Denise Rothenburg
Uma manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff em frente à Faculdade de Direito de Lisboa constrangeu vários palestrantes do seminário luso-brasileiro de direito , constituição e crise, em especial, o senador José Serra (PSDB-SP). A van em que estavam Serra e o ministro do Supremo Tribunal Federal Antonio Dias Toffoli parou bem em frente à entrada principal do prédio. Os palestrantes desceram e Serra ouviu uma sonora vaia. “Me atiraram aos leões. Pareceu proposital”, desabafou o senador minutos depois a um amigo dentro do auditório.”como isso pôde acontecer com o senador justo aqui?!”, dizia, constrangido e chateado o professor doutor Carlos Blanco de Morais, do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas de Portugal.
Os manifestantes portavam faixas “no país de abril, golpistas não passarão”, “Aécio, Odebrecht te espera”, “fora Cunha, fora Gilmar”, numa referência ao ministro Gilmar Mendes, anfitrião do evento, e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que sequer foi convidado.
Serra não era palestrante do dia, mas fez questão de comparecer à abertura para prestigiar o ministro Gilmar Mendes, anfitrião do evento, pelo Instituto de Direto Público (IDP), que procurou minimizar as manifestações. “Fazem parte da democracia”, disse. Gilmar entrou pela garagem e não precisou passar pelos manifestantes. Quem foi conversar com o grupo na porta da faculdade foi o senador Jorge Vianna (PT-AC), que ganhou da estudante Geisi uma garrafa de vinho tinto com o rótulo “Golpe” e uma mensagem: “Se querem tanto um golpe, contentem-se com este, mas cuidado com a ressaca!”
Ela queria entregar ao senador Serra, mas não teve acesso ao auditório, onde o senador stava concentrado, conferindo o discurso que o vice-presidente Michel Temer enviou em vídeo. Temer não pôde comparecer, por causa da reunião do PMDB e para não gerar especulações sobre conspiração, por causa da presença de Serra e do senador Aécio Neves, que desembarca nesta quarta-feira em Lisboa para participar do último dia do seminário.
Temer, em sua fala, ressaltou o funcionamento das instituições e foi direto ao mencionar que, ao lado do estado de direito é preciso ter um “estado de paz” em todos os países. Em nenhum momento, ele se referiu a processos de impeachment, porém ao ressaltar o bom funcionamento das instituições e as normas constitucionais gerais, com destaque aos direitos e garantida individuais, estava dado o recado de pregador do “estado de paz” que fechou sua fala. Na plateia, gerou comentários do tipo, “enquanto Dilma fala em luta, ele pede paz”.