Virar desvantagem de 2 x 0 contra o Independiente del Valle na altitude de Quito nesta quarta-feira pelas semifinais da Copa Sul-Americana é só mais uma desafio para quem sofreu pressão até na curta passagem pela Sociedade Esportiva do Gama. O badalado técnico do Corinthians ainda era o zagueiro Fábio Luiz quando desembarcou no Distrito Federal com a missão de ajudar o então campeão candango a evitar o rebaixamento para a Série C do Brasileirão.
Aniversariante desta quinta-feira, Fábio Luiz Carille de Araújo tinha 29 anos quanto pisou no gramado do velho Bezerrão, no Gama, para enfrentar o Vila Nova-GO pela 18ª rodada da segundona. Tempos difíceis para o alviverde. Meses depois de conquistar o Candangão com uma goleada por 4 x 1 sobre o arquirrival Brasiliense, o alviverde amargava a vice-lanterna na competição nacional. Eram 24 clubes. Vigésimo terceiro, o time comandado pelo técnico Roberval Davino só era melhor do que o União São João-SP.
Dirigente do Gama à época, Carlos Macedo lembra da negociação para realizar o sonho de consumo de Roberval Davino. “Foi um pedido do treinador. Ele conhecia o Fábio do interior de São Paulo e de outros clubes. Peguei o Roberval em frente ao Zoológico, fomos almoçar em um restaurante chamado Retiro do Pescador e decidimos contratá-lo”, recorda em entrevista ao blog.
“Foi o primeiro atleta que me aconselhou a manter o perfil de jogador que eu era, que eu chegaria à Seleção Brasileira. Ele me chamou no canto e falou assim: ‘Emerson, continue assim que você é Seleção Brasileira”
Emerson, zagueiro do Gama
Em 19 de agosto de 2003, o Gama entrou em campo com cinco desfalques. Um deles na zaga. O beque Nen, um dos ídolos do time à época, cumpria suspensão. O reserva Fábio Luiz foi o escolhido para formar dupla com Emerson, uma das maiores revelações do clube. Com um jogador a menos depois da expulsão de Wesley, o Gama arrancou empate dramático por 2 x 2.
Parceiros de Fábio Luiz — que ainda não usava Carille no nome de guerra — lembram da passagem do jogador pelo Gama. “Ele era muito experiente, calmo e observador”, conta ao blog o zagueiro Emerson, companheiro de zaga do treinador do Corinthians contra o Vila Nova.
Escalação alviverde com Carille em campo*
18/8/2003 – Gama 2 x 2 Vila Nova-GO (Bezerrão)
Bruno;
Wesley, Emerson, Fábio Luiz e Rodriguinho;
Daniel, Leandro Leite (Fábio Costa), Kleber e Lindomar;
Léo Guerra (Abimael) e Anderson (Luciano Fonseca)
Técnico: Roberval Davino
Emerson lembra que Fábio Luiz foi profético na passagem pelo Gama. “Foi o primeiro atleta que me aconselhou a manter o perfil de jogador que eu era, que eu chegaria à Seleção Brasileira. Ele me chamou no canto e falou assim: ‘Emerson, continue assim que você é Seleção Brasileira”, revela. Mano Menezes convocou Emerson em 2011 para o Superclássico das Américas contra a Argentina, em Belém.
Rodriguinho atuou improvisado na lateral esquerda no empate por 2 x 2 com o Vila Nova. Virou até amigo de Fábio Carille. “Poxa, lembro demais. Fábio sempre foi uma pessoa comedida, tranquilo e acima de tudo, um grande profissional. Na época, ele era um dos mais experientes do grupo. Tivemos a oportunidade de aprender bastante com ele”, testemunha.
“Fábio sempre foi uma pessoa comedida, tranquila e acima de tudo, um grande profissional. Na época, ele era um dos mais experientes do grupo. Tivemos a oportunidade de aprender bastante com ele”
Rodriguinho Lopes, ex-jogador do Gama, atualmente supervisor de futebol do Brasiliense
Questionado pelo blog se Fábio Luiz já tinha perfil para virar Fábio Carille, Rodriguinho respondeu: “Sinceramente, não lembro se ele tinha o jeito de treinador, até porque foi em 2003 a passagem dele aqui no Gama, porém, sempre teve uma postura profissional exemplar”. Fábio Carille e Rodriguinho se encontraram rapidamente no aeroporto depois da vitória do Fluminense sobre o Corinthians no Mané Garrincha, em 15 de setembro.
A passagem de Fábio Luiz pelo Gama foi rápida. O momento financeiro do clube era delicado. O perrengue financeiro e era grande e culminou com o rebaixamento para a Série C um anos depois da queda da primeira divisão. O clube vinha de quatro anos na elite de 1999 a 2002. Atual campeão do DF, o Gama está na quarta divisão. O ex-zagueiro Fábio Luiz, que virou técnico Fábio Carille, pendurou a chuteira e é um dos profissionais mais prestigiados do país.
Fontes: Márcio Almeida, historiador do Gama, e Cedoc do Correio Braziliense
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