Uma metonímia chamada Brasília

Compartilhe

Figura de linguagem é assunto estudado na escola. Metáfora, hipérbole, sinédoque parecem ETs, sem vínculo com a vida. O que fazer? A meninada as decora. Faz a prova e… pronto. Passa. “Adeus, pra nunca mais”, dizem rapazes e moças.

Puro engano. Os tropos não nos largam o pé. É o caso da metonímia. A greguinha emprega uma palavra em lugar de outra que a sugere. Versátil, faz as vezes de Bombril. Tem mil e uma utilidades. Com ela, a gente faz mágicas. Uma delas: toma a parte pelo todo. Brasília serve de exemplo.

A capital do Brasil hospeda os representantes dos Três Poderes. Executivo, Legislativo e Judiciário têm na cidade a sede federal. Daqui saem medidas que afetam o Brasil inteiro. E ecoam pelos quatro cantos do país.

Nos últimos tempos, as notícias ruins têm predominado nas manchetes. Processos dormem na Justiça por décadas. Governo compra votos pra aprovar projetos. Deputados e senadores vendem a consciência em troca de mensalões e favores do mesmo naipe. O dinheiro dos impostos vai pra envelopes, meias e bolsas. É a receita do cruz-credo. Xô!   A parte vira o todo

O pedacinho negativo de Brasília dá passagem à metonímia. Os gabinetes carpetados da Esplanada passaram a significar insensibilidade, que rima com irracionalidade, que tem tudo a ver com a alienação da Ilha da Fantasia. Mensalão virou sinônimo de corrupção e dá nome aos salários pagos aos brasilienses.

Em outras palavras: a parte (o pedaço podre) tornou-se sinônimo do todo (o Distrito Federal). Há aí ignorância ou má-fé. Boa parte dos brasileiros não conhece a própria capital. Guia-se pelas imagens transmitidas pela tevê — plenários vazios, carros oficiais em lugares impróprios, avalanches de denúncias dos Durvais Barbosas da vida.

Desconhece que Brasília é a cidade que mais lê no país, que ostenta a melhor qualidade de ensino, que tem o corpo docente mais qualificado das unidades da Federação, que exibe o melhor IDH nacional, que serve de exemplo pela civilização no trânsito, que zela pelo meio ambiente para manter o ar respirável, as áreas verdes intocadas e os jardins floridos.   Hóspedes e anfitriões

A maior parte de ocupantes dos gabinetes carpetados vem de fora. São hóspedes que gaúchos, paulistas, paraenses, mineiros encaminham pra cidade por tempo determinado. Muitos fazem senhores estragos nos dois, três ou quatro anos que aqui permanecem. Não honram a casa dos anfitriões. Brasília não foge à regra. Tem moradores membros da mesma gangue. Mas é minoria.

Dad Squarisi

Publicado por
Dad Squarisi

Posts recentes

  • Dicas de português

Dicas de português: Páscoa, coelhinhos e chocolate

A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…

1 ano atrás
  • Dicas de português

Os desafios da concordância com porcentagem

Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…

1 ano atrás
  • Dicas de português

Você sabe a origem do nome do mês de março?

O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…

1 ano atrás
  • Dicas de português

O terremoto na Turquia e a língua portuguesa

Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…

1 ano atrás
  • Dicas de português

Anglicismos chamam a atenção na língua portuguesa

As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…

1 ano atrás
  • Dicas de português

A simplicidade na escrita dos nomes de tribos indígenas

Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…

1 ano atrás