Ele foi capitão de Fred no time sub-20 do América-MG. Ao contrário do centroavante do Fluminense, teve de pendurar as chuteiras cedo, aos 27 anos, por causa de uma hérnia de disco. Mineiro de Juiz de Fora, decidiu virar técnico de futebol. Depois de passar por Tupi, Anápolis-GO, Caldense-MG e Villa Nova-MG, Felipe Surian faz sucesso no Campeonato Carioca. É o técnico mais jovem do Estadual e ocupa a vice-liderança da Taça Guanabara à frente do Volta Redonda. O time da Cidade do Aço só está atrás do Vasco, de Jorginho.
Na primeira fase do Carioca, Felipe Surian derrotou o Fluminense e vendeu caro a derrota para o Vasco. No último sábado, mergulhou o Flamengo na crise ao derrotar os comandos de Muricy Ramalho por 1 x 0 no Estádio Raulino de Oliveira. A seguir, o técnico do Volta Redonda conta o segredo do sucesso em um bate-papo com o blog.
MPL – Você é o técnico mais jovem do Campeonato Carioca Carioca com 34 anos. Por que a carreira de zagueiro acabou tão cedo?
Felipe Surian – Com 27 anos, eu tive um problema na coluna, eu tive hérnia de disco e isso me prejudicou um pouco e decidi encerrar a minha carreira como atleta.
MPL – Você chegou a jogar com o Fred no América-MG. Fala um pouco dessa amizade e por que vocês trilharam caminhos opostos…
Felipe Surian – Eu já estava no América-MG quando o Fred chegou. Eu era até o capitão do sub-20 na época. Jogamos juntos. Eu até tive uma participação boa na primeira contratação dele. Nós temos uma diferença de dois anos e depois trilhamos caminhos diferentes. Mas a amizade sempre continua, a gente sempre mantém contato. Graças a Deus ele teve essa ascensão, chegou onde chegou. É um cara humilde, preservou a sua raiz. Nunca deixou a família e os amigos.
MPL – Fred deve estar bravo com você. O Thiago Amaral tomou a artilharia dele. Me fala um pouco mais sobre esse goleador do Voltaço e do Carioca…
Felipe Surian – É um atleta experiente, muito dedicado, concentrado nas suas ações. Nos trabalhos, ele sempre está querendo fazer o algo a mais e se encaixou dentro do esquema que eu gosto de trabalhar. Ele tem aproveitado bem as chances que aparecem e hoje é o artilheiro. Que continue assim até o fim da Taça Guanabara.
MPL – O técnico português André Villas-Boas, do Zenit, começou na carreira de técnico tão cedo quanto você. Ele é uma das suas inspirações? Quem são as suas referências?
Felipe Surian – O futebol mundial está dando uma renovada, vem surgindo uma nova safra de treinadores não só no Brasil como no exterior. Você colocou bem, o André Villas-Boas começou bem, está ocupando o seu espaço e ainda tem muito chão a trilhar também. As minhas influências são de treinadores com esse perfil. Gosto muito de estudar os adversários, gosto de transições rápidas, da potencialização do atleta para que ele renda, hoje, mais do que rendeu ontem. E amanhã, mais do que hoje. Não tenho uma referência específica, sigo vários treinadores e vou adequando cada estilo dentro da minha filosofia.
MPL – Por que o Volta Redonda é vice-líder. Qual é o segredo do sucesso?
Felipe Surian – Isso se deve à inteligência dos atletas. Em três meses de trabalho, eles entenderam a minha filosofia, o meu projeto de jogo. Isso é mérito totalmente deles. Além disso, estamos fazendo um trabalho sério, competente e com a união de todos.
MPL – O que as passagens por Tupi, Anápolis, Caldense e Villa Nova te ensinaram antes de chegar ao Volta Redonda?
Felipe Surian – Em cada lugar eu aprendi uma determinada situação. São pessoas diferentes, atletas diferentes, competições diferentes, situações diferentes que nos ensinam a superar as barreiras, as dificuldades.
MPL – O Volta Redonda derrotou Fluminense e Flamengo neste Carioca, deu trabalho ao Vasco e agora terá pela frente o Botafogo. Qual é a fórmula do sucesso contra os grandes?
Felipe Surian – Eu gosto de analisar bem os adversários e traçar uma estratégia. Às vezes, pode dar certo, às vezes pode dar errado, faz parte do jogo, mas, no caso dos três deu certo. Vencemos o Flamengo e o Fluminense e perdemos injustamente para o Vasco. Nós fizemos um bom jogo. Isso mostra que nós podemos chegar em um lugar grande dentro dessa competição.
MPL – Qual foi o trunfo do Volta Redonda especificamente na vitória sobre o Flamengo?
Felipe Surian – Eu havia observado os últimos quatro jogos do Flamengo. Eles estavam fazendo jogos intensos e a única maneira de vencê-los era a minha equipe exibir um jogo taticamente perfeito, com marcação forte, e tentar surpreendê-los no segundo tempo. Por isso, eu segurei dois atletas mais rápidos para os últimos 25 minutos e conseguimos, numa jogada desses dois atletas, fazer o gol da vitória. Um deles era titular até o jogo anterior ao do Flamengo. Muitos não entenderam, ele também não, mas esse foi o nosso triunfo naquele jogo.
MPL – O Volta Redonda é vice-líder da Taça Guanabara. Dá para repetir o título de 2005 na GB de 2016 e ir além do vice no estadual daquele ano?
Felipe Surian – Ainda faltam quatro jogos, mas nós estamos buscando chegar na semifinal, na final, e até ao título. Todo profissional quer ser lembrado por onde passa e isso não é diferente comigo.
MPL – Você tem no elenco caras experientes como o Vinicius Pacheco e o Lopes. Qual é o papel deles nessa boa campanha do time?
Felipe Surian – São meias de armação, até um pouco com as mesmas características. O Lopes é um pouco mais forte do que o Vinícius Pacheco, mas as características são as mesmas. Eles fazem o jogo fluir, a transição entre o meio de campo e o ataque com infiltrações no meio da defesa adversária… A experiência deles vale muito para os meninos da base do Volta Redonda que estão jogando.
MPL – O Volta Redonda disponibiliza, desde 2015, a ferramenta de coaching esportivo. Até que ponto isso tem contribuído com a boa campanha do Volta Redonda?
Felipe Surian – Essa é mais uma ferramenta que o clube disponibiliza, que ajuda bem. A gente consegue detectar alguns pontos que poderiam passar despercebidos, mas é mais uma ferramenta. Todos têm a sua importância, desde a cozinheira, a lavadeira, roupeiro, o pessoal da fisioterapia, enfim, todos têm a mesma responsabilidade. Se hoje o clube está na vice-liderança é um mérito de todos, não só meu, não só da diretoria, dos atletas, ou de uma função específica. É uma ferramenta importante, mas todos têm contribuído.
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