O Atlético Mineiro é praticamente finalista da Copa do Brasil depois da goleada por 4 x 0 contra o Fortaleza, no Mineirão, porque tem o que está faltando ao Flamengo a essa altura da temporada: futebol coletivo, um conjunto capaz de potencializar as individualidades. Cuca tem um time afinado para as conquistas. Renato Gaúcho comanda uma equipe desajustada. Não caia nas desculpas de VAR ou grama sintética. Gabriel Barbosa, em jejum há sete partidas, e Everton Ribeiro sentem muita falta de Bruno Henrique e Arrascaeta. O treinador não acha solução para isso — aliás, tem uma só. Tenta aplicar no sortido elenco do time carioca a mesma fórmula usada nos tempos do Grêmio com Pedro Rocha, Pepê, Everton e Ferreira: bola em um pontinha aberto na esquerda e seja o que os deuses da bola quiserem. Michael virou uma espécie de “Cebolinha” rubro-negro.
Mas vamos por partes…
A exibição do Galo, principalmente no primeiro tempo da vitória sobre o Fortaleza, foi digna de potências do futebol europeu. Um concerto no Mineirão pelo que vi na reprise da partida. Afinada, a orquestra do mestre Cuca permitiu a Guilherme Arana marcar um golaço, brindou Rever, Zaracho e o ídolo Hulk com gol.
Mais do que liderar o Brasileirão e aguardar apenas o protocolar confronto da volta, na Arena Castelão, para oficializar a presença na terceira final de Copa do Brasil, o Atlético consegue entreter, divertir seu torcedor. Nem sempre é assim, claro. As partidas anteriores à exibição premium de ontem foram difíceis. De vez em quando o timaço dá pau e a torcida ansiosa pelo fim do jejum de 50 anos na elite e de oito na Copa do Brasil tem a fé abalada.
O papel de Cuca é fazer com que o Atlético tenha nervos de aço nos últimos dois meses da temporada. A julgar pelo belíssimo futebol, a tríplice coroa nunca esteve tão perto. Levou o Mineiro, é virtual finalista da Copa do Brasil e líder disparado do Brasileirão. Por falar na Série A, o Galo colocou ainda mais pressão no Flamengo. O Atlético está com a vida resolvida na semifinal. O Flamengo, não. O concorrente terá de pensar mil vezes antes de escalar força máxima no clássico deste sábado contra o Fluminense, no Maracanã. O segundo jogo contra o Athletico-PR será na quarta e tem tudo para ser duríssimo depois do 2 x 2 na Arena da Baixada. Enquanto isso, o Galo vai livre, leve e solto para o duelo com o Cuiabá.
Como se não bastasse um Atlético a perseguir, o Flamengo tem de lidar com três. É obrigado a reduzir a vantagem de 10 pontos do Galo no Brasileirão em um confronto direto no dia 30. Antes, receberá o Athletico-PR na partida de volta da Copa do Brasil. Mais à frente, terá de vencer novamente o Furacão e outro Atlético, o Goianiense, em um dos três jogos atrasados do time carioca no Campeonato Brasileiro.
Portanto, a próxima semana pode ser de total afirmação do Flamengo na temporada ou de crise. Os resultados podem colocar o time na final da Copa do Brasil e mais perto do Galo na Série A ou reduzir a possibilidade de título a apenas mais um na temporada, ou seja, a final de 27 de novembro contra o Palmeiras.
O momento é incerto porque o time é irregular sob o comando de Renato Gaúcho. A torcida não sabe qual será a postura da equipe nesse ou naquele jogo. O Flamengo passou a ter um estilo aleatório e vem jogando mal. Mais do que enfraquecido por não conseguir escalar com frequência Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique juntos, está vulnerável nas bolas aéreas. Sofreu gols assim recentemente do Athletico-PR nesta quarta, do Juventude, América-MG e naquela derrota por 1 x 0 para o Grêmio, no Maracanã. A maioria em lances explorando a deficiência do zagueiro Léo Pereira na marcação.
Não pode ser coincidência. Quando estava no Grêmio, Renato Gaúcho perdeu por 5 x 0 para o Flamengo de Jorge Jesus apanhando nas bolas aéreas. Foi assim também na decisão da Copa do Brasil contra o Palmeiras. Abel Ferreira explorou o posicionamento da zaga tricolor na partida de Porto Alegre e saiu da Arena em vantagem. Renato reclamava no Grêmio que não tinha um elenco caro como o do Flamengo para empilhar títulos, mas agora que é dono do brinquedo está tendo muitas dificuldades para brincar com ele.
Renato está cometendo um erro gravíssimo. Parece tentar aplicar no elenco sortido do Flamengo a fórmula do sucesso dos bons tempos do Grêmio. Lembram? Havia sempre um pontinha aberto na esquerda que resolvia a parada pra ele. Foi Pedro Rocha no título da Copa do Brasil de 2016. Depois veio a vez de Pepê. Everton Cebolinha mais recentemente. No atual Flamengo, o xodó é Michael, que vive excelente fase diga-se de passagem, mas não pode virar a solução rubro-negra em um grupo tão forte tecnicamente. Ultimamente tem sido bola no Michael. E o time se perde quando o bonequinho de corda se cansa e é substituído.
No fim das contas, o Flamengo saiu no lucro da Arena da Baixada. Achou um gol no primeiro tempo, tomou a virada em dois lances familiares à torcida, ou seja, bolas alçadas dentro da área e gols de cabeça, e empatou a partida graças a outro achado, o pênalti sofrido por Rodrigo Caio acusado pelo VAR. Pedro diminuiu o prejuízo, mas não apagou o mau futebol.
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