O dono do texto? Não é o autor. Romances, poesias, artigos & companhia ilimitada pertencem a uma única criatura. É o leitor. Divulgados, eles criam asas e voam. Tornam-se patrimônio do consumidor. É aí que a porca torce o rabo. O mundo tem 6 bilhões de criaturas humanas. Uma obra pode se tornar 6 bilhões de obras. Milagre? Não. Cada um entende o que pode. Ou o que quer.
Vale o exemplo de uma brincadeirinha que circula por aí. Eis a questão: “Por que o frango atravessa a estrada?” Diferentes pessoas interpretam o fato. Cada uma se revela na resposta. Mostra o jeito particular de ver o mundo. Mesmo quando se esconde, as palavras a denunciam. Gritam que o rei está nu. Ou não. Quer ver? Eis o show de variedades.
“É da natureza do frango cruzar a estrada”, filosofa Aristóteles. “É porque o atual estágio das forças produtivas exigia nova classe de frangos, capazes de cruzar a estrada”, ensina Marx. “A preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de insegurança sexual”, jura Freud. “Para humilhar a franga, numa atitude exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, na condição de franga, jamais terá habilidade suficiente para cruzar a estrada”, gritam as feministas.
Os políticos? Ei-los: “A culpa é das elites estelionatárias, caucasianas e aristocráticas que usurpam e achincalham a população de frangos que, deste modo, reage e mostra a sua capacidade de luta em defesa dos seus direitos, cruzando a estrada com altivez”, esbraveja Heloísa Helena. “O meu governo foi o que construiu mais passarelas para frangos. Quando for eleito de novo, vou construir galinheiros deste lado para o frango não ter mais que atravessar a estrada” promete Maluf. “Eu não sei de nada, mas, se cruzou, foi porque queria se juntar aos outros mamíferos do seu bando”, esquiva-se alguém. Quem é?
Quer mais? Pergunte aos candidatos. Eles não o deixarão sem resposta.
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