Quando conversou com o Blog Daquilo, em junho deste ano, o psicólogo João Nery, transexual que inspirou a personagem Ivana, da novela A força do querer, fez a seguinte avaliação: “É importante que a Ivana conquiste as pessoas. Essa novela pode ajudar a combater preconceitos”. Agora, pesquisadoras americanas mostram que Nery estava coberto de razão.
Em um estudo publicado na revista especializada Sex Roles, o grupo de cientistas constatou o poder que programas de televisão têm de influenciar as opiniões dos espectadores sobre as pessoas trans e a luta delas por direitos.
Para chegar a essa conclusão, as autoras entrevistaram 488 pessoas que costumam assistir à série de tevê americana Royal pains. Dessas, 391 haviam visto um episódio que mostra a realidade de uma adolescente transexual, interpretada pela ativista trans Nicole Maines. O programa foi ao ar pela primeira vez em junho de 2015.
Quando compararam as respostas dadas pelos participantes, as pesquisadoras notaram que as pessoas que haviam assistido ao episódio com Nicole tinham uma postura mais positiva em relação aos transexuais e demonstravam mais apoio a demandas dessa população, como o direito a usar banheiros públicos direcionados ao gênero com o qual a pessoa se identifica.
Transexual fictício x real
O estudo chegou ainda a outras conclusões interessantes. Uma delas foi a de que a história ficcional de Royal pains tinha influenciado mais os espectadores do que reportagens jornalísticas, como as que mostraram a transição para o gênero feminino feito por Caitlyn Jenner, ex-campeã olímpica e estrela do reality show Keeping Up with the Kardashians.
Além disso, o trabalho mostrou um efeito cumulativo. Quanto mais programas que abordam a temática trans os espectadores tinham visto (como o seriado Transparent, da Amazon, e Orange is the new black, da Netflix) mais apoio eles demonstravam aos direitos de transexuais. E isso foi observado mesmo entre os participantes com posições políticas mais conservadoras.
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“Assistir a programas de tevê que mostram personagens transgêneros podem romper preconceitos ideológicos de uma maneira que o noticiário não consegue. Isso é especialmente verdadeiro quando as histórias contadas trazem esperança ou quando os espectadores podem se identificar com os personagens”, avalia, em um comunicado, Erica Rosenthal, coautora do estudo e pesquisadora da University of Southern California (USC).
Para Traci Gillig, principal autora do estudo e doutoranda em comunicação da USC, o grande mérito da análise foi medir, pela primeira vez, o impacto do aumento de personagens trans na televisão observado nos últimos anos. “Enquanto a visibilidade na mídia das pessoas transgêneras alcançou um nível maior recentemente, pouco se sabe sobre os efeitos dessa visibilidade. Nosso estudo mostra o poder que narrativas de entretenimento têm de influenciar a postura de espectadores sobre pessoas trans e questões políticas relacionadas a elas”, diz.
