Não é Antarctica. Mas virou unanimidade nacional. Aparece de norte a sul desta alegre Pindorama. Faixas, cartazes, classificados anunciam sem cerimônia. É “vende-se apartamentos” pra cá, “conserta-se roupas” pra lá, “aluga-se carros” pracolá, “prega-se botões” pra todos os lados. De tanto ver as pérolas, o olhar se acostuma. A crítica relaxa. Todos têm a impressão de que a forma merece nota 10. Mas é pura ilusão.
Na frase como na vida, manda quem pode, obedece quem tem juízo. O verbo faz as vezes de vassalo. Concorda em pessoa e número com o sujeito. Por isso, flexiona-se segundo o mandachuva: eu trabalho, ele trabalha, nós trabalhamos, eles trabalham.
Há sujeitos e sujeitos. Uns, trabalhadores, praticam a ação expressa pelo verbo. Assumem. São agentes da ação:
Paulo escreveu a carta.
Quem escreveu? Paulo. O sujeito pratica a ação. O verbo está na voz ativa.
Há sujeitos preguiçosos. Não querem nada com nada. Só moleza. Passivos, sofrem a ação:
A carta foi escrita por Paulo.
Que é que foi escrita? A carta. O sujeito não pratica a ação. Mas mantém a majestade. Continua sujeito. O verbo está na voz passiva.
Existem dois jeitos de formar a voz passiva:
1. Com o verbo ser:
Os bebês foram trocados.
Quem é que foi trocado? Os bebês, sujeito. Essa concordância ninguém erra.
2. Com o pronome se. Aí, Deus nos acuda. E nos livre. Os bebês foram trocados é o mesmo que trocaram-se os bebês. Numa e noutra, o sujeito é bebês. O verbo tem de concordar com ele.
Mais exemplos:
Vendem-se apartamentos. (Que é que é vendido? Apartamentos, sujeito.)
Compram-se joias. (Que é que é comprado? Joias, sujeito.)
Alugam-se carros. (Que é que é alugado? Carros, sujeito.)
Troca-se esta casa. (Que é que é trocado? Esta casa, sujeito.)
Superdica
Os descuidados tropeçam a toda hora na concordância da passiva com se. Sabe por quê? Acham que o sujeito tem que ser ativo. Esquecem-se de que as aparências enganam. Na dúvida, construa a frase com o verbo ser:
Vende-se ou vendem-se apartamentos? Apartamentos são vendidos.
Em ambas, apartamentos é o sujeito. A regra não muda. Sujeito no plural, verbo no plural. Logo, vendem-se apartamentos.
Alugam-se carros. Carros são alugados.
Forram-se botões. Botões são forrados.
Cometem-se erros. Erros são cometidos.
Lê-se o jornal. O jornal é lido.
Desafio
Topa fazer um teste? O desafio: assinalar a frase nota 10. A recompensa: se acertar, presenteie-se com um bombom. Se não, releia a lição. Depois, saboreie dois bombons:
a. Na feira, vendem-se frutas baratas.
b. Na feira, vende-se frutas baratas.
Recorreu à superdica? No troca-troca, você ficou com “Na feira, frutas baratas são vendidas”. Então, marcou a letra a. Bom proveito.
A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…
Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…
O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…
Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…
As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…
Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…