O Campeonato Brasileiro não terminou, óbvio, mas a virada do Internacional contra o Grêmio por 2 x 1, no Beira-Rio, combinada com empates e derrotas dos concorrentes — São Paulo, Flamengo, Atlético-MG e Palmeiras não venceram na 32ª rodada — é trailer do titulo para o clube que está na fila desde 1979. Tem noção? O último título foi conquistado sob a batuta de Ênio Andrade. Invicto, por sinal. Faz 41 anos. Quando o craque Falcão jogava. Tempo demais!
Mas por que o Inter é o favorito do momento no Brasileirão do perde e ganha?
Abel Braga lidera porque entendeu que a temporada atual é atípica. A maratona desta edição deveria, mas lamentavelmente não demanda futebol bonito, excelência como a do Flamengo de 2019 para ser campeão. Isso tem sido praticamente impossível no mundo inteiro em meio ao pânico causado pela pandemia inclusive na vida dos atletas. Ao topar a missão de suceder Eduardo Coudet, Abel percebeu que a competição favorece muito o estilo de sempre. Básico.
Assumiu o elenco obrigado a reinventar um time com escassez de recursos, mas sem obrigação de reinventar a roda, ou seja, sem obrigação emular Eduardo Coudet. Abel notou algo mais: a necessidade de regularidade. E lá vai o Internacional com oito vitórias consecutivas. Uma delas por 5 x 1 contra o São Paulo. Dez jogos de invencibilidade. Não perde desde a 22ª rodada. O Fluminense fez 2 x 1, no Beira-Rio. Enquanto os concorrentes complicavam, ele simplificava. Não sou fã do modo Abel. Porém, é preciso admitir que Brasileirão da pandemia, com baixo nível técnico e calendário maluco, indicou aos poucos que esse seria assim.
Quem quebrou a cabeça para jogar bonito — não há nada de errado nisso — ficou para trás nesta edição. Fernando Diniz está no São Paulo há 16 meses. A ideia de jogo dele funcionou em triunfos gigantes sobre Flamengo (4 x 1) e Atlético-MG (3 x 0), mas mostrou-se frágil para segurar vantagem que chegou a ser de sete pontos na liderança do Brasileirão.
O Flamengo ficou com a ideia fixa na cabeça de que precisava encontrar alguém capaz de dar continuidade ao trabalho de Jorge Jesus. Domènec Torrent não entregou a encomenda. Muito menos Rogério Ceni. Está claro que, ao menos temporada, nenhum técnico conseguirá. Ancorado ao passado, o atual campeão brasileiro é o time que mais desperdiçou oportunidades de assumir a liderança. Refugou sempre que dependeu de si. Dome e Ceni assumiram o melhor elenco do país e mais complicaram do que simplificaram.
O Atlético-MG consegue contrariar aquela tese de que um time concentrado apenas no Brasileirão tem tudo para conquistá-lo. Com Rafael Dudamel, o Galo caiu precocemente na Copa do Brasil e na Sul-Americana. Jorge Sampaoli assumiu com a tarefa de encerrar a campanha no Campeonato Mineiro e concentrar-se apenas na Série A. Foi atendido em praticamente todos os pedidos de reforços feitos à diretoria e não agarrou a liderança.
Quinto colocado, o Palmeiras também tem elenco para brigar pelo título. Abel Ferreira achou que daria para abraçar o mundo. É finalista da Copa do Brasil e da Libertadores. Porém, a derrota para o Flamengo, em Brasília, recolocou os pés do clube paulista no chão.
Derrotado no Gre-Nal, Renato Gaúcho comete erro grave faz tempo. Ostenta o trabalho mais longevo entre os técnicos da Série A, mas tem uma preguiça incurável de disputar campeonato por pontos corridos. Assumiu o time no fim de 2016. De lá para cá, teve elenco e mostrou futebol para conquistar o Campeonato Brasileiro e encerrar o jejum do Rio Grande do Sul na Série A. O Estado não ganha o Brasileirão desde 1996. Com o próprio Grêmio. Porém, Renato priorizou as copas e escalou diversas vezes times mistos, alternativos, de desenvolvimento.
Abel Braga pode ganhar em três meses o que Renato Gaúcho não quis nesta gestão no Grêmio. A melhor colocação tricolor com ele nesta passagem pelo clube é o quarto lugar em 2017, 2018 e 2019. Ele já fez mais com o próprio Grêmio. Em 2013, herdou o time de Vanderlei Luxemburgo na sexta rodada e levou ao vice, atrás apenas do campeão Cruzeiro.
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