Um dado tem chamado a minha atenção na retomada do Flamengo ao futebol no Campeonato Carioca: o time rubro-negro (ainda) não mandou a campo nenhum jogador formado na base nos cinco jogos disputados em meio à pandemia contra Bangu, Boavista, Volta Redonda e nos dois duelos com o Fluminense pela Taça Rio e o início da decisão do estadual.
O técnico Jorge Jesus fez 23 substituições nesses jogos. Nenhum deles forjado no Ninho do Urubu. Estão liberadas cinco alterações. O último prata da casa a entrar em campo foi Lincoln na virada sobre a Portuguesa, por 2 x 1. O centroavante sequer estava no banco no domingo. Com a expulsão de Gabigol, provavelmente entrará na lista amanhã. O goleiro César, o lateral Matheuzinho e o atacante Lucas Silva eram as opções da base entre os suplentes rubro-negros.
O dado assusta por um motivo simples: a competição mais indicada para dar milhagens a jovens talentos é o estadual. O Flamengo até apostou nisso por acaso ao iniciar o Carioca com o elenco sub-20. Como o plantel principal estava em férias por ter jogado a final do Mundial de Clubes contra o Liverpool em 21 de dezembro do ano passado, o clube abriu mão de disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, e Maurício Souza comandou uma equipe formada por garotos contra Macaé, Vasco, Volta Redonda e Fluminense na Taça Guanabara.
O primeiro jogo da final do Campeonato Carioca no último domingo foi simbólica. Dos três gols da partida na vitória do Flamengo por 2 x 1 sobre o Fluminense, dois foram marcados por meninos de Xerém. Cria tricolor, o centroavante Pedro abriu o placar para a trupe rubro-negra. Evanílson igualou para o time de Laranjeiras. Pedro também salvou o Flamengo da derrota no tempo normal da decisão da Taça Rio ao usar a cabeça para empatar o clássico de quarta-feira.
Jorge Jesus colocou em campo 18 jogadores desde a volta do Carioca. Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Pereira, Filipe Luís, Willian Arão, Éverton Ribeiro, De Arrascaeta, Gerson, Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, Thiago Maia, Diego, Michael, Vitinho, Pedro Rocha, Pedro e Gustavo Henrique. Nenhum deles é formado pelo Flamengo.
Embora o Flamengo tenha colocado na vitrine e negociado recentemente crias como Lucas Paquetá, Vinicius Junior, Reinier, Léo Duarte e Felipe Vizeu, as escalações dos dois clássicos anteriores mostram políticas diferentes de Jorge Jesus e Odair Hellmann na decisão do Carioca.
Com um elenco badalado e experiente, o português se dá ao luxo de abrir mão dos “craques que o Flamengo faz em casa”. Hellmann não tem escolha. Usa as armas que tem. Quatro meninos de Xerém entraram em campo nos últimos dois clássicos: Marcos Paulo, Evanílson, Miguel e Digão foram utilizados pelo treinador. Ao menos no que diz respeito a confiança nos meninos da base, o Fluminense vai goleando o Flamengo.
Talvez, Jesus não tenha encontrado (ainda) no Ninho o sucessor de Reinier. Ele gosta de Lincoln. Mas o xodó foi cornetado recentemente por uma língua ferina da diretoria. Imagina se ele entra em campo amanhã e decide o título, como naquele triunfo importantíssimo contra o Botafogo no Brasileirão do ano passado. Afinal, futebol tem dessas coisas. Ainda mais em final…
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