O calo mais doloroso da língua? É a vírgula. São tantas informações desencontradas que a moçada mergulha em mar revolto de confusão. Alguns dizem que o emprego do sinalzinho depende do gosto do freguês. A gente o põe onde tem vontade. Outros afirmam que basta ler a frase. Parou pra respirar? Pronto. Taca-lhe a pausa. Aí surge um problema. Como os asmáticos vão se virar? Outros, ainda, juram que o melhor é consultar a meia dúzia de criaturas que dominam o assunto. José Cândido de Carvalho conta história que tem tudo a ver com a turma folgada.
Freixeiras, funcionário da Companhia de Água e Esgotos do Rio de Janeiro, tinha um grande orgulho. Era a única pessoa na repartição que sabia pôr as vírgulas no lugar certo. Todos o reverenciavam por isso. Ninguém ousava contrariá-lo. Mas um dia… Chegou novo chefe. O mandachuva assinava a correspondência. Um pouco distraído, pediu a Freixeiras que tirasse certa vírgula de certo lugar. Freixeiras tremeu. Que ousadia! Ficou duas horas remoendo tira-a-vírgula-não tira-a-vírgula. Finalmente, decidiu-se. Foi à sala do diretor e intimou-o:
— Ou eu ou a vírgula.
A demissão do virgulino obrigou os demais servidores a deixar o comodismo. Pra garantir o emprego, eles resolveram estudar. Consulta daqui, pesquisa dali, descobriram que o diabo não é tão feio quanto o pintam. O emprego da tão temida pausa obedece a três regras. Ela separa sempre: termos coordenados, termos explicativos e termos deslocados. Como diz o esquartejador, vamos por partes. Comecemos pelos coordenados.
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