Seu, sua: xô!

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Esta frase gerou proveitoso debate no Twitter: “Veja fotos da naja que picou estudante em sua nova casa no Zoo de Brasília”. O enunciado está sintaticamente correto. Mas é ambíguo. Casa de quem: do estudante ou da cobra? O responsável pelo duplo sentido é o pronome sua. Melhor livrar-se dele: Veja fotos da naja que picou estudante na nova casa dela no Zoo de Brasília.

Sobre seu e sua

Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam
senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à
declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É
o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus.

Ele chegava antes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do
computador. De repente, não mais que de repente, mudou o comportamento.
Passou a fazer o que todos fazem: obedecer ao horário.

Intrigado, o diretor contratou um detetive para decifrar o mistério. Dois
dias depois, o espião trouxe a resposta:

— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o seu carro, vai até sua casa, namora
sua mulher, come a sua comida, bebe o seu vinho, fuma seus charutos cubanos
e volta ao trabalho.

O diretor, satisfeito, achou tudo normal. O investigador pediu licença para
mudar o pronome. Eis o que deu:

— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai até tua casa, namora
tua mulher, come a tua comida, bebe o teu vinho, fuma teus charutos cubanos
e volta ao trabalho.

Outro exemplo

O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à
aprovação das reformas.

Esforço de quem? Dos parlamentares? Do presidente? A frase é ambígua.
Permite dupla leitura. O que fazer? Partir para o troca-troca. Substituir
seu pelo pronome dele:

O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele (ou
deles) levaria à aprovação das reformas.

Xô! Xô! Xô!

Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite
confusões. Não o use com:

1. as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua
perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.

2. os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs
os óculos. Vestiu a saia.

3. as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua
consciência). Mudou a mentalidade.Alterou o comportamento.

Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é
desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal.
Perdeu as (suas) chaves.

É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.

Dad Squarisi

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