Os interesses de cada um

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Nuances de uma crise

A crise política que põe em perigo o mandato da presidente Dilma Rousseff tem diversos detalhes, que regem os bastidores da política e muitos movimentos, seja na oposição, seja na base governo. Vejamos:

1) Alckmin versus Aécio

Dentro da oposição, há quem diga que os aecistas veem a interrupção do mandato da presidente, via Justiça Eleitoral, como a senha para que Aécio possa concorrer à eleição com Geraldo Alckmin fora da disputa por ser governador de São Paulo. Em 2018, embora ninguém possa dizer como estará a conjuntura, o desenho hoje indica Alckmin no páreo, apesar de Aécio, na avaliação de setores do partido, ter a primazia de ser o candidato por causa do desempenho em 2014.

2) PMDB

A vida dos peemedebistas de tranquila não tem nada. Desenha-se internamente uma disputa pelo comando do partido. Eduardo Cunha, apontado como um dos grandes beneficiários da saída de Dilma pela via eleitoral porque tiraria também Michel Temer, ficaria três meses como presidente da República. Perspicaz e habilidoso politicamente, seria tempo suficiente para adquirir o controle do partido. A ala de Michel Temer lutará com todas as forças contra essa saída.

3) Poder econômico versus movimentos sociais

O empresariado anda de mal com o governo da presidente Dilma, mas o PT acredita que tem fôlego para mobilizar setores da sociedade, como o “exército de Stédile” mencionado por Lula no passado. Ontem mesmo, além das movimentações palacianas fartamente explorada hoje nos jornais e ontem na internet, o PT buscava manifestos dos movimentos sociais em favor da presidente Dilma.

Quem não se comportar…

A reunião de Joaquim Levy ontem no Planalto serviu para mostrar que o governo vai liberar as emendas dos deputados e senadores ao Orçamento. Mas quem leva a notícia a cada um põe na bagagem o aviso de que o “cobertor” está curto e, se a “pauta-bomba” vingar no Congresso, vai ser difícil ter recursos para atender o que está acordado.

Enquanto isso, na Receita Federal…

Os auditores aumentam o tom em busca do reajuste salarial maior que os 21,3% parcelados em quatro vezes proposto pelo governo. Além de uma carta enviada aos governadores, alertando para o risco de redução dos repasses do Fundo de Participação dos Estados por causa da insatisfação da categoria, eles agora nem participam mais de reuniões para tratar do reajuste no Ministério do Trabalho.

Marco Aurélio/ A entrevista do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello ao Correio Braziliense, no último domingo, deu o que falar. Nos bastidores do Planalto, houve quem desconfiasse que o ministro está pronto para ingressar na política. Mas, aos amigos, ele sempre lembrou que se diverte mesmo é no colegiado do STF.

Levy no Planalto/ O PT olha meio de lado para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas os peemedebistas adoram o jeito afável do economista. Ontem, ele passou a tarde reunido com o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (foto). Cuidavam da liberação das emendas ao Orçamento da União.

No Senado…/ A Fiesp, de Paulo Skaf, lidera uma romaria hoje pelos gabinetes dos senadores a fim de repetir o movimento feito há algumas semanas na Câmara contra a proposta que reduz a desoneração da folha de pagamento de diversos setores.

War/ Ao sair do Planalto ontem à tarde, a senadora Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte, foi incisiva: “Sabe quantas vezes vingará esta tese de impeachment? Nenhuma! A oposição pensa que nós e os movimentos populares vamos assistir deitados em berço esplêndido? Os tucanos que preparem um projeto para as eleições municipais e outro para 2018 e nos derrotem na urna!”, afirmou, pintada para a guerra.  Coluna do dia 08/07 O fator Lula

Em conversas reservadas, os peemedebistas têm o seguinte alerta ao PT: o ex-presidente Lula, embora tenha andado por Brasília há uma semana jurando amor e lealdade à presidente Dilma Rousseff, tem que continuar mobilizando o partido e os movimentos sociais em prol do governo. Caso contrário, todo o trabalho de segurar a tropa de aliados irá por água abaixo.

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Na oposição, já existe um consenso de que Lula foi o estopim para que a pauta da classe política e empresarial migrasse das previsões de tempo do fim da crise econômica para quando e qual será o processo a encurtar o mandato de Dilma.

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Ambos, oposição e PMDB, concordam numa avaliação: Lula, ao vir a Brasília tentar consertar suas declarações contra Dilma, deu sinais de que errou lá atrás, ao criticá-la, mas não desfez completamente o mal-estar. E, problema, quando chega em casa, termina ampliado. Há, no governo e fora dele, quem esteja desconfiado de que Lula joga para entregar a cabeça de Dilma e, assim, tentar transformar a si próprio e ao PT em vítima, a fim de preparar o retorno em 2018.

Apostas em alta

Quem tem auscultado o Tribunal de Contas da União (TCU) assegura que a situação do governo lá, hoje, é pior do que há um mês, quando o relator das contas de 2014, ministro Augusto Nardes, concedeu o prazo de 30 dias para o Executivo responder sobre as pedaladas fiscais e outras operações contábeis.

Pauta bomba

Os senadores estão convencidos de que será difícil segurar a MP que institui a política do salário mínimo, incluindo aí as aposentadorias e as pensões, conforme votado na Câmara. Para completar, o Ministério Público baixou na Casa pedindo isonomia de tratamento, depois do reajuste aprovado para o Poder Judiciário. Se for a votação, passa. E será mais um texto para Dilma vetar.

Cunha presidente?

A visita do papa Francisco a países latino-americanos esta semana levou autoridades do governo a bolar um meio de permitir que Michel Temer saia do posto de presidente em exercício para permitir que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) assuma o comando do país, nem que seja por algumas horas.

CURTIDAS    

Collor e Dilma/ Há, no meio político, quem veja muita semelhança entre o comportamento do então presidente, Fernando Collor, em 1992, e o de agora de Dilma Rousseff. Ele corria para mostrar que estava bem. Dilma pedala. Ele também dizia que não cairia e prometeu acabar com a inflação com um ippon (o golpe perfeito em judô, equivalente ao nocaute). Dilma mencionou “um tiro só” na entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Nem vem/ O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), assegura que o novo diretor da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), Celso Cunha, que era do planetário e do governo de Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro, não foi indicação do partido. “Não sei nem quem é.”Olho nos aliados, Dilma!/ Tancredo Neves, avô de Aécio Neves, dizia: “Peçam a um político qualquer coisa, menos o suicídio”.

Presença de Aldo/ A participação do ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (foto), na reunião das segundas-feiras tem um significado especial. Ele foi um dos principais pilares de Lula quando da crise do mensalão, com o então líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira, hoje líder no Senado, e Eduardo Campos, do PSB, que morreu no ano passado.