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Fragmentado

Publicado em Cinema, Literatura

 

O que dizer? Achei que estava indo assistir a um filme sobre Transtorno Dissociativo de Personalidade (TDI). Spoiler alert: não é. TDI é usado como pano de fundo, com muita liberdade artística, para construir um cenário de terror que, a julgar pelo final, tem um futuro traçado.

 

Fragmentado é dirigido por M. Night Shyamalan, de O Sexto Sentido e Corpo Fechado. Temos James McAvoy interpretando Kevin Crumb, um homem com “23” personalidades habitando seu “sistema”.

 

Estou um tanto perturbada com o transtorno em si. Não consigo parar de pensar. Tenho uma lista de livros para ler sobre o assunto há algum tempo. O que faz um “eu” ser um “eu”? Não estou com os que acham que o self é uma ilusão, mas acho tudo isso muito curioso. Parece que, quanto mais descobrimos sobre o cérebro, mais ficamos no escuro.

 

Que diabos acontece no cérebro de uma pessoa com TDI? Personalidade é uma coisa complexa, que geralmente se manifesta das maneiras mais insuspeitas, nos pequenos detalhes. Como alguém consegue ter várias “entidades” com traços e comportamentos diferentes, agindo de maneira consistente? E as pessoas com TDI relatam que os “alter” conversam entre si, como um comitê, sei lá. Fiquei pensando se não seria o caso de esses cérebros não conseguirem criar uma história coesa o suficiente, como a maioria das pessoas faz. Ou pode ser o contrário: o cérebro de um TDI é tão bom em criar histórias que cria diversas como um mecanismo de defesa.

 

A questão do abuso é bem forte no filme. Por boa parte do filme fiquei com impressão de que essa era a mensagem principal, mas acho que não é bem por aí.

 

O primeiro caso famoso de TDI ocorreu no final dos anos 1970. Billy Milligan foi preso acusado de sequestro e estupro. Tem um Nerdologia ótimo falando mais sobre o caso e sobre TDI. Antes dessa época, não há relatos desse diagnóstico. Mas você pode pensar nos relatos de possessão sobrenatural e experiências extracorpóreas que sempre ocorreram e outras coisas estranhas.

 

Mas TDI está longe de ser um consenso entre os profissionais da área. Debates acalorados, tendo em mente que há um limite para o “calor” de publicações científicas, existiram e existem, e, apesar de o transtorno estar devidamente classificado no DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –, há artigos contestando até mesmo a existência do TDI. Só que devagar aí, amigo: isso não significa que essas pessoas estão “fingindo”. Significa que o fenômeno precisa ser investigado mais a fundo e, possivelmente, tratado de forma diferente do que os defensores do TDI propõe.

 

Recomendo o filme. Provocou uma série de reflexões para mim. McAvoy está ótimo. Só não conseguiu o troféu da Eva Green em Penny Dreadful para mim. Ainda tento entender por que ela não conseguiu nenhum prêmio.

 

Algumas indicações da Lista de Livros da D.Tereza sobre o assunto!

Sobre Billy Milligan

 

Texto escrito por:

DnTereza

 

Dona Tereza –

  “Saia do meu gramado!”

@dnatereza