A operação da Polícia Federal deflagrada na quarta-feira (27) no Rio, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e no Distrito Federal, que apura produção de informações falsas e ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF), deixa pelo menos quatro clubes de futebol do país com uma pulga atrás da orelha em meio às perdas financeiras causadas pela pandemia do novo coronavírus.
Um dos alvos do inquérito das ‘fake news’ é o empresário catarinense Luciano Hang. O dono da loja de departamentos Havan foi apontado neste ano o sétimo homem mais rico do Brasil segundo levantamento da revista Forbes. A fortuna dele é estimada em US$ 3,6 bilhões. O senhor de 57 anos nascido em Brusque (SC) tem planos ousados nas indústrias do futebol e de esportes eletrônicos por meio de um dos braços da firma.
A matriz da Havan fica em Brusque (SC), terra natal de Luciano Hang. A firma tem presença em 16 estados e no Distrito Federal, e contratos vigentes com dois clubes da Série A do Campeonato Brasileiro – Athletico-PR e Vasco. A empresa também é exibida nas camisas do Brusque e do Futebol Clube Cascavel. Até pouco tempo, investia na Chapecoense. Porém, o acordo para a renovação não prosperou neste ano após o rebaixamento para a Série B. Havia previsão de um aditivo em março, mas o clube anunciou o fim da parceria de três anos.
Apoiador de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, Luciano Hang viu a Havan ganhar mais exposição do que esperava graças a duas conquistas de título. O Athletico-PR faturou a Copa Sul-Americana em 2018 contra o Junior Barranquilla da Colômbia. No ano passado, venceu a Copa do Brasil superando o Internacional, no Beira-Rio.
Há retorno em parcerias com times do interior. Pupilo de Hang, o Brusque-SC arrematou a Série D do Campeonato Brasileiro 2019 superando o Manaus na final. A recompensa é disputar a terceira divisão nesta temporada com pompa de um dos favoritos ao acesso.
A evolução do FC Cascavel-PR também chama a atenção. O time foi campeão da Série C do Campeonato Paranaense em 2013, da B em 2014, e tinha a segunda melhor campanha da primeira fase do estadual deste ano antes da paralisação. Deixou Paraná e Coritiba para trás e só ficou atrás do Athletico-PR. O Cascavel enfrentará o Rio Branco nas quartas de final.
O Brusque é o xodó da Havan. O sonho do mecenas Luciano Hang é igualar os feitos de outros times de Santa Catarina que alcançaram a Série A do Brasileirão. As inspirações são Avaí, Figueirense, Criciúma, Joinville e a Chapecoense, campeã da Copa Sul-Americana em 2016. Há quem diga que a presença de quatro clubes catarinenses na Série A do Brasileirão em 2015 (Avaí, Figueirense, Chapecoense e Joinville) deixou Hang com inveja. Levar o Brusque ao topo entrou para a lista dos sonhos.
Uma das promessas do mecenas é a construção de uma arena moderna para o Brusque com capacidade para 15 mil pessoas e custo de R$ 15 milhões. O empresário também faz lobby pela aprovação do projeto clube-empresa em trâmite no Congresso Nacional. O plano é assumir o controle do Brusque com o apoio do atual presidente, Danilo Rezini, e transformá-lo em Brusque S/A.
“Claro que ele é polêmico, mas sempre tem definições muito claras, sempre defendendo o trabalho e o progresso do nosso país. O Brusque Futebol Clube está com Luciano e sempre esteve. É um dos nossos grandes patrocinadores. A existência do Brusque, os resultados, as conquistas têm uma participação muito forte e efetiva do apoio incondicional das lojas Havan. Temos que aceitar que (a operação) faz parte do jogo, mas ele sairá mais fortalecido”
Danilo Rezini, presidente do Brusque, em entrevista ao blog
Em entrevista ao blog, o presidente do Brusque minimizou a ação da Polícia Federal e não manifestou preocupação com os efeitos colaterais do inquérito das ‘fake news’ na honra e nas contas do clube. “Nos causou uma grande surpresa. Nós conhecemos o Luciano Hang, esse empresário bem-sucedido, íntegro, com trabalho voltado para a comunidade. Aqui em Brusque, ele é reverenciado por todos pelo trabalho e seriedade na questão do esporte, saúde, educação, cultura, entretenimento. A empresa tem uma participação forte como apoio (ao clube)”, disse Danilo Rezini.
Para o dirigente, o escândalo não estremece as relações do Brusque com o mecenas. “Temos a convicção de que certamente ele conseguirá demonstrar que não houve nada disso de que estão lhe acusando. Estamos tranquilos, mas a gente fica triste por um lado porque vê mexer com a honra de um empresário desse calibre. Claro que ele é polêmico, mas sempre tem definições muito claras, sempre defendendo o trabalho e o progresso do país. O Brusque Futebol Clube está com Luciano e sempre esteve. É um dos nossos grandes patrocinadores. A existência do Brusque, os resultados, as conquistas têm uma participação muito forte e efetiva do apoio incondicional das lojas Havan. Temos que aceitar que (a operação) faz parte do jogo, mas ele sairá mais fortalecido”, diz Rezini.
Um dos planos de Luciano Hang é a construção de um estádio para o Brusque com direito a naming rights. “É a Arena Havan. O clube já tem o terreno de 85 mil metros quadrados, onde serão construídos a arena e centros de treinamento. Existe o projeto feito pelos engenheiros e arquitetos da própria Havan, e está em espera por causa da pandemia e da situação econômica do país. Deve retardar um pouco”, pondera o presidente.
A apresentação anual do elenco do Brusque costuma ser na matriz da firma com a presença de Luciano Hang. Além de trânsito livre no clube, o empresário tem fama na cidade de 135 mil habitantes e no estado de Santa Catarina de oferecer boas premiações aos jogadores em partidas importantes. Em 2017, por exemplo, o Brusque quase eliminou o Corinthians de Fábio Carille da Copa do Brasil. Segurou 0 x 0 no tempo normal e perdeu nos pênaltis.
R$ 15 milhões, valor que Luciano Hang pretende investir na construção de um estádio para o Brusque. “É a Arena Havan. O clube já tem o terreno de 85 mil metros quadrados, onde serão construídos a arena e centros de treinamento. Existe o projeto feito pelos engenheiros e arquitetos da própria Havan e está em espera por causa da pandemia e da situação econômica do país. Deve retardar um pouco”, diz o presidente do Brusque Danilo Rezini
O dinheiro de Hang também move os sonhos do Futebol Clube Cascavel. O time fundado em 2008 segue evoluindo no Paraná. Arrematou os títulos da terceira e da segunda divisão estadual, e é um dos favoritos ao título estadual em 2020. Avançou ao mata-mata com a segunda melhor campanha geral. Superou camisas pesadas como as de Coritiba e Paraná.
O presidente do FC Cascavel, Valdinei Oliveira, é firme ao comentar o inquérito das ‘fake news’. “Nós temos o Luciano Hang, aqui (em Cascavel), como grande líder empresarial, à frente do seu tempo. Conheço há mais de 15 anos. Desenvolveu violentamente o comércio, trouxe desenvolvimento para o interior do Paraná. Ele gera mais de 22 mil empregos diretos. O FC Cascavel tem orgulho de usar a marca Havan. Trabalhamos fortemente para manter esse patrocínio. O posicionamento que ele tem à direita é muito bem visto pela nossa diretoria e a nossa torcida. Aqui, no Sul do Brasil, nós somos pessoas que dão grande valor ao trabalho, afeto pelo ser humano, a valorização da família… O Luciano defende isso ardentemente”, defende o dirigente ao blog.
Questionado se ação da Polícia Federal deixou o clube constrangido, Valdinei Oliveira argumentou: “Eu entendo que isso aí (investigações) é da democracia. Se alguém se achar prejudicado pode procurar seus direitos, mas nós (do Cascavel) entendemos que o Luciano é um grande líder empresarial, um grande líder da direita, e nós temos orgulho de usar a marca dele. Sei o que ele trabalha e representa para o empreendedorismo brasileiro”, reforçou.
“O FC Cascavel tem orgulho de usar a marca Havan. Trabalhamos fortemente para manter esse patrocínio. O posicionamento que ele tem à direita é muito bem visto pela nossa diretoria e a nossa torcida. Aqui no Sul do Brasil nós somos pessoas que damos grande valor ao trabalho, afeto pelo ser humano, a valorização da família, e o Luciano defende isso ardentemente”
Valdinei Oliveira, presidente do FC Cascavel, em entrevista ao blog
A Chapecoense estava próxima da renovação com a Havan. A parceria havia sido iniciada em março de 2017, quatro meses depois do acidente aéreo em Medellín. No entanto, o negócio desandou antes da pandemia abalar no Brasil. O novo acordo seria assinado em março deste ano, mas houve reviravolta.
“A assinatura da renovação aconteceria em Brusque, no dia 16 de março, mas, com o início das paralisações e determinação de quarentena por conta da pandemia da covid-19, foi cancelado. Ainda assim, as conversas foram mantidas e a Chapecoense não mediu esforços a fim de cumprir com todas as exigências e determinações — entre as quais, a entrega do contrato até o dia pré-determinado. Apesar disso, a Havan não procedeu com a assinatura”, explicou a Chapecoense em nota oficial publicada no início deste mês.
O blog entrou em contato com outros dois clubes patrocinados pela Havan. A assessoria do Athletico-PR — time que deu mais exposição à marca com as conquistas da Sul-Americana (2018) e da Copa do Brasil (2019) — respondeu pela assessoria de imprensa que não vai se manifestar neste momento.
Contatado pelo blog, o presidente do Vasco, Alexandre Campello, não se manifestou sobre o impacto da operação da Polícia Federal na parceria. O acerto com a Havan revoltou parte da torcida do clube carioca no início do ano. Em dezembro, a sede náutica do clube amanheceu pichada com palavrão em meio às negociações. A empresa paga pelas mangas da camisa do Vasco. Este texto continua aberto a manifestação do presidente Campello e será atualizado em caso de resposta.
A marca de Luciano Hang também investe em esportes eletrônicos. A Havan Liberty Gaming é um braço da empresa focado no League of Legends (LoL) e futebol virtual (FIFA). A empresa é comandada pelos filhos e familiares de Luciano Hang.
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