O campo fala. As coletivas também. Muito! Era questão de observação. As recentes entrevistas pós-jogo de Adenor Leonardo Bachi, o Tite, eram indicativos de que a diretoria rubro-negra começava a soltar a mão do treinador, da comissão técnica e caminhava rumo ao fim da relação consumada às 7h32 desta segunda-feira. A presença dos diretores ao microfone depois dos jogos blindava Tite de questões administravas e o deixavam focado apenas no time rubro-negro. O combinado, que às vezes sai caro, era esse.
Os executivos assumiam as broncas contra a arbitragem, o calendário e até mesmo ataques mais firmes à CBF. De repente, Marcos Braz, Bruno Spindel e Luiz Carlos Azevedo saíram de cena nas entrevistas coletivas. Passaram a atuar discretamente nos bastidores, inclusive com algumas romarias à sede da entidade máxima do futebol brasileiro com o presidente Rodolfo Landim. O blog apurou que uma delas aconteceu no último dia 18, um dia depois de Landim criticar a comissão técnica da Seleção Brasileira pela lesão de Pedro em entrevista à TNT Sports. Foi a última vez que a alguém deu a cara a tapa na tentativa de amenizar a má fase de Tite e do time.
A cúpula estava cansada de se expor e não ter bons resultados em contrapartida. Sentia-se desgastada nas idas e vindas às entrevistas coletivas antes ou depois das sabatinas da imprensa ao técnico Tite. Consequentemente, eles foram saindo de cena. Tite passou a falar sozinho e aumentou consideravelmente o desgaste à própria imagem.
Ninguém apareceu sequer para bancar ou não o treinador em três episódios agudos da crise, como a eliminação diante do Peñarol nas quartas de final da Libertadores, a goleada por 4 x 1 contra o Botafogo no estádio Nilton Santos e o empate com o Vasco por 1 x 1, quando Tite demorou mais de uma hora para dirigir-se à sala de conferências do Maracanã.
A prova final de que a diretoria rubro-negra não caminhava mais de mãos dadas com Tite foi entregar a cabeça do técnico ao coliseu rubro-negro na vitória dramática contra o Athletico-PR. Em vez de assumir publicamente o fim da relação, a cúpula delegou à torcida. O treinador foi xingado várias vezes no Maracanã. Inclusive no apito final, quando Tite cumprimenta Lucho González, sai rapidamente em direção ao vestiário e dá duas declarações definitivas na entrevista coletiva: afirma que Matheus Cunha seria o goleiro contra o Corinthians na Copa do Brasil e diz: “Talvez, eu não seja o técnico dos sonhos”.
A declaração expôs um Tite fragilizado emocionalmente e assustou a diretoria. Não havia, por exemplo, a energia e o brilho nos olhos de Abel Ferreira depois das eliminações do Palmeiras para dar a volta por cima e recolocar o Flamengo nos trilhos. Tite sente a dor da perda de duas Copas do Mundo em seis anos de trabalho. Esperava curar as feridas empilhando títulos no clube mais popular do país. O sarrafo deixado por Jorge Jesus, Rogério Ceni e Dorival Júnior era elevado. Ele sai com apenas um título: o Campeonato Carioca. Menos que os três. A eliminação na Libertadores abalou o treinador. As comparações do lance do gol de empate da Croácia contra o Brasil no Catar com o de Philippe Coutinho no Clássico dos Milhões começaram a tirá-lo do eixo e a miná-lo. O trauma foi tocado com força depois daquele jogo. Além do terapeuta particular, o Flamengo era o divã da retomada profissional da carreira do treinador de 63 anos.
A demissão de Tite em nota distribuída à imprensa às 7h32 lembra a informação da queda de Rogério Ceni em outro horário aleatório e mais absurdo, às 2h46 depois de sofrer uma goleada por 4 x 0 contra o Atlético-MG, no Mineirão. O processo é o mesmo da demissão de Paulo Sousa. O português cumpriu aviso prévio contra o Red Bull Bragantino antes da queda. Vítor Pereira e Jorge Sampaoli também em finais contra o Fluminense no Campeonato Carioca e o São Paulo na decisão da Copa do Brasil. Houve um modus operandi em seis anos de mandato.
Filipe Luís herda a prancheta numa fria. Não deveria ter aceitado a missão, principalmente por não ter feito parte da comissão técnica de Tite. Embora tenha levado o time ao título do Mundial de Clubes Sub-20, Filipe Luís é um bom aprendiz. A diretoria rubro-negra o escolhe com base em algumas manias do passado. Uma delas é o acaso. Assim Jorge Jesus deu certo. Assim Rogério Ceni conquistou títulos. Assim Dorival Júnior salvou uma temporada. Não houve planejamento em nenhum desses casos, apenas métodos de tentativa e erro.
O outro mantra é de que jogador recém-aposentado dá certo. Paulo César Carpegiani assumiu a prancheta depois de Modesto Bría e Dino Sani não darem certo após a morte de Cláudio Coutinho. Recém-aposentado, Carpegiani assumiu o elenco e levou o time do qual havia feito parte no primeiro título brasileiro em 1980 à glória no Mundial contra o Liverpool. Foi assim também com o ídolo Júnior na temporada de 1993 depois da saída de Evaristo de Macedo. Carlinhos, Andrade, Jayme de Almeida, Rogério Lourenço e outros tantos seguiram o script.
A três meses do fim, a era Landim teve a última oportunidade de quebrar um tabu: o Flamengo não termina um ano como mesmo técnico desde 2011. Sim, amigos, há 13 anos. Vanderlei Luxemburgo iniciou e terminou aquela temporada aos trancos e barrancos. Tite não conseguiu sequer completar um ano no cargo, o que aconteceria em 16 de outubro. A pergunta que não quer calar é: Filipe Luís se comportará como amigo ou técnico do elenco do qual fez parte até dezembro de do ano passado?
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