Atento observador e protagonista da história recente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva percebeu que as placas tectônicas do PMDB estão em movimento e, antes que derrubem os edifícios políticos construídos ao longo dos últimos anos, foi ver de perto o surgimento de um novo continente no Rio de Janeiro. Na conversa que teve há dois dias com o ex-governador do estado Sérgio Cabral e o prefeito da Cidade Maravilhosa, Eduardo Paes, Lula foi sentir “qual é” a banda de ambos e ainda sondar como anda o samba do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do líder do partido na Casa, deputado Leonardo Picciani.
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O petista descobriu que, em princípio, essa poderosa dupla de parlamentares não pretende atropelar Dilma Rousseff com as alegorias no Congresso. E, em conjunto, colocaram à mesa algumas receitas de almoços e jantares no futuro, tais como o apoio do PT do Rio a um peemedebista para suceder Eduardo Paes, em 2016, e de outro para o lugar do governador Luiz Fernando Pezão, em 2018. Em troca, o PMDB do Rio fecharia com uma candidatura de Lula no mesmo ano. Tudo isso foi dito a Dilma Rousseff ontem. O grupo próximo ao ex-presidente está para lá de convencido que qualquer negociação política, neste mandato, passará pelo PMDB do Rio.
A multiplicação dos cargos
O novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu substituir o atual secretário de Comunicação da Casa, o jornalista Sérgio Chacon, pelo deputado Cleber Verde (PRB-MA), que está no primeiro mandato. Além disso, a chefia da TV Câmara ficará com um ocupante de cargo comissionado da Casa, indicado por Cleber. A novidade, anunciada em uma reunião da Mesa Diretora na tarde de quinta-feira, faz parte do acordo firmado com o PRB na campanha, e abre caminho para que pessoas que não são do quadro de servidores assumam cargos de chefia na Casa. “Agora, abriu a porteira”, lamentou um servidor ao repórter André Shalders.
A multiplicação dos insatisfeitos
Se essa mudança vingar, e o avanço dos parlamentares sobre outros setores da administração da Casa se intensificar, Cunha vai gerar insatisfação entre os servidores e os grupos de parlamentares que consideram esses postos exclusivos da administração da Casa, de forma a evitar privilégios de um ou de outro deputado na hora de veicular as notícias do parlamento. Vem briga aí.
Sob encomenda
Os petistas estão convencidos de que os vazamentos da Lava-Jato estão diretamente relacionados aos movimentos de Dilma e de Lula para tentar amortecer a crise política. Bastou o ex-presidente e Dilma sentarem juntos para que o partido estivesse, mais uma vez, colocado no centro do petrolão com as denúncias de que José Dirceu teria recebido propina sob o codinome Bob.
Noves fora…
Os peemedebistas eleitores de Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) fizeram as contas e descobriram que, hoje, o novo líder não tem mais a maioria da bancada. Isso porque três suplentes, dois do Rio e um de Minas Gerais, ficaram no Congresso apenas o tempo suficiente para eleger Leonardo Picciani líder do partido. Considerando o resultado de um voto de diferença, Picciani terá, depois do carnaval, o apoio de 31, enquanto Lúcio conta com 33. Moral da história: ou Picciani trata de unificar a bancada na hora de indicar os presidentes das comissões técnicas, ou poderá ter dor de cabeça para comandar os deputados. Privilégio de poucos/ Ninguém costuma ver o deputado Miro Teixeira (foto) coletando assinaturas para projetos em plenário. Esta semana, entretanto, ele fugiu do padrão. Em menos de uma hora, conquistou 200 assinaturas para a sua proposta de emenda à Constituição (PEC) em favor do distritão, um sistema eleitoral que termina com a história de um deputado bem votado “dar carona” a ilustres desconhecidos.
À distância/ A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) ainda não conseguiu trocar totalmente a Câmara pelo Senado. Na última quinta-feira, em plena reunião da bancada feminina no Senado, ela não largou o celular, acompanhando a escolha do novo líder do PMDB entre os deputados. As novas coleguinhas de Rose não gostaram, e volta e meia soltavam um “desapega, Rose!”.
Haja assunto/ Numa quinta-feira de véspera do carnaval, os poucos parlamentares que permaneceram em Brasília se esbaldaram da tribuna. Izalci Lucas, do PSDB do Distrito Federal, e Paes Landim, do PMDB do Piauí, se revezavam nos microfones em longos pronunciamentos transmitidos pela TV Câmara.
E o Pizzolato, hein?/ Há quem diga que é bom Henrique Pizzolato se preparar. Se valer para ele o que ocorreu com os demais envolvidos no mensalão, ele ainda amargará um bom período na cadeia. É que, até aqui, apenas os políticos conseguiram a liberdade.