Mais na base da sorte do que do juízo, Renato Gaúcho teve o resultado que os antecessores Rogério Ceni, Jorge Jesus e Mauricio Barbieri não conseguiram nas partidas de ida das oitavas de final da Libertadores. No ano passado, Ceni empatou com o Racing, em Avellaneda. Em 2019, Jesus perdeu para o Emelec, em Guayaquil. Na edição de 2018, Mauricio Barbieri não impediu a derrota em casa para o Cruzeiro no primeiro jogo. Estreante e sem Willian Arão, Rodrigo Caio, Diego, Bruno Henrique e o recém-vendido Gerson, Renato derrotou o Defensa y Justicia, na Argentina.
Resultado ótimo, desempenho terrível. Não pode ser normal o time pedir desesperadamente o fim da partida à beira do campo e Diego Alves sair como protagonista. Se não fosse ele, o Flamengo possivelmente teria deixado Florencio Varela, na grande Buenos Aires, com a eliminação encaminhada. Saiu no lucro. Tem a vantagem do empate na volta. Antes de falar do ponto positivo, destaco os negativos. Poucos vezes vi três peças tão importantes em um péssimo dia. Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gabriel Barbosa jogaram mal. Dispersos e distantes um do outro.
O melhor jogador da linha pela segunda exibição consecutiva é Michael. Ninguém mostrou cartão de visitas como ele ao novo técnico. Virou o jogo contra a Chapecoense e arriscou o chute de fora da área que entrou no ângulo do goleiro Unsain. As duas exibições de Michael não devem ser desprezadas e muito menos tratadas como folclore. Elas têm significado para Renato.
Michael oferece o estilo de jogador que agrada a Renato Gaúcho. Lembram da era dele no Grêmio? Sempre havia um pontinha atormentando a vida dos marcadores. Começou com Pedro Rocha na campanha do título da Copa do Brasil de 2016. Na sequência, ele teve à disposição Everton Cebolinha, Pepê e, por último, Ferreira. Com este último, havia uma certa resistência. O fato é que, se mantiver o empenho, Michael conquistará o papel de xodó de Renato Gaúcho.
Chama a atenção o fato de que Renato encerrou a partida com três zagueiros. Pode ter sido para aumentar a altura da bateria antiaérea diante da pressão do Defensa y Justicia, mas pode também ser um sinal do que o treinador pretende mais à frente. O técnico usou três zagueiros em pelo menos dois trabalhos anteriores: no Vasco, de 2008, e no Grêmio, de 2013.
O sistema tático está na moda. O Chelsea foi campeão da Champions League nesse modelo. A Inglaterra usou o sistema na campanha do vice na Eurocopa. França, Alemanha, Bélgica e Dinamarca também utilizaram o desenho. O Flamengo encerrou a partida com: Diego Alves; Gustavo Henrique, Bruno Viana e Léo Pereira; Matheuzinho, Piris da Motta, Gomes e Filipe Luís; Gabriel Barbosa, Pedro e Vitinho. Em tese, um 3-4-3 ou 3-5-2, com Vitinho no papel de meia.
Renato Gaúcho levou o Grêmio ao vice-campeonato no Brasileiro, atrás apenas do Cruzeiro, atuando na maior parte do campeonato com três zagueiros. Werley, Rodholfo e Bressan eram os três beques. Pará e Alex Telles, os alas. O meio de campo tinha Souza, Riveros e Ramiro. E o ataque do 3-5-2 contava com Kleber “Gladiador” e o centroavante Barcos. Funcionou.
Renato Gaúcho tem um zagueiro com perfil de líbero, Rodrigo Caio, e o postiço com saída de bola Willian Arão. Gustavo Henrique, Léo Pereira ou Bruno Viana poderiam ser um dos outros zagueiros. Nenhuma certeza. Somente um campo das hipóteses observando o que Renato Gaúcho tentou fazer no fim da difícil vitória por 1 x 0 sobre o Defensa y Justicia.
A comissão técnica de Renato Gaúcho é estudiosa. Sabe, por exemplo, que Isla viveu seus melhores dias como ala na seleção do Chile em um sistema com três defensores. Com isso, ficava liberado para oferecer a Jorge Sampaoli o que tem de melhor, ou seja, o apoio ao ataque. Isla é deficiente na marcação. Demanda cobertura, alguém que não o deixe tomar bola nas costas. É cedo demais, óbvio. O trabalho de Renato nem engatinhou. Mas o 3-5-2 pode pintar como sistema tático alternativo no repertório rubro-negro.
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