dad, dicas, português, tropeços, concordância verbal, sujeito pospostoRecado “As pessoas que falam muito mentem sempre porque acabam esgotando seu estoque de verdades.” Millôr Fernandes Tropeços nobres e plebeus A língua faz pactos. Um deles: a concordância. Para conviver com harmonia, estabeleceu hierarquias. O sujeito e o predicado são os mandachuvas. Na flexão do verbo, o sujeito dita as regras. Mas muitos ignoram o trato. Resultado: tropeçam. Aiiiiiiiiiiiiii… Nos textos do Millôr, “sobrava” alfinetadas. O português é flexível. Permite que os termos passeiem na frase. Mas o vaivém não muda as regras. O verbo continua vassalo. Concorda com o sujeito em pessoa e número. Ocorre que nem todos se dão conta da mudança de posição. Quando o sujeito aparece depois do verbo, é tropeço certo. Veja um exemplo: Nos textos do Millôr, sobrava alfinetadas divertidas. Ops! Se o sujeito estivesse na frente do verbo, ninguém se machucaria: Nos textos do Millôr, sobravam alfinetadas divertidas. “Aluga-se” casas A passiva sintética (construída com o pronome se) é outra tentação. Sobram placas com “vende-se frutas” ou “aluga-se casas”. Perdoai-nos, sujeitos! Senhor, mostrai-nos o caminho da salvação. Ei-lo: construa a frase com o verbo ser. Se o danadinho ficar no plural, o da passiva sintética vai atrás. Se no singular, idem: vendem-se frutas (frutas são vendidas), alugam-se casas (casas são alugadas), constrói-se muro de pedra (muro de pedra é construído). João ou Rafa “será” presidente do Brasil O ou joga em dois times. Ora inclui. Ora exclui. Olho vivo! Se mais de um sujeito pode praticar a ação, é a vez do plural: Um ou outro artista compareceram à festa (nada impede que mais de um artista apareça). O perigo mora na exclusão. Aí, só um pode reinar. O verbo tem de concordar com ele. É o caso de “João ou Rafa será presidente do Brasil”. Só há uma vaga? O singular pede passagem. Carlos é um dos alunos que “sobressai” Expressão-gilete, um dos que corta dos dois lados. Topa o singular e o plural. Moleza? Nem tanto. O singular diz que a ação se refere a um só sujeito: O Tietê é um dos rios da capital paulista que deságua no Paraná. (Só o Tietê deságua no Paraná.) O plural joga em outro time. Informa que a ação se refere a mais de uma criatura: Carlos é um dos alunos que sobressaem. (Vários alunos sobressaem. Carlos é um deles.) A maioria do povo “saíram” Partitivo é parte de um todo. Há expressões partitivas — parte de, uma porção de, grupo de, o resto de, a metade de, a maioria de. Com elas, o verbo pode concordar com o sujeito ou complemento. Quando os dois são singular, o verbo fica no singular (A maioria do povo saiu.). Quando seguidas de complemento plural, o verbo se esbalda. Pode concordar com o sujeito ou com o complemento: A maioria dos brasileiros lamentaram (lamentou) a morte do Chico e do Millôr. Metade das frutas apodreceu (apodreceram). Humoristas o mais “talentosos” possívelPossível é adjetivo. Concorda com o substantivo (acordo possível, acordos possíveis). O problema pinta na expressão “o mais…possível”. Quando flexionar o trissílabo? Olho no artigo. Possível concorda com ele: Homoristas o mais talentosos possível. Os maiores esforços possíveis. 1º de abril POEMEU EFEMÉRICO Millôr Fernandes Viva o Brasil Onde o ano inteiro É primeiro de abril Millôr disse Só se morre uma vez. Mas é para sempre. Rever é perder o encanto. A esperança é crônica. O medo é agudo. A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar ao amigo de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades. Viver é desenhar sem borracha. Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar. Esnobar / É exigir café fervendo / E deixar esfriar. Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.