensiva até os volantes. Desde a chegada de Rudi Garcia, passou a ter liberdade para compartilhar com o técnico principal sua visão de jogo e até apontar os erros e acertos do Lyon nas partidas.
A semifinal contra o Bayern de Munique é mais complexa do que a hipotética final contra o arquirrival PSG. A comissão técnica do Lyon considera a trupe de Hans-Dieter Flick completa e capaz de causar desconforto a qualquer grande time do mundo. Além de estudar a máquina alemã e de jogar bola, o Lyon terá que torcer para que o adversário não esteja em um bom dia.
Operário do Lyon, Cláudio Caçapa participa de um processo de reconstrução impressionante. Depois da era vitoriosa na passagem dos brasileiros Cris, Juninho Pernambucano, Edmílson, Fred e outros pelo clube, o presidente Jean-Michel Aulas interrompeu a fase de investimentos no time para realizar o sonho de construir o Parc Olympique Lyonnais, a casa própria do Lyon.
Paralelamente, o time feminino do Lyon ganhava força. Elas são hexacampeãs da Uefa Women’s Champions League. Empilharam títulos em 2011, 2012, 2016, 2017, 2018 e 2019. Sem contar os vices em 2010 e 2013, 14 títulos da liga nacional e 9 Copas da França. O desempenho das mulheres do Lyon é a inspiração para que os homens consigam ir além da histórica semifinal de 2010 e finalmente cheguem à primeira final da Champions League em 70 anos de história.
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