Sem fórmula para o sucesso
Sabe aquela história de que o técnico fulano de tal é copeiro, não é treinador de pontos corridos, coisa e tal… Então, Luiz Felipe Scolari acaba de se tornar o terceiro dono da prancheta a conquistar o Campeonato Brasileiro no velho e no atual sistema de disputa do Nacional. Conquistou o título em mata-mata na decisão de 1996 contra a Portuguesa. Vinte e dois anos depois, fatura a taça com uma rodada de antecipação nos pontos corridos. Além dele, só Antônio Lopes (1997 e 2005) e Vanderlei Luxemburgo (1993, 1994, 1998, 2003 e 2004) conseguiram fazer sucesso nos dois formatos. Felipão também é o mais velho a conquistar o título, como mostrou o levantamento do blog em 30 de setembro. No mais, escrevi bastante no post anterior sobre a merecida conquista alviverde numa reflexão sobre o aproveitamento do legado de Roger Machado no Grêmio e no Palmeiras.
Deixou ser vice
Houve um tempo em que o mantra do Flamengo era: “Deixou chegar”. Graças, principalmente, ao sucesso rubro-negro no Campeonato Brasileiro. Se você considerar as edições de 1971 para cá, o time carioca jamais havia sido vice no principal torneio do país. Quando foi à final, ergueu a taça. Quando chegou à última rodada com chance de faturar o troféu, ganhou também, em 2009. Se você é adepto daquela canetada de Ricardo Teixeira e considera o Brasileirão desde 1959, o Flamengo acaba de ser vice pela segunda vez. Perdeu a Taça Brasil em 1964 para o Santos, de Pelé. Mais do que transformar o tal do cheirinho em piada, os seis anos de mandato de Bandeira de Mello mudaram o mantra de “deixou chegar” para “deixou ser vice”. Vice do Brasileirão (2018), da Copa Sul-Americana (2017), da Copa do Brasil (2017) e do Carioca (2013).
Orgulho colorado
A eliminação nas semifinais do Estadual contra o Grêmio e a queda precoce na quarta fase da Copa do Brasil diante do Vitória anunciavam o caos no Brasileirão, mas o Inter foi além. O sentimento da torcida colorada tem que ser de orgulho. Encerrar o campeonato com a melhor campanha de um time egresso da Série B — terceiro colocado com 68 pontos, um a mais do que o Grêmio no terceiro lugar de 2006 — e com uma base pronta para brilhar em 2019, desde que saiba lidar com o calendário. Neste ano, disputou praticamente a Série A.
Estava indo tão bem…
O triunvirato do São Paulo — Raí, Lugano e Ricardo Rocha — lembra o personagem Sandoval Quaresma, da Escolinha do Professor Raimundo, cujo bordão era: “Eu Estava indo tão bem”. Eles catapultaram o time ao topo com belíssima arrancada e o título simbólico do primeiro turno, mas destruíram tudo do dia para a noite ao demitir Diego Aguirre, e apostar na varinha de condão do promissor André Jardine para voltar ao G-4. Não deu liga. Detalhe: praga de uruguaio pega. Quem errou o pênalti contra o Sport? O desafeto Nenê! Dificilmente o Grêmio desperdiçará a chance de se classificar direto para a fase de grupos. Ou você acha que o Corinthians fará jogo duro para ajudar o arquirrival? Portanto, o tricolor paulista amargará a pré.
Goleiros fiéis
No futebol brasileiro, quem dá prova de fidelidade é goleiro. A despedida de Marcos, do Palmeiras, foi comovente. A de Rogério Ceni, do São Paulo, nem se fala. Julio Cesar teve uma exibição de gala no primeiro turno no bota fora com a camisa do Flamengo. Além do título do Palmeiras, a imagem do fim de semana é Jefferson. O cara do time alvinegro, que em 2010 fechou o gol para o Imperador Adriano e ajudou o Glorioso a conquistar o Campeonato Carioca, amargou até rebaixamento e voltou à elite campeão da Série B por amor ao clube. Simplesmente sensacional. Por um bom tempo, ele foi a estrela solitária de um clube carente de ídolos. Arrisco dizer que, em breve, o excelente Fábio, do Cruzeiro, será o próximo da lista.
De 1979 a 2019
Que trabalho do Lisca, que de doido, amigo, não tem nada. É um baita profissional. Graças aos trabalhos dele e de Rogério Ceni, Ceará e Fortaleza estarão juntos na Série A, em 2019, pela primeira vez desde 1979. A última vez em que o futebol cearense teve dois clubes na elite foi em 1984, mas os representantes eram Fortaleza e Ferroviário. Ainda sobre os clubes do Nordeste: lamentável a queda do Vitória. E numa boa, apesar da administração terrível e do esforço para cair, torço muito pela permanência do Sport na elite. Ainda dá.
Satisfação garantida
Suspenso na última rodada, Gabriel Barbosa é o artilheiro isolado do Brasileirão com 18 gols, mas o assunto aqui nos pitacos é o vice, Ricardo Oliveira, autor de 13. Aos 38 anos, o centroavante do Atlético-MG fez mais de 10 gols em três das últimas quatro participações na Série A, ou seja, desde que retornou, em 2015, ao futebol brasileiro. Além de ser uma baita marca, comprova o quanto estamos carentes na posição. Aliás, bela exibição de Fred na derrota do Cruzeiro para o Flamengo. Se não tivesse se machucado, brigaria pela artilharia.
Trinta e dois anos depois…
Política à parte, o futebol alagoano não tinha representante na Série A do Campeonato Brasileiro desde 1986! Tem noção do que fez o CSA no último sábado, ao garantir o acesso à elite!? Parabéns ao técnico Marcelo Cabo. Campeão da Série B com o Atlético-GO em 2015 e terceiro com o CSA em 2018. Especialista em alçar clubes de divisão. O Avaí, do veterano técnico Geninho, ficou com a outra vaga. O Goiás havia conseguido o acesso e o Fortaleza era campeão antecipado. Só cumpriu tabela na última rodada.
Como assim, coronel?
Presidente da Confederação Brasileira de Futebol até março, o coronel Nunes teve um desgosto profundo no último sábado. O Paysandu, time do coração do cartola, caiu para a Série B no último sábado. Para quem acredita em influência nos bastidores, aparentemente, o mandatário da CBF não deu nem dará carteirada para salvar a pele bicolor. O tradicional clube não disputava a terceira divisão desde 2014, quando subiu para a B como vice da C. No andar inferior, o Paysandu reencontrará o arquirrival Remo. Triste futebol paraense…
A Uefa aprendeu. A Conmebol não aprende nunca
… a Uefa já fez pior do que a Conmebol em uma final continental, mas aprendeu. Você deve ter ouvido falar na Tragédia de Heysel, quando 39 torcedores morreram e 600 ficaram feridos na final da Copa dos Campeões — atual Champions League — entre Liverpool e Juventus, em 29 de maio de 1985. O desastre de Heysel aconteceu depois que hooligans do Liverpool atacaram torcedores italianos que estavam na mesma zona da arquibancada. Para escapar da morte, a correria esmagou e asfixiou quem estava encostado num muro, que também desabou. Em vez de adiar o jogo, a Uefa deixou a bola rolar e se arrependeu.
A Tragédia de Heysel iniciou uma revolução no futebol. Nada justifica o vexame mundial na partida de volta da final da Libertadores entre River e Boca. Mas a Conmebol deveria usar o que aconteceu em Buenos Aires como uma “tragédia” do que seria a maior final da história do torneio. Sinceramente? Eu duvido que sirva de exemplo para que a Conmebol inicie uma revolução no futebol sul-americano.
Por falar nisso…
Em 2015, a Conmebol eliminou o Boca da Libertadores nas oitavas devido ao gás de pimenta da torcida xeneize contra o River, em La Bombonera, na volta para o segundo tempo. O jogo foi suspenso. Se o castigo se repetisse, o River seria eliminado e o Boca, campeão. Mas a Conmebol não tem critério. Não sabe o que fazer. Não acho exagero o Boca se recusar a entrar em campo e pedir a taça na Justiça. Ah, mas tem que ser decidido em campo. No campo dos sonhos, sim, sempre. Não foi em 2015. Por que seria agora?
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