A internet abriu as portas do mundo pra todo mundo. Derrubou barreiras e democratizou a informação. Com um clique, a gente faz e acontece. Lê jornais de Europa França e Bahia. Visita museus. Ouve música. Assiste a filmes. Conversa com pessoas que vivem do outro lado do planeta. Põe em circulação informações sem depender do aval do editor.
Graças à rede, leitores se comunicam com o blog em tempo real. Elogiam. Criticam. Sugerem. E perguntam. Perguntam muito. Nem todos recebem a resposta com a urgência que merecem. Culpa do tempo e do espaço. Hoje é dia de redenção. Com a palavra, Sua Excelência o leitor. Pérola ambígua
“O estilo”, lembra Wagner Rafael Peixoto, “tem três virtudes — clareza, clareza e clareza. O portal da Globo.com ignorou o preceito de Montaigne. Na quarta, exibiu esta chamada: `Carteira salva vendedor de tiros´. A seguir, informou: `Homem entregava produtos em uma fazenda quando foi atingido por três disparos. Ele nada sofreu´. Cruz-credo! A criatura vende tiros?” Claro que não. Mas o texto permite essa leitura. É ambíguo. Xô, sedentarismo
Luiz Serra escreve: “Hoje se comenta acerca do que é melhor para a terceira idade. Apela-se para jogos de palavras. Seriam formas de manter viva a memória da pessoa. Nelson Marcelino, meu amigo professor de Inglês, criou uma frase interessante para incentivar a atividade contra o imobilismo nessa gloriosa fase: “É melhor ter trabalho como terapia fora de casa do que ter a pia como trabalho em casa”. Concorda? É grandona?
“Devo escrever língua portuguesa com a inicial maiúscula?”, pergunta Daisy Rabelo. Não. Língua portuguesa, como língua inglesa, língua francesa, língua alemã, é vira-lata. Grafa-se com letras pequeninas. Português, inglês, alemão, italiano, russo, também. Nome de disciplina joga no time dos nobres: Estudo Português todos os dias. Gosto de todas as aulas, mas prefiro as de Física, Química e Redação. Professores de Inglês têm de se especializar no exterior. Um lá, outro cá
Wilson Ximenes escreve: ” `Porque Jean morreu´ é o título do artigo publicado no Correio Braziliense. O correto não seria `Por que Jean morreu´”?
Claro que sim. O emprego do porquê separado sem figurar em pergunta é um senhor calo da língua. Quer acertar sempre? Há jeito. Basta substituir o dissílabo por “a razão pela qual”. Se o troca-troca soar natural, não pense duas vezes. Escreva um lá e outro cá: Por que (a razão pela qual) Jean morreu. Não sei por que (a razão pela qual) os mandachuvas da Receita entregaram os cargos. Gostaria de explicar por que (a razão pela qual) o Conselho de Ética arquivou os processos contra Sarney e Arthur Virgílio. Menor é melhor
“É correto usar correspondência `datada´ de 12.12.08?”, pergunta Lygia Pinheiro. É certo, mas desnecessariamente grande. Que tal passar a tesoura nas gorduras? Assim: correspondência de 12.12.08. Melhor, não? Olho no contágio
“Devem haver livros na estante? Deve haver livros na estante? Qual é a do verbo auxiliar? Confesso: ele é incógnita para mim. Pode me ajudar a matar a charada?”, pergunta Sandra Fav.
O verbo haver no sentido de existir joga no time dos impessoais. Sem sujeito, exibe-se sempre na 3ª pessoa do singular. A impessoalidade é contagiosa. Atinge os auxiliares: Há livros na estante. Deve haver livros na estante. Pode haver livros na estante. Tem de haver livros na estante. Um ou outro?
José Augusto Cunha Paixão quer saber a regência que merece nota 10. Eis as duas possibilidades que lhe dão nó nos miolos: Procedemos à análise dos autos. Procedemos a análise dos autos.
José, regência verbal é assunto pra lá de difícil. Daí por que existem dicionários de verbos e regimes. Eles dizem se o verbo é transitivo direto, indireto ou intransitivo. Se indireto, explicam a preposição que deve acompanhar tal ou qual emprego. Na acepção de fazer, realizar, proceder exige a preposição a: Procedemos à análise dos autos. Os autores procederam à leitura da peça. O presidente procedeu à análise do projeto. Chavão
“Com o advento da Copa no Brasil em 2014, encontramos diversos textos com a expressão `pontapé inicial´. A duplinha está correta?”, indaga Renata Giordana.
Renata, o parzinho está correto. Mas é chavão. De tão repetido, ficou gasto. Perdeu o frescor. Dá a impressão de autor preguiçoso, incapaz de buscar um jeito novo de dizer. Xô!
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