Dad Squarisi // dad.squarisi@@correiobraziliense.com.br
Dois touros disputavam o pasto. Enfrentavam-se com ferocidade. Chifradas pra lá, coices pra cá, sangue pra todos os lados. Perto dali, rãs que observavam o confronto deliciavam-se com a violência dos ataques. Aplaudiam a queda de um ou de outro oponente. Torciam por golpes sempre mais cruéis. Era espetáculo de gladiadores que lembrava os velhos tempos da velha Roma. Uma rã velha assistia a tudo com apreensão. Questionada, respondeu:
— Seja quem for o vencedor, sobrará pra nós.
Assim foi. O vitorioso não perdeu tempo. Levou a família, os auxiliares, os amigos, os puxa-sacos pro pequeno território. Os brutamontes pisavam sem olhar pro chão. As rãs se safavam como podiam. Muitas foram esmagadas. As sobreviventes viviam em pânico, cientes de que, cedo ou tarde, chegaria a vez delas. O touro derrotado fez as malas e se mandou. Fixou residência em Paris.
A fábula remete a Gaza. De um lado, o Hamas. De outro, Israel. No meio, a população civil. Numa tripinha de 45km, 1,5 milhão de pessoas se amontoam. Nada menos de 45% delas são menores de 14 anos. Segundo a ONU, 1/3 das vítimas de balas, bombas e mísseis são crianças. Pais e filhos há muito sofrem os efeitos do conflito. Encurralados em campo de concentração, sobrevivem com a ração distribuída pela ONU. O índice de desnutrição é elevado.
O mundo assiste à tragédia com jeito de quem não tem nada com isso. Líderes dão declarações e fazem discursos diplomáticos. Esquecem-se de pormenor pra lá de incômodo. O sangue infantil que ensopa as ruas de Gaza não será lavado pela chuva. Sessenta anos de guerra demonstram que fará germinar sementes de ódio na França, na Alemanha, na Austrália, no Marrocos, em Nova York, em Bali, em Londres, em Bombaim, em Madri. As crianças sobreviventes guardarão na memória as cenas de horror. Parentes e simpatizantes também. Cobrarão o preço.
O vencedor? Em guerra urbana dessa desproporção, só haverá derrotados. O Hamas dirá que humilhou um dos exércitos mais poderosos do mundo. Engrossará as fileiras e continuará a lutar pela liderança palestina. Ehud Olmert deixará o governo de Israel depois das eleições de 10 de fevereiro. Antes de sair, quer limpar a ficha manchada pelo fiasco do confronto com o Hesbolah. Como diz a rã sábia, vai sobrar pra nós.
(Artigo publicado na edidoria de Opinião do Correio Braziliense)
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