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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br
Todos são iguais perante a lei? A Constituição diz que sim. Mas a realidade teima em responder não. Aqui há os mais iguais. Velhos conhecidos, ocupam o andar de cima da administração pública ou movimentam contas bancárias milionárias. Têm motorista particular. Tratam-se em hospitais de ponta. Mandam os filhos estudar na Suíça. A Justiça não os alcança. Para eles, nossa Pindorama é o melhor dos mundos. Em benesses, rivaliza com a Dinamarca, a Suécia ou a Noruega. Em submissão às reprimendas legais, parece aglomeração comandada por régulo tribal.
Há, também, os menos iguais. Mulheres ou homens, adultos ou crianças, sulistas, nortistas ou nordestinos, eles têm um denominador comum. São pobres. Frequentam escolas públicas, hospitais do governo, transporte coletivo. São as vítimas preferenciais da violência urbana. Para eles “tudo é longe”, disse Guimarães Rosa no conto “Soroco, sua mãe e sua filha”. Com educação, saúde e segurança terceiro-mundista, cumprem destino secular — perpetuam a pobreza.
Os menos iguais não ficam por aí. A sabatina do general Raymundo Nonato Cerqueira Neto no Senado tirou o véu de outro grupo. Trata-se dos homossexuais. Ricos ou pobres sofrem reservas. Ao ser questionado sobre a presença de gays nas Forças Armadas, disse que “os quartéis não devem aceitar gays” porque as tropas não obedeceriam a comandante “dessa espécie de indivíduo”. Não deu outra. Chamaram o depoente de homófobo. Uma questão se impõe: por que os senadores formularam a pergunta? Com certeza, porque deram voz à sociedade.
Houve tempos em que se questionou se negros e mulheres (também discriminados) poderiam figurar nas fileiras fardadas. Hoje os homossexuais estão na berlinda. Nos Estados Unidos, país marcado pela intolerância, ocorre o mesmo. Comissão estuda o ingresso na caserna de gays assumidos. Atualmente só os que adotam a política do “não mostre e não fale” têm as portas abertas. Que tal uma comparação? Na Dinamarca, a rainha convida casais gays para dividir a mesa de jantar com a realeza. Ali a pergunta dos senadores não seria nem ventilada. Em suma: o general verbalizou a verdade que Suas Excelências conhecem pra lá de bem. Por que a reação? “Temos preconceito de ter preconceito”, responde Florestan Fernandes.
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