Técnico italiano, camisa azul, calção branco e sistema de jogo parecido com o da Squadra Azzurra na campanha do vice na Copa do Mundo de 1994. Essa foi a primeira impressão do Brasil de Carlo Ancelotti, ontem, contra o Equador, no Estádio Monumental, em Guayaquil.
Os mais velhos vão lembrar. Arrigo Sacchi era o técnico da Itália. Tinha justamente Ancelotti como um dos assistentes. O sistema de jogo utilizado à época era pragmático: 4-4-2. Chamo a atenção para o meio de campo italiano à época. Berti jogava aberto na meia direita, Donadoni fazia a meia esquerda. Um par de volantes formado por Dino Baggio e Albertini protegia a defesa composta por Mussi, Baresi, Maldini e Benarrivo.
A Itália formava bloco defensivo de oito jogadores à espera do erro do adversário para acionar o fora de série Roberto Baggio e o parceiro de ataque dele, Massaro. O Brasil de Parreira, à época, também jogava assim. Dunga e Mauro Silva eram os cães de guarda. Mazinho ocupava a meia direita e Zinho cumpria a mesma função na esquerda. Não havia um pensador no meio de campo das duas seleções. A carência deixava o jogo enfadonho.
Era o futebol daquela época, não desta. O meio de campo do Brasil contra o Equador se comportou como aqueles finalistas da Copa de 1994. Casemiro e Bruno Guimarães blindavam o quarteto defensivo formado por Vanderson, Marquinhos, Alexandro e Alex Sandro. Estêvão completava a linha como meia direita e Gerson fazia o mesmo na esquerda. Emulavam Donadoni e Berti da Itália. Zinho e Mazinho do Brasil.
O bloco de oito defensores protegeu bem a defesa. O Brasil não sofreu gol pela primeira vez em cinco jogos. O recuo especulava uma bola para acionar Vinicius Junior. Na Itália de Sacchi, procurava-se Roberto Baggio. Em alguns momentos, até Richarlison colaborava com o meio de campo. Vini era o único sem esse compromisso. Raramente voltava para reforçar o cerco ao Equador.
O resultado foi um Brasil paupérrimo na criação e sem confiança nas pouquíssimas oportunidades. Gerson poderia ter chutado e escolheu servir Vini. Estêvão correu com a bola dominado e não partiu para dentro como no Palmeiras. Vini finalizou em cima do goleiro. Richarlison furou depois de um passe do camisa 10. Casemiro chutou fraquinho.
Quem esperava uma Seleção brilhante no início da Era Ancelotti viu pragmatismo, o resgate de um modelo retrô de jogar futebol. Era difícil penetrar na defesa das duas seleções. Por isso, em 1994, Brasil e Itália fizeram uma final de Copa lenta, fria, do início ao fim. Os pênaltis aceleraram os batimentos cardíacos depois de 120 minutos de 0 x 0. Ancelotti assumiu um Brasil vazado 16 vezes nas Eliminatórias. A quinta pior defesa! A ordem era não tomar gol, e se possível balançar a rede do Equador, dono da melhor retaguarda da competição com cinco gols sofridos.
Fiel ao modelo do início ao fim, o Brasil fez uma apresentação ofensiva pálida, mostrou consistência defensiva com boas atuações de Casemiro e Alexandro, e deve agradecer pelas ausências de Valencia e Plata em Guayaquil. Se os atacantes estivessem em campo, a defesa verde-amarela poderia ter sofrido gol. É preciso melhorar até terça-feira, sob pena de Carlo Ancelotti ser apresentado às vaias em São Paulo.
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