Trato é trato (2)

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  Concordância verbal? Ops! É calo no pé. A danada machuca sem piedade. Confunde. Rouba prestígio. Mata amores. Mas há jeitos de conviver com ela. A melhor é lhe conhecer as manhas. Primeiro passo: ter presente a regra geral. Lembra-se? O verbo concorda em pessoa e número com o sujeito. Segundo passo: localizar o sujeito.
  O segundo passo parece fácil. Mas, em uma construção, dá nó nos miolos. Trata-se da voz passiva sintética. É a construída com a partícula se. Enganadora, ela adora pregar peças. Dá a impressão de que o sujeito não é sujeito. Pintam, então, dúvidas como esta: vende-se casas ou vendem-se casas? Muitos chutam. Mas nem sempre têm sorte. Fazem gol contra.
  A preguiçosa ardilosa
  Duas trilhas conduzem à voz passiva. Uma: a analítica, construída com a ajuda do verbo ser. A outra: a sintética ou pronominal, com o pronome se. Numa e noutra, o sujeito é o mesmo. Numa e noutra, o verbo concorda com ele. É o trato. E trato é lei.
  Compare:
  Voz passiva analítica: Na partida de domingo, um gol olímpico foi feito no Mineirão.
Voz passiva sintética: Na partida de domingo, fez-se um gol olímpico no Mineirão.
  Qual o sujeito da primeira oração? Gol olímpico. O da segunda também. Por isso o verbo está no singular.
  Vamos adiante:
  Na partida de domingo, dois gols olímpicos foram feitos no Mineirão.
Na partida de domingo, fizeram-se dois gols olímpicos no Mineirão.
  O sujeito da primeira oração é gols. O da segunda idem. Daí o plural.

  Xô, dúvida!
  Pintou dúvida na concordância da passiva sintética? Não se desespere. Nada menos que 99% dos brasileiros passam pelo mesmo aperto. Há saídas. A melhor: apele para o troca-troca. Construa a frase na passiva analítica. O sujeito será o mesmo nas duas vozes. O verbo, claro, manterá o número em ambas.
  Vende-se carros usados? Vendem-se carros usado?
Carros usados são vendidos.
Logo:
Vendem-se carros usados.
  Compare:
  Documentos foram perdidos por turistas na viagem. (Perderam-se documentos na viagem.)
Talvez o carro seja vendido. (Talvez se venda o carro.)
Talvez os carros sejam vendidos. (Talvez se vendam os carros.) 

Moral da história: Contra esperto, esperto e meio.

Dad Squarisi

Publicado por
Dad Squarisi

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