Nos planos ou quebra-galho? Quando as seleções campeãs mundiais convocaram jogadores da MLS

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Julio César foi titular da Seleção Brasileira na Copa de 2014 como jogador do Toronto FC, da Major League Soccer (MLS). Kaká frequentou as convocações da segunda era Dunga representando o Orlando City. Pirlo e Giovinco chegaram a disputar as Eliminatórias para a Eurocopa de 2016 pela Itália defendendo, respectivamente, New York City e Toronto FC. O Uruguai não abre mão de Lodeiro, do Seattle Sounders. Na última sexta-feira, a Espanha surpreendeu o mundo da bola ao ressuscitar David Villa, do New York City.

Convicção, desesperou, ou a MLS começa a ser minimamente respeitada? Ao que parece, as principais seleções do mundo deixaram de considerar a Major League Soccer um daqueles campeonatos para jogadores em fim de carreira, que não servem mais para representar a bandeira dos seus países. Mas, talvez, as aparências enganem. Na maioria dos casos, o que pesa, mesmo, é a necessidade, o desespero, a teimosia, o medo de apostar no trabalho de renovação.

Antes da Copa de 2014, Luiz Felipe Scolari cismou que Julio César seria seu goleiro, o homem de confiança para o Mundial disputado em casa. Questão de convicção. Em baixa na Europa, o jogador perambulou pelo Crystal Palace, não se firmou no futebol inglês, passou um tempo desempregado e achou asilo no Toronto FC, do Canadá e da MLS. Deu tempo de ser convocado por Felipão.

A segunda era Dunga começou carente de um líder. O sucessor de Luiz Felipe Scolari surpreendeu ao começar a apostar em Kaká, que havia sido emprestado pelo Orlando City ao São Paulo antes da apresentação oficial ao clube da MLS. Estava claro que Kaká não faria parte dos planos para o Mundial da Rússia. Não participou sequer das Copas Américas de 2015 e de 2016 — edição centenária disputada justamente nos Estados Unidos. No caso de Dunga, era questão de necessidade, momento, até mesmo de insegurança no próprio trabalho.

Antonio Conte ameaçou quebrar o preconceito. Comprou briga na Itália e convocou Pirlo, primeiro jogador da MLS chamado para defender a Squadra Azzurra. Também apostou em Giovinco, do Toronto FC. Entretanto, na hora da lista final para a Euro-2016, ambos ficaram fora até mesmo da lista dos 30 pré-convocados. Antonio Conte justificou. “Nós avaliamos Pirlo e Giovinco. É normal que, se você escolhe jogar lá (nos Estados Unidos), então você pode lidar com as consequências em termos futebolísticos. Nós os avaliamos tecnicamente. Eu escolhi os 30 que imaginei me darem mais garantias”. Sem os dois, a Itália chegou às semifinais. Foi eliminada pela França.

A convocação de David Villa é mais uma que se enquadra em uma necessidade momentânea. Diego Costa está brigado com o técnico do Chelsea, Antonio Conte. Pior do que isso: não consegue ir para o destino dos sonhos, o Atlético de Madri. Parado em pleno início de temporada, está de castigo: ficou fora da convocação de Julen Lopetegui para os duelos contra Itália e Liechtenstein pelas Eliminatórias.

Villa na seleção da Espanha…

  • 59 gols (40 em jogos oficiais + 19 em amistosos)
  • 97 jogos
  • 0,60 de média

Resultados quando ele fez gol…

  • 37 vitórias
  • 2 empates
  • 2 derrotas

Aos 35 anos, Villa é o maior artilheiro da Espanha, com 59 gols em 97 jogos. Ele havia se aposentado da seleção. Não defende o time há 38 meses, desde 23 de junho de 2014, na Arena da Baixada, em Curitiba, diante da Austrália. Carente de um centroavante minimamente confiável para enfrentar, principalmente, a Itália, Lopetegui decidiu ressucuscitar o cara do New York City.

David Villa vai bem na MLS. Faz dois gols a cada três jogos. É o artilheiro do campeonato com 19 gols, três à frente do húngaro Nemanja Nikolic, do Chicago Fire. Mas Julen Lopetegui avisa aos fãs de Villa: “Não vamos fazer exercício de futurologia. David Villa vai nos ajudar muito nesta convocação”, ponderou, tentando minimizar as especulações sobre a presença do veterano na Rússia. Villa fez gol em 35 seleções diferentes com a camisa da Espanha. Curiosamente, Liechtenstein, um dos adversários da Espanha nas próximas rodadas, é a maior vítima de Villa: levou sete gols, todos eles sofridos pelo goleiro Jehel.

Por enquanto, o único técnico de seleção campeã mundial que convoca jogador da MLS por convicção é Oscar Washington Tabárez. Ele é fã incondicional do futebol de Nicolas Lodeiro. Chamou o meia na época em que ele defendia Botafogo, Boca Juniors e agora no Chicago Fire. É um nome praticamente certo para a Copa de 2018 caso a Celeste se classifique.

Independentemente de convicção ou de desespero, as seleções campeãs do mundo começam a olhar diferente para os jogadores empregados na MLS. Nem que seja como quebra-galho em um jogo aqui outro acolá…

Marcos Paulo Lima

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