O nome de Bianca Censori viralizou nas redes sociais após a aparição da modelo no Grammy (2/2) em um vestido completamente transparente — e nada por baixo. Em contraste com o marido, Kanye West, todo coberto de preto da cabeça aos pés.
Para Kaw Cândia, pesquisadora feminista e administradora da página no Instagram Mulheres Lua, a maneira como Bianca tem sido retratada ao lado do marido reflete uma sociedade profundamente misógina. “A hipersexualização que ela enfrenta em cada aparição levanta uma questão: o quanto a sociedade condiciona as mulheres a acreditarem que a visibilidade está atrelada à aparência?”, questiona.
Uma linha tênue entre o empoderamento feminino e a objetificação com a nudez reside na autonomia da mulher sobre o próprio corpo, o que Kaw define como a liberdade genuína de decidir, sem coerção. “Às vezes, vemos mulheres acreditando que precisam expor seus corpos para serem valorizadas — isso não é empoderamento; é um reflexo das expectativas sociais prejudiciais que devemos combater”, ressalta.
Repercussões psicológicas podem resultar da objetificação, como padrões irreais de beleza, distúrbios alimentares, ansiedade e dismorfia corporal. “Viver sob vigilância externa constante desgasta emocionalmente qualquer um”, diz Kaw. Além disso, a diferença da exibição corporal entre homens e mulheres é gritante, fato que Kaw justifica como a redução de uma mulher a um objeto de desejo – enquanto um homem seria visto como símbolo de força e autoridade.
Embora a submissão fetichista exista dentro da sexualidade, as dinâmicas envolvidas nas relações sexuais consensuais precisam de cuidados. “A verdadeira fantasia sexual deve ser baseada no prazer mútuo—um espaço seguro onde ambas partes têm voz ativa. Uma mulher deve sempre ter liberdade total para expressar limites”, alerta Kaw.
Casos de exposição corporal como o vestido transparente de Rihanna na premiação CFDA Awards, em 2014, e até a própria Anitta que utiliza da imagem sexualizada na indústria musical, são divergentes da aparição de Bianca, na opinião de Kaw. “Se sentir sexy é libertador, mas a inconsciência do ato perante contextos sociais deve ser levada em consideração”, propõe.
A ativista de corpos livres Alexandra Gurgel questiona o olhar sobre o corpo da mulher exposto para benefício masculino. “Como seria se ela tivesse ido sozinha com esse look? Será que ela não estaria sendo detonada?”, questiona.
A contradição existe para a ativista a partir do momento em que Kanye cria o visual usado pela modelo e se afasta dela na hora das fotos — como ocorreu durante a premiação de música. “Podemos achar que estamos nos libertando, mas estamos atendendo expectativas externas. Kanye sempre foi polêmico com os relacionamentos dele, e não dá para saber até onde Bianca se beneficia disso”, pontua.
O sentir-se bem com a sexualização, e não a submissão, é um fato que deve ser discernido, conclui a especialista.