O Dia do Orgasmo, comemorado em 31 de julho, surgiu como uma iniciativa para celebrar o prazer e iniciar discussões sobre sexualidade. As primeiras experiências com o ápice do prazer podem variar: intensas, confusas, rápidas ou até imperceptíveis.
Ao contrário do que filmes e relatos idealizados fazem parecer, nem sempre ele vem com fogos de artifício ou certeza absoluta. Para muitas pessoas, especialmente mulheres e corpos com vulva, o orgasmo pode demorar a acontecer ou ser confundido com outras sensações.
Como saber se foi um orgasmo?
Durante a excitação, segundo a médica Beatriz Franco, ginecologista do Grupo Bussade Health, ocorrem sinais físicos como aumento da lubrificação vaginal e respiração mais ofegante. O orgasmo, em geral, vem acompanhado de contrações involuntárias na região pélvica e uma sensação de “apagão” no cérebro, seguida de relaxamento profundo. Mesmo assim, ela admite que é possível se confundir: “Muito mais por uma questão de expectativas ou de achar que um orgasmo menos intenso não é válido.”
Devido a falta de ejaculação, V* não considerava que tinha tido um orgasmo . Conversando com amigas que contavam suas próprias experiências, percebeu que já tinha atingido o ápice várias vezes — mas nunca com penetração, que julgava ser o “objetivo final”. “Minha reação foi ‘ah, então isso é gozar?’ (risos). É só quando fica muito gostoso, não necessariamente com uma comprovação visual”, comenta.
Existe uma idade certa?
A ginecologista destaca que não existe uma idade média para o primeiro orgasmo — tudo depende do desenvolvimento, do autoconhecimento e da maturidade emocional. Ela aponta que mulheres que descobrem cedo o que lhes dá prazer podem vivenciar uma vida sexual mais satisfatória, mas isso não significa que quem chega lá mais tarde está em desvantagem. “Nunca é tarde para tentar compreender melhor o seu corpo e suas preferências”, reforça.
E quando ele nunca veio?
Beatriz é direta ao tranquilizar quem nunca experienciou o gozo: “O orgasmo está muito mais relacionado com a cabeça do que com algum problema fisiológico.” Ela reforça que não há nada de errado com quem ainda não sentiu prazer e que isso pode ser trabalhado com tempo, entrega e protagonismo. “É uma questão de treinamento e dedicação. Importante também tentar não colocar o orgasmo em foco durante o ato sexual, quanto mais existe essa pressão, mais difícil é.”
Explorando o próprio corpo
Boa parte das mulheres não consegue atingir o orgasmo a partir da penetração, sendo o clitóris o principal responsável pelo estímulo, segundo a ginecologista. Por isso, a primeira relação com penetração não costuma vir acompanhada do ápice. A especialista destaca que, para a maioria, o primeiro orgasmo real acontece durante a masturbação.
Foi o que aconteceu com A*, que, no início da vida sexual, só alcançava o ápice quando estava sozinha. “Sentia que precisava performar com outra pessoa e nunca conseguia relaxar totalmente até gozar”, descreve. Quando finalmente conseguiu atingir o orgasmo em dupla, foi com o namorado, com quem tinha confiança, durante o sexo oral.
A médica afirma que a educação sexual é um dos pilares para uma vida íntima satisfatória. Quando a mulher entende o que lhe dá prazer e como o próprio corpo funciona, ela consegue se conectar melhor com ela mesma e com a parceria. “A partir do momento que essas dúvidas são elucidadas e compreendido como evitar uma gestação indesejada ou alguma infecção, as mulheres conseguem diminuir o fator do medo e angústia e assim aproveitar mais o momento de conexão e prazer das relações”, explica.
Mitos que ainda atrapalham
No consultório, Beatriz escuta com frequência equívocos sobre o prazer feminino. Muitas mulheres ainda acreditam que o orgasmo precisa estar necessariamente ligado à penetração ou que ele deve acontecer em sintonia com o parceiro. “Muitas vezes negligenciam o autoconhecimento e o diálogo”, observa. Para ela, a libido feminina é complexa e multifatorial, e o prazer depende mais de conexão, saúde mental e abertura do que apenas do ato sexual em si.
Com a falta de representatividade de prazer feminino em conteúdos adultos, M*, que foi exposta à pornografia cedo demais, achava que mulheres não gozavam. Ela imaginou que seu papel no sexo era apenas fornecer prazer. “Acho que criei um bloqueio tão forte com isso que até com estímulos clitorianos eu não sentia nada”, lamenta. “Hoje, graças a Deus, eu sei que mulheres gozam sim.”
Culpa, medo e religiosidade
Tabus culturais, religiosos e familiares podem atrapalhar bastante o processo de descoberta do prazer. Para Beatriz, o prazer feminino ainda é marcado por silêncios e repressões. “Durante o ato sexual, culpa, medo e tabus podem vir à tona e atrapalhar o desempenho”, diz. Segundo ela, para que o orgasmo aconteça, é preciso relaxar, se desligar de pensamentos negativos e até recorrer a fantasias, erotismo e desejo como formas de conexão.
Esse foi o caso de K*, que, na adolescência, descobriu a masturbação e deleitou-se nos prazeres do orgasmo solo. No entanto, sentia-se culpada toda vez que acabava. Cristã, K* lembra que se sentia suja, impura e uma pecadora. Mas não há nada de errado em explorar o próprio corpo — pelo contrário, é uma prática saudável.
Começando com segurança
Por fim, a médica deixa recomendações importantes para quem está começando a explorar a própria sexualidade. Criar um ambiente seguro, conversar com a parceria e respeitar os próprios limites são passos fundamentais. Ela lembra ainda que o uso de preservativos é indispensável, assim como a busca por orientação médica. “Sexo deve ser algo divertido e prazeroso, mas que exige também responsabilidade”, conclui.

