Sexo anal: saiba os mitos e verdades sobre a prática

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Com Arthur Monteiro*

Tabu em muitas relações, o sexo anal pode ser tão prazeroso quanto outras práticas sexuais, mas envolve cuidados específicos. É o que explica a sexóloga Alessandra Araújo, que destaca que a região anal possui muitas terminações nervosas que podem proporcionar prazer intenso quando estimuladas de forma adequada.

Para pessoas com próstata, a estimulação anal pode gerar um prazer profundo, glândula que a especialista pontua ser muito sensível e capaz de provocar orgasmos intensos. Já para pessoas sem próstata, o prazer anal pode ser resultado da ativação de terminações nervosas e da conexão psicológica com a experiência.

Mas há fatores que valem para ambos. “O relaxamento da musculatura, o uso de lubrificação e uma abordagem gradual são fundamentais para tornar a prática prazerosa”, explica a sexóloga.

Apesar das possibilidades de prazer, o sexo anal muitas vezes é acompanhado de preconceitos. A associação da prática com a comunidade LGBTQIA+ vem de construções culturais e sociais, mas esteve presente em diversas culturas e entre casais de todas as orientações sexuais, segundo Alessandra. “Para desmistificar essa visão, é importante abordar o sexo anal de forma natural como uma prática humana, independente da orientação sexual, e mostrar que o prazer anal não define a identidade de alguém”, disserta.

Foi assim que C*, homem bissexual, introduziu a estimulação anal com a parceira. No caso, C* já havia tido relações com outros homens, e a prática não era um tabu para ele – por mais que reconheça que homens que pedem para uma mulher penetra-los podem não ser bem aceitos. “Minha parceira é muito cuidadosa comigo e garante que a experiência seja legal para os dois. É legal para sair da rotina, além de que o orgasmo anal é muito diferente do orgasmo só com estímulo no pênis. Recomendo (risos)”, diz C*.

U*, mulher bissexual de 20 anos, introduziu o sexo anal com o parceiro há algum tempo. Confortável com a dinâmica sexual que já tinham antes, U* decidiu explorar novas partes do corpo quando estão entre quatro paredes. Apegada às regras de respeito e compreensão do parceiro, ela ressalta: “Saber que ele não vai menosprezar meu desconforto foi essencial. A primeira vez só precisei de um momento de coragem, sempre tive curiosidade”.

A sexóloga ressalta que o orgasmo anal existe — e não pode te machucar: “Algumas pessoas conseguem atingi-lo apenas com a estimulação anal, especialmente aquelas com próstata. Para outras, o prazer anal é intensificado quando combinado com estímulos em outras zonas erógenas, como o pênis, o clitóris, os mamilos ou até a estimulação psicológica associada à prática.”

Cuidados e mitos

Vale lembrar que o ânus não é naturalmente lubrificado e pode ser sensível ao desconforto. “Antes de qualquer tentativa, o casal deve conversar abertamente sobre desejos, expectativas e limites. A comunicação deve continuar durante o ato, com sinais verbais ou não verbais para ajustar a intensidade e o ritmo”, expõe Alessandra.

A premissa de que o sexo anal sempre dói é um mito, fala que a sexóloga desmente: “Com preparo, lubrificação e paciência, a experiência pode ser prazerosa e sem desconforto.” Outra visão comum é de que quem pratica o sexo anal perde o controle do esfíncter – Alessandra argumenta que o ânus é um músculo, e, como qualquer outro, pode ser treinado e fortalecido. Mas o uso de anestésicos é contraindicado.

Do ponto de vista médico, a proctologista Thais Takahashi completa que o sexo anal não causa hemorroidas, mas as pessoas que convivem com esta condição podem achar a prática mais desconfortável. A especialista reforça que o sexo anal é seguro, desde que sejam tomados certos cuidados.

Ela destaca a importância da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, considerando os riscos de transmissão por essa via. Mas caso não tenha o uso do preservativo, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a PrEP (Profilaxia Pré Exposição) como alternativa de prevenção contra o HIV. Esse método deve ser acompanhado regularmente por exames.

Para os iniciantes

Para quem está começando a explorar o sexo anal, a sexóloga indica posições que permitem maior controle do ritmo e profundidade da penetração, como deitados de lado ou por cima. “Independentemente da posição, é fundamental o uso de lubrificação e o início com movimentos lentos e suaves”, relembra.

Os brinquedos sexuais também podem ser ótimos aliados na adaptação da musculatura anal e na exploração do prazer. Para iniciantes, os mais indicados são: plugs anais pequenos e com base larga, que ajudam a acostumar o corpo à sensação de penetração; dilatadores anais, que podem ser usados progressivamente para treinar a musculatura; e vibradores de próstata, para quem deseja estimular essa região de forma mais intensa.

“É essencial escolher materiais seguros, como silicone médico, e sempre higienizar os brinquedos antes e depois do uso”, Alessandra acrescenta.

Beijo grego

Surgido de práticas de orgias masculinas na Grécia Antiga, a estimulação oral da região anal, comumente chamada de beijo grego, pode ser segura quando feito com higiene adequada. A sexóloga alerta que a prática apresenta alguns riscos de transmissão de infecções, especialmente se houver contato com fezes ou mucosas irritadas.

Medidas para tornar o beijo grego seguro incluem a higienização prévia com água e sabão ou lenços umedecidos; uso de proteção; evitar a prática em casos de cortes, irritações ou infecções na região anal ou na boca; e escovar os dentes antes e depois do beijo para reduzir riscos bacterianos.

Fisting

O produtor de conteúdo adulto Fernando Brutto expandiu os horizontes do sexo anal com o fisting — prática em que o orifício é penetrado por um punho — há alguns anos, durante brincadeiras em casa com outro ator erótico. O que a princípio parecia um convite assustador acabou se tornando uma experiência bastante prazerosa para ele.

Performer em festas eletrônicas que reivindicam o BDSM como traço estético, Brutto já viralizou com as reações do público às apresentações de fisting das quais participou. Conhecido na cena, ele conta para o Blog Daquilo como é a preparação necessária antes de subir aos palcos: “Práticas como essa exigem muita confiança. Não é só subir lá e deixar inserir um braço no meu reto; coisas como essa exigem ritmo e cuidado”.

Para os aventureiros que, algum dia, pretendam começar a praticar fisting, o ator recomenda criar uma palavra de segurança entre quem está penetrando e para quem é penetrado, usar bastante lubrificação – em especial o J-LUBE, lubrificante concentrado de mão para trabalhos obstétricos – e realizar a higienização anal e das mãos do parceiro.

*Estagiário sob a supervisão de Ana Raquel Lelles

Bianca Lucca

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