Um ensaio em São Paulo

Publicado em Eleições 2024

Coluna da Denise publicada em 28 de outubro de 2024, por Denise Rothenburg 

A vitória de Ricardo Nunes para prefeito de São Paulo reforça o caminho do meio e abre uma janela para que os partidos que ocupam o centro da política se afastem dos extremos no futuro. Estão nessa construção o presidente do PSD, Gilberto Kassab; e o do MDB, Baleia Rossi. Quem deve ingressar ainda nesta conversa é o presidente do União Brasil, Antonio Rueda. Aliás, União e PSD já estão nesse rumo, depois da aproximação na campanha para presidente da Câmara dos Deputados. Se der certo, o eleitor ainda verá muitas outras parcerias desses partidos. Inclusive, para 2026.

» » »

Em tempo: a dois anos da próxima eleição presidencial, nenhum dos partidos que, hoje, fazem parte do consórcio do governo terá seus dirigentes anunciando que não apoiará Lula em 2026. Porém, as vitórias este ano indicam que o PT de Lula não tem garantidos os apoios que conquistou em 2022 contra Jair Bolsonaro. E o ex-presidente, a preços de hoje, não está com a bola toda para impor suas vontades e candidaturas país afora. O centro começa a ganhar independência dos extremos. Se vai se manter nesse rumo, ainda é cedo, uma vez que será preciso um candidato capaz de unir os partidos. Até aqui, há pretendentes que vão começar a sair da toca no ano que vem.

PP deslocado

Há alguns meses, Progressistas, União Brasil e Republicanos falavam numa federação. Com o PP mais próximo do PL de Jair Bolsonaro, o União Brasil mudou o rumo da conversa.

Juntos somos fortes

PSD ficou com cinco capitais, o MDB com outras cinco e o União Brasil com quatro. São 14 das 26 capitais. Há quem considere uma boa largada para uma coligação que reúna essas três legendas.

Desdobramentos

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mencionou em entrevista que interceptou mensagens de uma facção criminosa estipulando votos em favor de Guilherme Boulos. O candidato do PSOL chamou a acusação de ‘Laudo falso do segundo turno”. O TRE-SP disse não ter recebido nenhuma denúncia. Essa história ainda vai dar muito pano para manga. E, avaliam os aliados de Nunes, totalmente dispensável neste momento.

CURTIDAS

Olho nele/ A vitória de Igor Normando em Belém contra o bolsonarismo põe o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), na pista da centro-esquerda para 2026. Tal e qual a vitória de Sandro Mabel em Goiânia coloca o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), na centro-direita.

Rixa eterna/ O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o ex-presidente Jair Bolsonaro têm mais um ponto de rivalidade, a investigação do deputado Gustavo Gayer (foto, PL). “Não está colando mais esse tipo de ação. E caiu, para variar, com o mesmo ministro do Supremo. Sempre ele, sempre o mesmo”, disse o ex-chefe do Executivo.

Vem por aí/ Bolsonaro, conforme o leitor da coluna já sabe, quer indicar os candidatos ao Senado em todos os estados. Agora, com o ministro Alexandre de Moraes no papel de relator de outros processos contra bolsonaristas, o ex-presidente reforçará esse pedido.

Imperatriz em Brasília/ O desfecho da eleição em Imperatriz (MA) vai desaguar na capital da República. O presidente do partido, Marcos Pereira, será pressionado a intervir no diretório regional e afastar o presidente Aluísio Mendes. Às vésperas do pleito, ele anunciou que não apoiaria a candidata do partido, Mariana Carvalho, porque ela estava aliada a Josimar do Maranhãozinho (PL).

 

A hora do divã para bolsonaristas e petistas

Publicado em Eleições 2024
Crédito: Evaristo Sa/AFP e Reprodução Instagram

Terminado o segundo turno e passado o aniversário de 79 anos do presidente Lula, a esquerda terá que repensar seu jogo se quiser chegar ao Planalto em 2026. O bolsonarismo, porém, também terá que se refazer. Isso porque o centro já percebeu que, se jogar direitinho, pode dispensar os extremos. Neste segundo turno, Fortaleza salvou a imagem do PT, com a vitória de Evandro Leitão. Da mesma forma, Cuiabá (MT) e Aracaju (SE) limparam a barra do bolsonarismo. Porém, em vários locais onde Lula e Bolsonaro jogaram todas as suas fichas, eles perderam. Em São Paulo, por exemplo, Lula faz campanha para Guilherme Boulos (PSol) desde antes das eleições. Não deu. Em Fortaleza, Goiânia, Imperatriz (MA), os candidatos que receberam o apoio de Jair Bolsonaro terminaram derrotados.

Os partidos de centro que vão se enfrentar pela disputa da Presidência da Câmara saem desta eleição municipal fortalecidos e com a certeza de que, se jogarem juntos em 2026, com um candidato capaz de puxar votos, é possível ficar longe, seja de Jair Bolsonaro, seja de Lula.  No fundo, esses partidos sempre foram aliados do PT e do bolsonarismo por uma questão de sobrevivência e não de afinidade ideológica. Agora, restará ao PT e ao PL bolsonarista encontrar meios de dizer ao centro que eles ainda têm força para liderar o processo.  O centro, entretanto, quer provas desse favoritismo de ambos em seus respectivos campos., afinal, outros personagens estão entrando em campo. E muitos chegaram para ficar.

Centrão caminha para se manter firme no jogo

Publicado em Eleições 2024

Blog da Denise publicado em 27 de outubro de 2024, por Denise Rothenburg

Os partidos e analistas políticos de Brasília aguardam apenas o resultado de hoje das 51 cidades em que há segundo turno para fechar o ranking dos partidos nos municípios com mais de 200 mil eleitores. O PL de Jair Bolsonaro caminha para liderar essa lista, chegando a 18 cidades, mas quem tem mesmo a força, se conseguir se unir, serão os partidos do centro — União Brasil, PSD, MDB, PP, Republicanos e PSDB. O União Brasil deve fechar essa corrida com 15 cidades, o PP, com 11; e o PSD, 12, assim como o MDB. O Podemos, 8; e o Republicanos, 7. O PT de Lula não figura nessa listagem.

» » » » »

Esses números indicam um Centrão encorpado na volta dos trabalhos do Congresso Nacional na semana que vem, para negociar com o governo. Sem os partidos de centro, não haverá meios de o presidente Lula e sua equipe econômica conseguirem aprovar as propostas no Parlamento. A conjuntura indica que cabe ao governo ir com muita calma e, de preferência, não se meter na disputa pela presidência da Câmara. Quem conhece o jogo considera que é melhor o petista esperar para recolher depois os feridos e negociar de cabeça erguida com o vitorioso.

Por aí, não

Na próxima terça-feira, o secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, tem encontro marcado com a Frente Parlamentar do Empreendedorismo para defender as medidas provisórias que tentam incrementar a receita da União. É bom ele se preparar para ouvir dos deputados e senadores que o espaço para ampliação da Receita está esgotado. O jeito é o governo reduzir despesas.

A hora da verdade

O governo vai insistir na medida provisória que institui a cobrança de 15% de imposto sobre o lucro de empresas multinacionais que operam no país. Os congressistas ainda não se mexeram para aprovar essa proposta. E, sem o Poder Executivo dar uma forcinha no STF para liberar as emendas ao Orçamento, ninguém vai fazer muito esforço em prol dos projetos governamentais.

Iceberg

Juristas têm dito em conversas reservadas que o escândalo da venda de sentenças caminha para ser maior do que se apresenta hoje. Por isso, a ordem é, respeitando o direito de defesa, acelerar julgamentos para não arranhar ainda mais a imagem do Poder Judiciário e insuflar mais decisões do Legislativo contra o Supremo Tribunal Federal, que tende a concentrar essas ações.

Agências na mira

O deputado Danilo Forte (União-CE) está recolhendo assinaturas para apresentar, amanhã, uma proposta de emenda constitucional de maior controle e fiscalização sobre as agências reguladoras e indicações de diretores. A ordem é colocar essas instituições sob a lupa do Parlamento antes que o governo queira mexer demais nas agências.

Foco

O objetivo hoje deve ser ampliar o controle e a investigação e não promover uma proposta que permita ao governo Lula trocar os diretores que ainda têm mandato.

CURTIDAS

Olho neles/ Os governadores do Pará, Helder Barbalho (MDB); de Goiás, Ronaldo Caiado (União), na foto; e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), farão mais tarde a contagem da largada nos respectivos estados rumo a 2026. Todos têm interesse em concorrer ao Planalto na próxima eleição e sabem que só têm chance de emplacar candidaturas se saírem bem de “casa”.

Caiado tem apoios/ “2025 será o ano de termos Caiado na pista”, afirma o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB).

Desta vez, sem apostas/ A disputa entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) está tão acirrada que os políticos dispensaram jogar suas fichas em um dos dois envolvendo vinhos caríssimos. Impossível apontar quem sairá vencedor, mesmo depois do debate da TV Globo na última sexta-feira. “Vai ser na venta do cavalo”, comenta o deputado Danilo forte (União Brasil-CE).

Bia na defesa/ A deputada Bia Kicis (PL-DF) estranhou a operação da Polícia Federal contra Gustavo Gayer às vésperas da eleição. “Trata-se de pura perseguição política para interferir nas eleições”, diz. O PL, a princípio, adotará esse discurso em apoio ao parlamentar alvo de busca e apreensão.

 

O que Marçal queria na live com Boulos

Publicado em Eleições 2024

A sabatina que o ex-coach Pablo Marçal fez nesta sexta-feira com o candidato do PSol, Guilherme Boulos,  foi sob encomenda para que o influencer, que está em Roma passeando com a família, instasse o seu público a votar nulo ou se abster. Quando a live se encaminhava para o final, Marçal disse que não votaria em Boulos de jeito nenhum e também não iria votar no “centro-esquerda” e anunciou que este pleito paulistano deverá ter a maior abstenção da história. No geral, Marçal aposta numa alta abstenção para poder criar no futuro o discurso de que, quem não votou neste segundo turno na capital paulista era seu eleitor.

O clima foi ameno, Boulos conseguiu apresentar suas propostas, se saiu bem no terreno adversário. Ambos foram bastante respeitosos, depois da agressividade do primeiro turno, onde Marçal terminou fora da rodada final. Melhor do que era esperado até pelos aliados de Boulos e seus adversários. O candidato do PSol conseguiu passar seu recado para um público mais avesso à ideologia de esquerda. Mencionou seu programa de governo, citou as escolas olímpicas, retiradas de uma proposta de Marçal. Das propostas que sua coligação elaborou para a cidade, Boulos citou a agência municipal de crédito, que pretende criar para atender micro empreendedores, e o Acredita Mulher, um projeto de financiamento de pequenos negócios voltado ao público feminino.

O difícil, porém, é traduzir isso em votos, depois do apito de Marçal pelo voto ideológico e pela abstenção. O ex-coach deixou claro que, em 2026 será candidato e que rivalizará com Boulos pelos próximos 30 anos. A live, aliás, serviu para que Pablo Marçal se apresentasse como alguém mais centrado, menos agressivo e “família”, capaz de levar o filho mais novo para realizar o sonho de tomar sorvete na Itália. À primeira vista, o encontro virtual entre Marçal e Boulos ajudou mais o ex-coach do que o candidato do PSol. Agora, a urna irá dizer se deu certo a estratégia de Boulos de tentar furar a bolha da direita por meio de um debate justamente com o ex-candidato que o acusou de viciado em cocaína e apresentou um laudo falso na véspera da eleição em segundo turno.  Marçal, por sua vez, ganhou um vídeo com o adversário para , no futuro, mostrar que é bonzinho. Acredite se quiser.