Na pandemia, idosos do Brasil enfrentam solidão e queda da renda familiar

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Foto: AFP

Queda da renda familiar e da saúde mental. Esse é o efeito da pandemia nos lares brasileiros em que vivem idosos, justamente um dos públicos mais vulneráveis à covid-19. Quase a metade deles — 47,1% — relata que as condições financeiras pioraram depois da crise sanitária. E a mesma proporção reclama que o distanciamento social tem levado a sentimentos mais frequentes de solidão.

O retrato foi traçado em uma pesquisa da Fiocruz. Com ajuda de cientistas de cinco universidades brasileiras, a equipe analisou dados de 9.173 pessoas com ao menos 60 anos, entre 24 de abril e 24 de maio do ano passado. O resultado do trabalho foi divulgado hoje, nos Cadernos de Saúde Pública, revista mensal da Fiocruz.

Antes da pandemia, 50,5% dos idosos entrevistados trabalhavam, sendo que 42,1%, não tinham vínculo empregatício. Nesse público, 79,8% enfrentaram queda na renda e 55,3% relataram forte redução e até perda total de recursos financeiros. Considerando todos os entrevistados, as taxas foram, respectivamente, de 47,1% e 23,6%.

O estudo mostra ainda que a diminuição da renda afetou de forma mais intensa idosos que vivem em lares com renda per capita domiciliar menor do que um salário-mínimo. Nesse público, apenas 12% afirmaram que alguém de casa havia recebido algum benefício do governo relacionado à pandemia.

“Na pandemia, só políticas de proteção social e o apoio de programas, como o de renda mínima, permitirão proteger idosos e seus dependentes da fome e da grande vulnerabilidade”, defende, em entrevista à Agência Bori, Dalia Elena Romero, principal autora do estudo.

Tristes e deprimidos

O cumprimento das medidas de isolamento social foi grande entre os entrevistados durante o período da pesquisa — 87,8% dos idosos disseram seguir as recomendações à risca. Mas os impactos desse comportamento entre os mais velhos variaram conforme gênero e renda.

De acordo com a Fiocruz, a sensação de tristeza ou depressão recorrente foi mais expressiva em domicílios com menor renda (32,3%) e na população feminina (35,1%). Já o sentimento frequente de solidão pelo distanciamento dos amigos e familiares foi indicado por metade dos idosos, sendo maior entre as mulheres (57,8%).

Dalia Romero acredita que o maior impacto na saúde mental das mulheres pode estar relacionado à sobrecarga de cuidados com o ambiente familiar em função da pandemia e à maior suscetibilidade econômica enfrentada por elas. “Essa vulnerabilidade, que é bem maior entre mulheres do que homens, pode levar ao sentimento de ansiedade em períodos em que há um aumento do desemprego e da pobreza”, explica.

Carmen Souza

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