Seu e sua: livre-se dos inimigos da clareza

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Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus.

Ele chegava entes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do computador. De repente, não mais que de repente, mudou o comportamento. Passou a fazer o que todos fazem: obedecer ao horário.

Intrigado, o diretor contratou um detetive para decifrar o mistério. Dois dias depois, o espião trouxe a resposta:

— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o seu carro, vai até sua casa, namora sua mulher, come a sua comida, bebe o seu vinho, fuma seus charutos cubanos e volta ao trabalho.

O diretor, satisfeito, achou tudo normal. O investigador pediu licença para mudar o pronome. Eis o que deu:

— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai até tua casa, namora tua mulher, come a tua comida, bebe o teu vinho, fuma teus charutos cubanos e volta ao trabalho.

Outro exemplo

O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à aprovação das reformas.

Esforço de quem? Dos parlamentares? Do presidente? A frase é ambígua. Permite dupla leitura. O que fazer? Partir para o troca-troca. Substituir seu pelo pronome dele:

O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele (ou deles) levaria à aprovação das reformas.

Xô! Xô! Xô!

Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite confusões. Não o use com:

  1. as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.
  2. os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs os óculos. Vestiu a saia.
  3. 3. as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua consciência). Mudou a mentalidade. Alterou o comportamento.

Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal. Perdeu as (suas) chaves.

É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.

Dad Squarisi

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