Crédito: Freepik
Com Amanda S. Feitoza
A relação entre uma vida sexual ativa e saúde desperta interesse em diferentes áreas da ciência, envolvendo aspectos físicos e emocionais. O sexo pode ser um aliado poderoso na redução da ansiedade, por exemplo, por meio de mecanismos neurobiológicos e psicológicos que contribuem para o bem-estar emocional. Neste Dia do sexo (6/9), descubra benefícios de manter uma vida sexual satisfatória, segundo especialistas.
A psicóloga e sexóloga Alessandra Araújo explica que, durante a atividade sexual, o corpo libera neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, associados ao prazer e à sensação de felicidade. “O clímax desse processo é a liberação de endorfina, um neuro-hormônio que atua como um analgésico e um ansiolítico natural, promovendo uma sensação de euforia e relaxamento profundo que pode durar horas após o ato”, acrescenta. “Esse coquetel bioquímico não só melhora o humor, mas também diminui a reatividade do sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de luta ou fuga, o que leva a uma redução significativa dos níveis de estresse e ansiedade.”
Adicionalmente, no nível emocional, a intimidade sexual fortalece os laços afetivos e o senso de segurança. Alessandra justifica: “A liberação de oxitocina, frequentemente chamada de ‘hormônio do vínculo’, reforça a conexão e a confiança entre os parceiros.”
O sexo também combate sintomas depressivos devido a essa capacidade de influenciar a neuroquímica cerebral e o estado emocional. Segundo a especialista, a prática regular aumenta os níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores cujas deficiências são comumente associadas à etiologia da depressão.
A satisfação sexual ainda contribui para uma imagem corporal mais positiva, conforme a especialista: “Esse processo de revalorização do corpo e de suas sensações cria uma percepção de valor próprio que vai além da aparência física.”
No ápice das relações sexuais, o equilíbrio mental e o humor são regulados. Alessandra salienta que o orgasmo promove a liberação de hormônios que combatem a insônia e aumentam a qualidade de sono devido ao relaxamento pós-coito.
Já a falta de vida sexual, especialmente quando é resultado de insatisfação, conflito ou solidão, pode impactar negativamente a saúde psicológica, conforme a psicóloga. “A ausência dos efeitos neurobiológicos positivos mencionados pode deixar o indivíduo mais vulnerável ao estresse, à ansiedade e a variações de humor”, expõe. “A privação da intimidade física e do toque, essenciais para a saúde humana, pode levar a sentimentos de isolamento.”
A função cardiovascular e o sistema imunológico também são beneficiados com a atividade sexual. É o que explica a ginecologista especialista em sexualidade Cecília Nessimian. Ela enfatiza que o aumento da frequência cardíaca durante o ato tem efeito semelhante ao exercício leve a moderado.
Na ginecologia, é comprovado que o sexo promove o bem-estar físico e emocional na liberação de endorfinas, ocitocina e dopaminas. “Esses mediadores reduzem sintomas de ansiedade e depressão, além de fortalecer vínculos afetivos e autoestima”, reitera Cecília. Além disso, ela evidencia que o orgasmo resulta em relaxamento muscular e redução do cortisol.
“Em qualquer idade, a atividade sexual traz benefícios físicos e emocionais”, aponta. “Em mulheres mais jovens, destaca-se o impacto positivo sobre autoestima, qualidade do sono, imunidade e bem-estar global. Já no climatério e pós-menopausa, o sexo contribui também para a saúde urogenital, manutenção da lubrificação, preservação da função cognitiva e qualidade de vida, independentemente da fertilidade.”
Mais do que a frequência, a qualidade da experiência é um fator determinante. Segundo a ginecologista, prazer, segurança e vínculo ditam os benefícios emocionais e físicos do sexo.
O sexo vai muito além de um ato biológico de reprodução. Para Pedro Leopoldo de Araújo Ortiz, médico psiquiatra, trata-se de uma das dimensões mais complexas da experiência humana. “O sexo não serve apenas para gerar descendentes, ele é usado para prazer, vínculo, intimidade e alívio do estresse”, afirma. Ortiz explica que, ao contrário de quase todas as outras espécies, os seres humanos têm a capacidade de transformar o sexo em uma ferramenta poderosa para a saúde mental.
Segundo o especialista, o cérebro humano ativa uma orquestra de substâncias durante a atividade sexual. Entre elas, a oxitocina, frequentemente chamada de “hormônio do amor”, é liberada durante o orgasmo e cria laços, fortalece a confiança e aprofunda a conexão com o parceiro. Além disso, o sexo aumenta a produção de endorfinas, analgésicos naturais, e diminui o cortisol, hormônio do estresse, gerando aquela sensação de relaxamento e paz após a relação.
Ortiz disserta que o alívio do estresse é um processo neuroquímico. “O corpo reduz a produção de cortisol enquanto libera oxitocina e endorfina”, afirma. Esses efeitos, segundo o psiquiatra, tornam a atividade sexual comparável a técnicas de relaxamento como meditação ou exercícios físicos. Em casos de estresse leve ou moderado, a sensação de calma pode até se assemelhar à ação de um ansiolítico em dose baixa.
Ortiz menciona que pesquisas recentes indicam que a frequência sexual ideal está entre 52 e 103 vezes por ano. A atividade sexual também está ligada à imunidade. O especialista cita estudos da Wilkes University, nos Estados Unidos, que mostraram que pessoas que fazem sexo uma ou duas vezes por semana têm 30% mais imunoglobulina A (IgA), anticorpo que protege contra infecções como gripe e resfriado.
“A excitação sexual e o orgasmo ativam o sistema imunológico, aumentando a produção de anticorpos e a atividade de glóbulos brancos”, justifica. O psiquiatra acrescenta que mesmo a masturbação pode trazer benefícios, desde que envolva excitação e orgasmo.
“A atividade sexual regular protege contra o declínio cognitivo, a depressão e doenças neurodegenerativas”, afirma Ortiz. De acordo com o especialista, o sexo estimula a criação de novas células no hipocampo, melhora a circulação cerebral e libera dopamina, serotonina e oxitocina, combatendo a solidão e o isolamento — fatores de risco para depressão.
O foco excessivo no desempenho, no entanto, pode anular os benefícios da sexualidade. “Quando o sexo se transforma em uma prova de fogo, o corpo se submete a um roteiro rígido e a vitalidade se esgota”, explica Otriz. Ele defende que o que importa é a qualidade da conexão, a troca de olhares, o toque e a vulnerabilidade. “É nesse vínculo de afeto que a magia acontece, e onde a saúde mental e física encontram refúgio”, afirma.
A ausência de vida sexual também tem impactos comprovados. Estudos indicam que tanto a falta quanto o excesso de sexo podem ser prejudiciais. “A falta de sexo pode ser um reflexo de desequilíbrios emocionais, como depressão, ansiedade ou baixa autoestima”, observa. Para o psiquiatra, o importante é perceber que a sexualidade é parte integral do bem-estar físico e mental, não apenas um comportamento isolado.
Ortiz enfatiza o papel da comunicação aberta sobre sexualidade. Ele lembra que Freud já identificava a repressão sexual como fator de neuroses e que, historicamente, a vergonha em torno do sexo causou sofrimento e adoecimento. “O silêncio sobre o sexo é um veneno silencioso que corrompe corpo e mente”, alerta. Falar sobre sexualidade, segundo Ortiz, é um ato de libertação: permite que o corpo relaxe, que o prazer seja vivido plenamente e que neuroquímicos benéficos para a saúde sejam liberados. “A liberdade de expressar a sexualidade é a cura”, conclui.
Acordar e perceber que gozou dormindo é mais comum do que parece, e não acontece…
A asfixia durante o sexo se tornou uma prática comum na vida íntima de jovens…
A trajetória de Kariely de Andrade, 27 anos, começou no consultório, mas tomou outro rumo…
O panorama da vida sexual dos brasileiros mudou de forma significativa desde 2005. Duas décadas após o…
Desde cedo, a socialização sexual performa um duplo julgamento baseado em gênero. Os que nasceram…
Durante décadas, o imaginário sexual feminino foi condicionado à figura da mulher passiva — aquela…