Vírgula intrusa

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A capa da revista é pra lá de atraente. Trata do preço da saúde. O assunto interessa ao governo, aos empresários e aos brasileiros — pobres, ricos ou remediados. Mas…surpresa! A edição vendeu pouco nas bancas. Editores e repórteres, preocupados com o ibope, fizeram o que sabem saber: apurar os fatos.


Pergunta daqui, investiga dali, eureca! A vilã da história é a vírgula. O vermelhão da chamada não deixa o sinalzinho passar despercebido. Lá está: “A medicina avança, e salva mais vidas, mas está cada vez mais difícil para as pessoas, as empresas e os governos pagar esse progresso”.


Vírgula antes do e? A conjunção detesta excessos. Econômica, dispensa a bengalinha:

Trabalho e estudo.

Vou a Brasília e depois a São Paulo.

Os advogados visitaram o cliente na prisão e voltaram para o escritório.


Há exceção? Só uma. O e vai de dose dupla quando:

a. liga orações com sujeitos diferentes

b.  sem ele, pode haver confusão na leitura

Lula cumprimentou Dilma e o assessor se aproximou para abraçá-los.

Percebeu? O período tem duas orações com sujeitos diferentes. Um é Lula. O outro, o assessor. Uma leitura rápida dá a impressão de que Lula cumprimentou Dilma e o assessor. A ambigüidade é pecado mortal. Como escapar das chamas do inferno? A vírgula salva:

Lula cumprimentou Dilma, e o assessor se aproximou para abraçá-los.


Não é o caso da capa da Veja:

A medicina avança, e salva vidas.

Quem avança e quem salva vidas é a medicina. Com o mesmo sujeito e sem risco de ambigüidade, a vírgula não tem vez. Xô, intrusa!

A medicina avança e salva vidas.

Dad Squarisi

Publicado por
Dad Squarisi

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