Abel Braga é competente. Impossível dizer o contrário de quem levou o Internacional aos títulos da Libertadores contra o São Paulo e do Mundial de Clubes diante do Barcelona, ambos em 2006; e o Fluminense à conquista do Brasileirão em 2012. Há um porém determinante para os recentes insucessos do treinador: Abel precisa aprender a lidar com a vantagem. Por sinal, terá mais uma na semifinal do Campeonato Carioca contra o Botafogo.
Quando assumiu o Flamengo, em 2019, Abel tinha o melhor elenco do país. Ganhou o Carioca, mas não conseguiu transformar o sortido plantel em um time convincente, minimamente capaz de arrancar suspiros. Coube a Jorge Jesus mudá-lo da água para o vinho no segundo semestre.
Em 2020, o treinador tinha vantagem confortável na liderança do Brasileirão. Caminhava para encerrar o jejum de 41 anos do Internacional. Aos poucos, perdeu a gordura em derrotas para o Sport e o concorrente direto Flamengo e deixou o título escapar até mesmo no momento em que soube da derrota rubro-negra para o São Paulo na última rodada. Bastava um gol ao Colorado contra o Corinthians, no Beira-Rio, para encerrar a abstinência. Não aconteceu.
Nesta quarta-feira, Abel desembarcou no Estádio Defensores Del Chaco com uma vantagem de 3 x 1 construída no Rio no primeiro jogo contra o Olímpia. É verdade que o Fluminense tentou sair na frente, em Assunção, no controverso gol anulado do zagueiro David Braz, mas outra vez o técnico tricolor vacilou na administração de uma vantagem ao programar o Fluminense para entregar a bola nos pés do Olimpia e recuar o time a fim de defender o resultado.
A postura seria aceitável da parte de um treinador que tivesse caído de paraquedas no terreno da Libertadores e desconhecesse a força do Olimpia no Defensores Del Chaco. Abel, como se sabe, não é um principiante. Atraiu o adversário e viu a pressão crescer para cima do Fluminense. Resultado: os tricampeões da América fizeram 1 x 0 e contaram com a expulsão de Nino para transformar o estádio em um caldeirão e alcançar o resultado necessário para levar a decisão aos pênaltis.
Nem mesmo a contratação de jogadores experientes vindos do Palmeiras – atual bicampeão da Libertadores – virou vantagem nos tiros da marca da cal. Traumatizados com derrotas recentes do alviverde nos pênaltis, como na Recopa Sul-Americana e na decisão do terceiro lugar do Mundial de Clubes do ano passado, Willian Bigode e Felipe Melo erraram as cobranças. Abel deveria, sim, ter se atentado para esse detalhe no momento da escolha dos batedores.
Pesou, também, a falha grotesca do goleiro Fábio na partida de ida. Aquele erro permitiu ao Olimpia balançar a rede no Rio. Não há mais gol qualificado na Libertadores, o tal peso diferenciado para quem marca na casa do adversário, mas o golzinho no Nilton Santos serviu de fósforo para incendiar a apaixonada torcida do Olimpia em busca da virada. E ela aconteceu.
Abel, o Braga, tinha um plano que parecia perfeito. O técnico mesclou medalhões acima dos 30 anos, alguns deles pra lá de 35 e até 40, caso do goleiro Fábio, com jovens talentos da base. A fórmula funcionou bem até o duelo de Assunção. O Fluminense não teve a experiência de veteranos de guerra nem a juventude dos recrutas de Xerém contra o Olimpia.
Um deles, indiretamente, deixou o ambiente pesado. A diretoria tricolor errou ao permitir o vazamento da negociação com o Real Bétis para a venda do atacante Luiz Henrique. Aborreceu a torcida, gerou tensão no tempo inadequado e desviou o foco do mais importante. As satisfações do presidente Mario Bittencourt no último domingo não foram convincentes e os tricolores, tão felizes com a série invicta de 13 partidas, viram o time amargar a única derrota que não poderia sofrer.
Campeão da Taça Guanabara, o Fluminense tem a vantagem de jogar por dois resultados iguais contra o Botafogo nas semifinais do Campeonato Carioca. Que seja o início do aprendizado de Abel Braga. Jogar atrás, com o regulamento debaixo do braço à espera dos contra-ataques, pode elevar ainda mais a pressão nas Laranjeiras.
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