Como as pessoas, a língua sofre perseguição. As vítimas variam. Há pouco, a intolerância recaiu sobre a mesóclise — colocação do pronome átono no meio do verbo (dir-se-ia). A mais recente atinge o pronome cujo. Argumentos para a criação do clima de chega pra lá não faltam. Vão da feiura, passam pelo cacófato e chegam ao erro. No fundo, no fundo, a realidade é outra.
Chama-se ignorância. Sem saber usar as sofisticadas formas, falantes bancam a raposa da fábula do La Fontaine. Conhece? Morta de fome, ela queria apanhar um cacho de uvas pra acalmar o estômago. Não conseguiu por mais que se esforçasse. Ante o fracasso, não assumiu a impotência. “Estão verdes”, disse ela com desdém.
Pérola negra
Não banque a raposa. Use o cujo com o requinte ditado pelo figurino. Pronome relativo, o dissílabo pertence à família do que, o qual, onde. É o membro chique do clã. Refinado, impõe três requisitos para brilhar no período. São exigências simples como simples é o sofisticado.
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