O Palmeiras é tricampeão da Libertadores porque foi superior no campo das ideias. O Flamengo tem melhor elenco, mas Renato Gaúcho mostrou, mais uma vez, que não sabe manipulá-lo. Abel Ferreira não conta com elenco tão sortido tecnicamente, porém, é estudioso. Obcecado por aprender. Portaluppi prefere a praia e velhos conceitos de boleiro. Os times do português não arrancam suspiros, mas ele sabe planejar jogos grandes minuciosamente. Foi assim ao eliminar São Paulo, Atlético-MG e desfigurar o adversário rubro-negro neste sábado na vitória por 2 x 1 no Estádio Centenário, em Montevidéu.
O atual campeão quebra um tabu enorme. É, merecidamente, o primeiro bi em anos consecutivos desde o Boca Juniors de 2000 e 2001. Entramos definitivamente na era dos técnicos portugueses na Libertadores. Depois de Jorge Jesus em 2019, Abel Ferreira é o primeiro não sul-americano bicampeão do torneio. Para se ter uma ideia do tamanho do feito dele, o último a atingir essa façanha foi o recordista argentino aposentado Carlos Biachi, também em 2000 e 2001 pelo Boca.
Em março, Abel Ferreira revelou depois de uma goleada por 4 x 0 contra o arquirrival Corinthians no Paulistão ter comprado o livro El Pizarrón de Gallardo: así armó un River ganador. Em português, A lousa de Gallardo: assim montou um River vencedor. “Quando fomos jogar contra o River Plate, nós compramos (o livro), eu e a equipe técnica, para ler do início ao fim, para não faltar nada. E eu aprendia enquanto estudava. Posso dizer que no jogo contra o Corinthians em casa, utilizei um movimento, não vou dizer em que setor foi, que vi no livro do Gallardo. Falei: ‘nossa, isso faz sentido na minha cabeça, grande ideia”, revelou em entrevista ao SporTV.
“Gostei, vi e logo encaixei na nossa equipe. Os jogadores fizeram sem saber, ou melhor, sem saber de onde vinha a ideia. Eram movimentos muito simples que abriram espaço, e foi o que eles (River Plate) fizeram com a gente em casa (no Allianz Parque)”, completou o treinador.
Marcelo Gallardo perdeu o título de 2019 para o Flamengo, de Jorge Jesus. Abel Ferreira deve ter aprendido com os erros e acertos e foi além. Pode até ser coincidência, mas a construção do primeiro gol do Palmeiras no título lembra demais a artimanha de Marcelo Gallardo no lance do único gol do River Plate na decisão de dois anos atrás contra o próprio Flamengo.
Naquele jogo, o argentino Nacho Fernández, posicionado na esquerda em cima de Filipe Luis, rolou a bola para trás, houve um corta-luz, trapalhada da defesa, e encontrou o colombiano Borré chegando de frente para fuzilar Diego Alves com uma finalização no contrapé do goleiro do Flamengo (assista ao vídeo abaixo).
A trama do gol de Raphael Veiga é um pouco semelhante. A diferença é que a bola chegou mais limpa. Mayke, o escolhido para substituir o suspenso Marcos Rocha, avança pela esquerda e rola para o excelente meia invadir a área sozinho para finalizar de pé esquerdo e dar início a uma sessão do descarrego no Centenário. O Palmeiras havia perdido dois títulos no templo sagrado uruguaio. Foi vice do Peñarol e do Estudiantes de La Plata na arena. Dessa vez, sai de lá com o tricampeonato rumo a São Paulo.
Abel Ferreira cumpriu contra Renato Gaúcho o que Marcelo Gallardo quase conseguiu no duelo tático com Jorge Jesus em 2019: desfigurou o Flamengo. O time passou a funcionar mais na base da individualidade do que do jogo coletivo. Gabriel Barbosa empatou a partida no segundo tempo porque tem estrela e viu o regular Weverton cometer erro raro. É carrasco do Palmeiras. Seis gols contra o rival alviverde desde que desembarcou no Ninho do Urubu para vestir vermelho e preto.
Nesta semana da final, conversei com Zico. O Galinho encerrou a entrevista alertando que a desatenção havia decidido as últimas duas finais em jogo único. Dito e feito. O River Plate tomou a virada do Flamengo em três minutos na final de 2019. Aproveitou falha grosseira do zagueiro Javier Pinola e Gabigol virou vestiu capa de herói no Monumental, em Lima, no Peru. A confusão de Cuca no banco do Santos, no Maracanã, em janeiro, também tirou o foco do Santos antes de Breno Lopes entrar para a história do Palmeiras.
Pois uma falha individual gravíssima presenteou o time paulista com o título. Emprestado pelo Manchester United, Andreas Pereira virou herói ao encerrar o jejum de gols de falta do Flamengo e vilão ao perder a passada e entregar a bola nos pés do iluminado centroavante Deyverson. Diego Alves quase corrigiu a lambança ao tocar nela, mas era tarde demais.
O Palmeiras irá aos Emirados Árabes em busca do inédito título do Mundial de Clubes da Fifa. Junta-se a Chelsea (Inglaterra), Al Hilal (Arábia Saudita), Al Ahly (Egito), Monterrey (México), Auckland City (Nova Zelândia) e Al Jazira (Emirados Árabes Unidos).
Dois anos depois de ganhar Carioca, Brasileirão e Libertadores no mesmo ano sob o comando de Jorge Jesus, o Flamengo mergulha na crise. Encerrará a temporada com dois míseros títulos: o Carioca e a Supercopa do Brasil nos pênaltis contra o próprio Palmeiras. O discurso de Renato Gaúcho na coletiva era de adeus. Desembarcará no Rio demitido e a equipe, para variar, deve ser comandada por Maurício Souza nas últimas quatro partidas do Brasileirão. A ver.
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