Al Martin Com espanto, li na edição online de um de nossos grandes quotidianos o título seguinte: «Tenente invade hospital e mata 3 para se vingar de irmão em Aracaju». Confesso que não entendi. Se o indivíduo queria se vingar do irmão, por que, diabos, não se atracou diretamente com o mano? Apesar de não ser leitor assíduo de colunas policiais, resolvi ler a notícia, intrigado que fiquei com a atitude incoerente do militar. O primeiro parágrafo logo me esclareceu. Exasperado com o fato de seu irmão ter sido assassinado quando de uma troca de tiros decorrente do roubo de uma motocicleta, o tenente decidiu fazer justiça com as próprias mãos. Invadiu um hospital e não deixou por menos: pôs fim à vida de três indivíduos envolvidos no tiroteio. A chamada do jornal dizia exatamente o contrário do que pretendia transmitir. O militar não procurava se vingar do irmão, mas vingar o irmão. Vingar é verbo caprichoso de regência múltipla. Um deslize pode baralhar a frase. Embora haja outras acepções, vingar é geralmente usado assim: João ofendeu Pedro. Para vingar-se de João, Pedro deu-lhe um tapa na cara. João ofendeu Pedro. Para vingar o filho, o pai de Pedro denunciou João à diretoria. Plantei uma muda de maria-sem-vergonha, mas ela não vingou. Dizem que a vingança é prato que se come frio. Nosso valoroso tenente deveria ter deixado esfriar o mingau. Que um cidadão se sinta livre de passar por cima da lei e fazer justiça com as próprias mãos é mau sinal: estamos voltando ao faroeste.
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