Por que escrevemos hospital com h? Porque gravamos a grafia da palavra. De tanto vê-la em placas, livros, revistas e cartazes, memorizamos a cara da danadinha. E o h aparece naturalmente em cartas, relatórios, reportagens.
A conclusão é uma só. Quem lê ganha familiaridade com a língua escrita. Quem lê mais ganha mais familiaridade. A criança, quando se alfabetiza, faz uma saladinha de letras. Troca umas por outras. Engole algumas. Abusa de várias. Com a prática, retém a forma do vocábulo. E vira íntima do dicionário.
Paulo serve de exemplo. Ele adora ouvir rádio. Sem muito o que fazer, participa de todos os programas de interação com os ouvintes. Outro dia, se interessou pela promoção da Rádio Comunitária de Sorocaba. Quem construísse uma frase com uma palavra que não existisse no dicionário ganharia duas entradas para o cinema. Ele não pensou duas vezes. Ligou:
Locutor: — Alô, quem fala?
Ouvinte: — Sérgio, do Jardim Magnólia.
Locutor: — Olá, Sérgio. Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?
Ouvinte: — A palavra é vaice.
Locutor: — Vaice? Como se escreve?
Ouvinte: — v-a-i-c-e.
Locutor: — Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. É… Realmente essa palavra não existe. Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.
Ouvinte: — OK, lá vai. Vaice coçar.
E desliga o telefone. O locutor não desanima. Vai em frente:
— Que é isso, pessoal? Vamos colaborar. Afinal, existem crianças ouvindo. Vamos tentar outra ligação. Alô, quem é?
Ouvinte: — Joselito, do Peroba.
Locutor: — Olá, Joselito. Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?
Ouvinte: — Eudi.
Locutor: — Eudi? Como se escreve?
Ouvinte: — e-u-d-i.
Locutor: — Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. Eudesmano, eudesmol, eudésmia, eudiapneustia, eudiapnêustico… É, realmente essa palavra não existe. Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.
Ouvinte: — OK, lá vai. Sou eudi novo. Vaici coçar.
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