No Rio, milícias mandam, desmandam, prendem, torturam, cobram impostos, controlam o transporte, o sinal de tevê, a venda de gás, fazem censo da população para obrigar os moradores a votar na bancada bandida. São donos e senhores do pedaço. No morro, polícia não entra.
Na Amazônia, a motosserra faz a festa. Árvores caem como folhas sacudidas ao vento. Em abril, desmataram-se nada menos que 1.123km². É área similar à do município do Rio de janeiro. “Tremei, devastadores”, ameaçou Carlos Minc ao assumir o Ministério do Meio Ambiente. Quem treme somos nós.
De norte a sul do Brasil, o trânsito mutila e mata. Motoristas de porre pisam o acelerador. Percorrem estradas, avenidas e ruas sem ligar pra leis e códigos. Ignoram os semáforos. Não enxergam os pedestres. Roubam vidas e destroem famílias. Acionar os freios? Nem pensar.
Os desmandos têm um denominador comum. É o verbo faltar. O complemento também é comum. Falta Estado. A fiscalização fecha os olhos aos abusos. A polícia age em conluio com os bandidos. A sociedade esperneia, cutuca os parlamentares e aguarda solução. Enquanto a resposta não vem, presta atenção às agressões à língua.
Toma, verbo
A primeira pancada atinge o verbo em cartaz. O danado é especialista em pegar o falante pelo pé. Ele se aproveita da posição que ocupa na frase. Quando vem depois do sujeito, tem pequena faixa de manobra. Mas, quando vem antes, deita e rola. O falante esquece que está diante do sujeito. E pisa a bola. É comum, por isso, ouvir pérolas como esta:
— Falta, no Brasil inteiro, políticas capazes de conter os abusos na floresta, no asfalto e nos morros.
Viu? O sujeito (políticas) aparece depois do verbo. Deu no que deu. O orador nem se deu conta de que o verbo concorda com o sujeito esteja ele onde estiver. Bobeou. Pra escapar da cilada, bastava reestruturar o período com o sujeito na frente:
— Políticas capazes de conter os abusos na floresta, no asfalto e nos morros faltam no Brasil inteiro.
Sabia?
A maior parte dos tropeços na concordância respondem por dois nomes. Um: o deslocamento. O outro: a distância. Em outras palavras: a gente erra não por ignorar a lei, mas porque o sujeito está fora do lugar ou longe do verbo. A saída? É fácil como andar pra frente. Basta localizar o sujeito e lembrar-se de que o verbo é vaquinha de presépio. Aonde o sujeito vai, o verbo vai atrás:
Falta, apesar do empenho dos defensores do meio ambiente, medidas eficazes contra o desmatamento.
Cruz-credo! O sujeito é medidas. Ele está lonnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnge do verbo. O coitado se distraiu e … se esqueceu de obedecer à regra. Melhor entrar na linha:
Faltam, apesar do empenho dos defensores do meio ambiente, medidas eficazes contra o desmatamento.
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