Goianesia Quatro meses depois de ganhar o bi em casa, Gama amarga festa do Goianésia no Bezerrão. Foto: Goianésia Quatro meses depois de ganhar o bi candango no Bezerrão, Gama viu Goianésia eliminá-lo em casa. Foto: Goianésia

10 motivos para o fracasso do Gama na Série D do Campeonato Brasileiro

Publicado em Esporte

Em outubro, escrevi um post aqui no blog com o seguinte título: “Em alta na Série D, DF tem o melhor time e o artilheiro, mas há cascas de banana no caminho”. Protagonista da segunda melhor campanha na fase de grupos, o Gama escorregou nas cascas de banana jogada no chão pelo próprio clube e está fora eliminado precocemente da quarta divisão nas oitavas de final.

No post, alertava para os riscos que cercavam a euforia com as campanhas dos times candangos na Série D. Dizia que o Gama tinha um time pronto até para ser campeão, mas pecava ao não resolver dramas econômicos. Lembrava que o profissionalismo do elenco, líder invicto do Grupo 6 àquela época com 92% de aproveitamento, contrastava com a pilha dos boletos de pagamentos atrasados.

Apontava que o elenco precisava ser tratado com o mínimo de respeito pela diretoria. Que promessas se cumprem, não se renovam a cada dia, semana ou mês. Alertava que, enquanto o dinheiro não caísse na conta, havia risco de o belíssimo trabalho do então técnico Vilson Tadei desandar. A soma de tudo isso determinou a queda do Gama diante do Goianésia na partida deste domingo, no Bezerrão. A seguir, aponto 10 motivos para o fracasso alviverde na Série D.

 

  1. Complexo de vira-lata

Não é de hoje que digo: times candangos tremem em duelos contra goianos. Não precisamos ir tão longe. O Goianésia derrotou Gama e Brasiliense nos amistosos da pré-temporada deste ano. Logo, por mais que o Gama ostentasse a segunda melhor campanha entre os 64 times da Série D, não seria surpresa a eliminação contra o quarto colocado do Campeonato Goiano deste ano. Essa era a posição do adversário até a paralisação causada pela pandemia.

 

  1. Crise financeira

O Gama chegou a dever oito meses de salários. Sem contar o bicho, ou seja, gratificações por vitórias e/ou títulos. A inadimplência deixou o clube vulnerável e facilitou assédios, golpes baixos no mercado e fuga de jogadores e técnico em direção ao arquirrival Brasiliense e ao Juventude-RS. Não se faz futebol com promessas, mas com dinheiro na conta de quem está prestando serviço de excelência. O elenco do Gama foi extremamente profissional em meio a uma gestão financeira caótica. Ainda assim, o time poderia ter passado pelo Goianésia. Erros individuais na defesa, no ataque e a exibição do goleiro adversário Artur pesaram muito.

 

  1. Credibilidade

Três jogadores controlavam o vestiário para a diretoria do Gama: o goleiro Calaça, o zagueiro Emerson e o centroavante Nunes. A debandada dos três foi o último indício de que a cúpula alviverde havia perdido a credibilidade. A liderança do trio adiou em vários meses a debandada do elenco. Foi fundamental para a campanha do bi. Mas até eles cansaram das promessas. O apoio da Belmonte Sports ajudou o Gama, mas o socorro financeiro chegou tardiamente.

 

  1. Greve legítima

O fato de o Gama não quitar salários levou o elenco a uma decisão extrema: a paralisação por uma semana, em outubro, antes do duelo com o Tupynambás. Na luta legítima pelos direitos trabalhistas, o alviverde treinou apenas na véspera da partida. A diretoria pagou caro com o fim da invencibilidade na quarta divisão. O time mineiro derrotou o Gama por 3 x 1, no Bezerrão, e o arquirrival Brasiliense tomou a dianteira do Grupo 6 da quarta divisão.

 

  1. Erro estratégico

Em conversa com alguns executivos do Banco de Brasília (BRB), soube que pegou muito mal a decisão do presidente Weber Magalhães de abandonar uma das reuniões sobre patrocínio para a Série D do Campeonato Brasileiro na sede da entidade financeira após desentendimentos com o Brasiliense. O comportamento irritou parte da cúpula da estatal por tratar-se de uma reunião com o banco, não de uma “DR” entre os dois principais clubes do DF.

 

  1. Culpa no cartório

Embora tenha sido um dos dois clubes da primeira divisão do futebol candango a publicar o balanço financeiro de 2019 no prazo estabelecido pela Lei Pelé, o Gama não consegue apresentar ao BRB as certidões negativas necessárias para ter acesso ao patrocínio estatal disponibilizado pelo banco a Gama e Brasiliense para a Série D. No fim das contas, o dinheiro segue parado. Nenhum dos dois clubes conseguiu, ainda, fazer a retirada para a competição.

 

  1. O adeus do líder

Talvez, Vilson Tadei seja o melhor técnico da história do Gama. A passagem dele pelo clube foi brilhante. Em 50 jogos, perdeu três – uma no Candangão e duas na Série D. Quase o mesmo número de título, os dois na campanha do bicampeonato candango em 2019 e 2020. Cansado de resistir ao poder econômico do Brasiliense, Tadei aceitou a quarta proposta na semana do jogo de volta do Gama contra o Goianésia e implodiu de vez o trabalho que vinha sendo efeito. Tadei poderia ao menos ter saído depois do jogo de volta contra o Goianésia.

 

  1. Bomba na mão

Não há dúvida de que Victor Santana seja um dos técnicos mais promissores do DF. Em 2018, levou o modesto Sobradinho ao título do Candangão contra o Brasiliense. Porém, ele herdou uma bomba na transferência de Vilson Tadei para o arquirrival. Além de pouco tempo de trabalho até a partida contra o Goianésia, Victor não tinha mais o material humano de Tadei. Mesmo assim, o time criou situações e merecia, ao menos, o empate e a decisão por pênaltis.

 

  1. Disputa política

No meio da campanha do Gama na Série D havia uma pedra: a eleição. Até então, o atual presidente, Weber Magalhães, teria adversário. Parceiro do clube à época, o dono da GoalManage, Luiz Henrique de Oliveira, cogitou concorrer. A situação soube e movimentou-se pela formação de uma coalisão. A articulação não teria agradado ao parceiro. O desgaste da GoalManage com Weber Magalhães e, principalmente, com o vestiário, cortou o cordão umbilical.

 

  1. Carência

A pandemia deixou o clube mais popular do DF carente. O Gama tem torcida raiz. Mais do que pressionar rivais, incomoda poderosos. Foi assim neste ano, quando o BRB fez parceria com o Flamengo. A pressão da torcida levou o banco a sinalizar apoio aos times da cidade. O Gama foi bi candango sem torcida no estádio. Fez a segunda melhor campanha da fase de grupos da Série D sem ela. Mas sentiu falta do povo, no Bezerrão, no jogo em que estava mais fragilizado.

 

 

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