A Seleção Sub-17 de Dalla Dea tem influência das melhores versões do Brasil de Tite? Comparamos

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Um dos grandes debates nos clubes e nas seleções de ponta é a necessidade de padronização tática dos times — das categorias de base ao profissional. É uma espécie de identidade visual. Cultura estabelecida. Algo como o Barcelona do tiki-taka dos tempos de Pep Guardiola. Ou da Holanda, apegada ao 4-3-3, com pontas velozes e dribladores. Em ambos os casos, legado da era Johan Cruyff.

Antes do início do Mundial Sub-17, o treinador Guilherme Dalla Dea disse que se inspiraria em Tite na campanha da Seleção pelo tetra. Assisti à vitória desta terça-feira sobre a Nova Zelândia in loco, no Bezerrão, na tentativa de detectar alguma pitadinha de Tite no tempero adolescente que venceu a Nova Zelândia por 3 x 0, avançou às oitavas de final e decidirá o primeiro lugar do grupo contra Angola na sexta-feira, no Estádio Olímpico, em Goiânia.

Enquanto a Seleção teve 11 jogadores, ou seja, até os 40 minutos do primeiro tempo, foi possível notar, sim, semelhanças com a melhor versão do Brasil de Tite, aquela das Eliminatórias para a Copa da Rússia 2018. Dalla Dea posicionou o time no sistema tático 4-2-3-1, uma variação do 4-1-4-1 definido por ele antes do início da competição. Conferi com o treinador na entrevista pós-jogo se meu desenho tático da Seleção na partida contra a Nova Zelândia batia com o dele. Dalla Dea confirmou o formato 4-2-3-1 — com e seu a bola. Mas foram perceptíveis variações para o 4-1-4-1 e o 4-4-2.

A expulsão do lateral-direito Yan, aos 40 minutos da etapa final, restringe a análise ao tempo em que a Seleção teve 11 contra 11. Achei o time capenga contra a Nova Zelândia. Bem parecido com a Seleção principal quando conta com Neymar. Em sua melhor versão, o time de Tite buscava muito o jogo pela esquerda, com a dupla Marcelo e Neymar.

Na equipe de Dalla Dea é o contrário. A Sub-17 prefere a extrema direita. Os melhores lances nasceram por lá nas vitórias sobre o Canadá e a Nova Zelândia. O apoio de Yan e as arrancadas com drible e velocidade do ótimo Gabriel Veron são as melhores alternativas de ataque por enquanto.

Em tese, Talles Magno deveria ser o “Neymar” do lado esquerdo, concentrar as jogadas. Inclusive veste a camisa 11, número usado por Neymar no Mundial Sub-17 de 2009, na Nigéria. No entanto, a movimentação da promessa do Vasco foi demasiadamente para o meio no primeiro tempo. Os rivais conhecem a fama dele. Redobram a vigilância. Deixam o atacante sem espaço. Obrigam o Brasil a acionar Gabriel Veron, autor da assistência para o gol de Kaio Jorge. Veron dá profundidade ao time. Por ali, serviu João Peglow na estreia.

“O que temos de Tite é a organização. Uma das coisas que eu sempre comento com esses jovens é você falar a verdade. No momento da substituição do Talles Costa eu o chamei e falei: ‘estou tirando devido ao momento tático da equipe’. Isso é uma grande característica do professor Tite. Jogamos de maneira organizada ofensivamente e defensivamente. Usamos (contra a Nova Zelândia) o 4-2-3-1, mudamos em relação à estreia contra o Canadá. A gente tem essas variações porque estamos há um bom tempo com esses atletas. Depois, com um jogador a menos, passamos a adotar o 4-4-1 e mostramos força defensiva e exploramos Talles Magno, Gabriel Veron e Kaio Jorge. Eu guardo sempre o que o professor Tite comenta sempre com a gente. A Seleção Brasileira vai ter que saber em alguns momentos sofrer, mas sem tomar finalização. Tomamos apenas duas finalizações no segundo tempo. Isso é muito importante, ainda mais com um a menos”

Guilherme Dalla Dea, técnico da Seleção Sub-17

Defensivamente, o bloco se forma com linhas justas, ora no 4-2-3-1, ora no 4-1-4-1. Assim como a melhor versão do Brasil de Tite, o Brasil Sub-17 dificilmente é agredido. Sofreu duas finalizações mesmo com um jogador a menos. O volume da Nova Zelândia aumentou no 11 contra 10. O Brasil passou a jogar no 4-4-1, lembrando o desenho de Tite, quando Gabriel Jesus foi expulso na final da Copa América contra o Peru. O time recuou e passou a apostar na velocidade dos pontas Talles Magno e Gabriel Veron, e nos erros do adversário.

Até que o talento do esperto e oportunista Talles Magno superou a dificuldade afrouxando o nó da gravata verde-amarela. Até que Diego Rosa bateu a carteira da Nova Zelândia e dilatou o placar final da partida.

Padronização tática em todas as categorias leva tempo. Não seria nem será diferente na Seleção Brasileira. Mas está claro, sim, que Guilherme Dalla Dea segue um modelo. Adota o estilo Tite até nas entrevistas. Na zona mista, falou que explicou olho no olho a Talles Costa por que o tiraria do time. Falou que o Brasil soube sofrer sem sofrer finalização. Titês na ponta da língua.

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Marcos Paulo Lima

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